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"Além do que se vê": Fabi Alvim abre o II Fórum Mulher no Esporte com palestra inspiradora e provocativa

Bicampeã olímpica compartilha experiência e incita reflexões em evento do Comitê Olímpico do Brasil

Por Comitê Olímpico do Brasil

15 de abr, 2025 às 15:27 | 5 minutos de leitura

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Bicampeã olímpica Fabi Alvim abre 2º Fórum Mulher no Esporte com palestra "Além do que se vê" (Foto: Helena Barreto/COB)

O Comitê Olímpico do Brasil deu o pontapé inicial para o II Fórum Mulher no Esporte nesta terça-feira, 15, com palestra de abertura da bicampeã olímpica Fabi Alvim. Na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, sob o título "Além do que se vê", a ex-jogadora de vôlei conduziu uma reflexão profunda sobre os desafios e avanços da mulher no cenário esportivo, compartilhando detalhes de seu início e a caminhada no esporte.

 

“Já aviso que é um dia pra gente ficar desconfortável, compartilhar, debater”, iniciou Fabi, preparando o terreno para um dia de discussões relevantes. A bicampeã olímpica deixou claro que sua intenção era ir além das conquistas esportivas em si, buscando provocar reflexões sobre as estruturas e barreiras que ainda permeiam o universo feminino no esporte. “Eu escolhi trazer discussões. Vim tentar trazer provocações e falar um pouco além do esporte”, afirmou.

 

Compartilhando suas próprias vivências, Fabi relembrou a infância e citou a solidão por ser a única menina a jogar futebol com os meninos na rua, uma experiência que a fez perceber cedo a distinção entre "esporte de menino e de menina". Essa lembrança pessoal serviu de gancho para apresentar dados alarmantes: 26% dos homens têm mais chances de praticar esportes, enquanto meninas e mulheres são 6 vezes mais propensas a desistir da atividade esportiva por não terem o suporte necessário.

 

A bicampeã olímpica também compartilhou suas estratégias para criar suas próprias oportunidades em um ambiente predominantemente masculino. No início da sua trajetória no vôlei, quando as oportunidades eram escassas, ela se oferecia para marcar o placar dos jogos, garantindo sua presença nas quadras. Se faltava alguém, ela estava pronta para jogar, mesmo que fosse apenas para "equilibrar o jogo" como "café com leite".

 

Fabi recordou o marco de 1992, quando o vôlei brasileiro masculino conquistou o ouro olímpico, gerando um "boom" na modalidade e um aumento significativo no número de escolinhas e no interesse pelo esporte. Foi nesse contexto que ela procurou o voleibol e, em 1996, começou a ter referências femininas. Fabi, com 1,66m e na posição de atacante até os 18 anos, se inspirou especialmente em jogadoras como Mireya Luis, a famosa cubana tricampeã olímpica de 1,75m, e Shelda, duas vezes medalhista de prata em Jogos Olímpicos, de 1,65m. “Você precisa ver para ser”, frase de Billie Jean King, estampou o telão de Fabi.

 

A bicampeã olímpica seguiu falando sobre a evolução do esporte feminino a partir de ídolos como Hortência, Isabel Salgado e Aída dos Santos, e a evolução (ainda que lenta) do reconhecimento do protagonismo feminino no esporte na cobertura da imprensa. Como exemplo, exibiu uma manchete de 2004 com o título “Seleção feminina ‘imita’ os homens e vence a Itália por 3 sets a 2”, enquanto uma reportagem recente de 2024 trazia o título "Protagonismo feminino marca participação brasileira nos Jogos Olímpicos Paris 2024 e evidencia trabalho especial do COB" e falava sobre a grande maioria de medalhas conquistadas por mulheres - incluindo os três ouros do Brasil - e o avanço no caminho pela equidade de gênero. Fabi celebrou: “Maria Lenk jamais imaginou o que ia acontecer em Paris”.

 

Dados contundentes que ilustram a constante disparidade na representatividade feminina no esporte também foram apresentados. Segundo informações levantadas pela bicampeã olímpica, apesar de as mulheres representarem 52% da população, apenas 4% do conteúdo da mídia esportiva é dedicado a elas. Além disso, somente 12% das notícias esportivas são apresentadas por mulheres. A desigualdade econômica também se manifesta de forma drástica: em 2020, apenas duas atletas mulheres figuravam entre os 100 mais bem pagos do mundo, e em 2024, nenhuma mulher constava nessa lista. No que se refere à liderança técnica, Fabi apontou que apenas 13% das treinadoras credenciadas nos Jogos Olímpicos são mulheres, evidenciando a necessidade de maior representatividade feminina em todas as esferas do esporte. Fabi foi ovacionada ao encerrar sua palestra depois de mostrar mais uma vez a razão de estar entre as tantas referências de mulheres incríveis que citou.
 

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