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Mulher no esporte é resistência

Leia o artigo de Isabel Swan, Coordenadora da área Mulher no Esporte do COB e medalhista olímpica na vela em Pequim 2008

Por Comitê Olímpico do Brasil

29 de out, 2021 às 07:00 | 7 min de leitura

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O que é ser uma mulher que vive o esporte? Mulher no esporte é resistência, é querer mais, é não se contentar com crenças limitantes e deixar que, muitas vezes, restrições te impeçam de seguir em frente. É querer provar para si, por meio do esporte, o quão forte e capitã da sua própria vida podemos ser. Vejo nas mulheres atletas uma força de verdade, uma força de vontade, que supera qualquer limitação que a vida possa ter imposto, especialmente as mulheres Olímpicas – além das atletas, estendo esse ímpeto e “atrevimento” às treinadoras, árbitras e gestoras esportivas. 

Assumi a coordenação da área da Mulher no Esporte no Comitê Olímpico do Brasil e minha função fundamental é buscar a garantia de espaço, de valorização, de voz, de capacitação, de decisão da mulher. Estou trabalhando para criar mais oportunidades para as mulheres que estão envolvidas no Movimento Olímpico brasileiro. Procuro desenvolver ações que possam gerar impacto positivo para todas aquelas que ousam ter voz e representatividade no meio esportivo - formado em sua maioria por homens. Hoje, meu barco navega firme em prol de águas de equidade, confiança, performance e inclusão através do esporte.  

E essa luta vem de longa data. Há cerca de 80 anos tínhamos um decreto-Lei que não permitia a prática esportiva entre as mulheres, pois apontava incompatibilidade da "natureza feminina" com os esportes. De 1965 a 1979 não era permitida a prática de lutas de qualquer natureza por elas, assim como outros esportes. Essas medidas, sem dúvida, deixaram marcas em nossos resultados esportivos e no engajamento de mais mulheres no esporte brasileiro. 

Somente em 1996, as atletas brasileiras conquistaram a primeiras medalhas olímpicas femininas do Brasil. E isso foi apenas há 25 anos. Eu era uma menina e ainda lembro perfeitamente do quanto torci e me inspirei com Hortência, Magic Paula, Jackie e Sandra! O esporte feminino do Brasil é muito recente. Nesse sentido, o potencial da mulher brasileira esportista é enorme. Temos muitas possibilidades de pioneirismo, quebra de recordes e, o mais importante, a possibilidade de impactar e desenvolver. Quando uma mulher vence, ela influencia uma corrente de outras meninas a seguirem os mesmos passos. Isso é sororidade. Quanto mais dermos espaço para essas histórias ecoarem e repercutirem, mais meninas vão se sentir encorajadas a seguirem e a enxergarem o esporte como uma real oportunidade de carreira. Mas para isso é imprescindível termos um ambiente seguro, livre de discriminação, com inclusão e respeito. Preceitos básicos e fundamentais do Olimpismo. 

O esporte ensina as principais ferramentas para a vida: a coragem de cair e levantar, de aprender com os erros, de se superar. Respeitar seu adversário. Ter disciplina, buscar o aperfeiçoamento e querer mais. Muitas vezes, a mulher tem dificuldade de ter o espaço garantido para o desenvolvimento de suas qualidades. O ambiente pode ser hostil ou desestimulante.  

Quando a mulher desperta e realmente usa suas potencialidades por inteiro, se sente livre, valorizada e leva seu “barco onde quiser”. E o empoderamento se enraíza. Como velejadora olímpica que fui, aprendi algumas lições e hoje vejo como o esporte pode ajudar as meninas a navegar na vida, dentro e fora da água.

A primeira delas é poder expandir a crença e a confiança com o “eu posso”. Pelo esporte, criamos ferramentas que nos desafiam e nos levam a conquistar a mentalidade do "eu quero tentar, mesmo que eu tenha dificuldade". Quando uma mãe inscreve sua filha em aulas de esporte, ela está dando mais do que uma atividade para passar o tempo ou uma oportunidade de aprender uma nova habilidade. Está dando um oceano cheio de perspectivas. 

Acredito que os principais pontos trabalhados pelo esporte são: autossuficiência; trabalho em equipe e liderança; mecânica (lidar com equipamentos esportivos); e lidar com adversidade. A mulher passa a colher confiança com o esporte, a comandar seu próprio barco. Outra oportunidade que o esporte proporciona é aprender na prática sobre o trabalho em equipe e a liderança, como se comunicar com eficácia e ser um bom membro do time.

Enfrentar as adversidades é outro ponto importante. A paciência é uma necessidade porque as coisas nem sempre saem como planejado. Às vezes, simplesmente perdemos ou o equipamento esportivo quebra. Aprender a enfrentar curvas inesperadas, cultivar a capacidade de se adaptar e prosperar independentemente das circunstâncias são lições que o esporte me ensinou. 

E o que falar do equilíbrio e possibilidade de contato com a sua própria natureza? A mulher atleta tem oportunidade de entender melhor seus ciclos, otimizar períodos de força, aprender com o próprio corpo, buscando evoluir, lendo os sinais que ele manda, procurando um equilíbrio e, ao mesmo tempo, alta performance. E se você conquistar uma medalha, aí a mágica acontece: a materialização de sonhos. 

Para concluir, o esporte para as mulheres de todas as idades pode representar uma sala de aula dedicada a fomentar a autoconfiança. O tipo de confiança que vem com conquistas individuais e triunfos compartilhados. O tipo de confiança baseada no aprendizado de uma habilidade que ficará gravada por toda a vida. O tipo de confiança e lições que irão sempre ajudá-la a “navegar” nas belas e turbulentas águas da vida.


Isabel Swan

Coordenadora da área Mulher no Esporte do COB e medalhista olímpica na vela em Pequim 2008


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