Logo
Jogos da Juventude

Dono de 7 ouros nos Jogos da Juventude, Lúcio Flávio visa ampliar representatividade de nadadores negros nos Jogos Olímpicos

"A gente vem conquistando o nosso lugar e mostrando ao que veio", comemora o nadador paulista de 17 anos

Por Comitê Olímpico do Brasil

20 de nov, 2024 às 19:30 | 8 minutos de leitura

Compartilhe via:

O paulista Lúcio Flávio de Paula Filho é um dos grandes nomes dos Jogos da Juventude CAIXA João Pessoa 2024. O nadador de São Paulo terminou a competição com sete medalhas de ouro. Além da performance nas provas de velocidade, ele se destaca entre os outros atletas da modalidade pela cor da pele. Nadadores negros de elite ainda são artigos raros no Brasil. Lúcio Flávio é um dos potenciais para mudar essa realidade.

“Neste ano, realizei muitos sonhos. Integrei a minha primeira seleção brasileira e consegui vaga para estudar na Universidade de Tennessee, nos Estados Unidos. Fico muito orgulhoso de mim, dos meus técnicos e da minha família por me apoiarem, mas temos muito pela frente. Tenho 17 anos ainda e quero ir para as Olimpíadas, conquistar uma medalha olímpica. As minhas conquistas deste ano são só o começo para mim. Temos muito a conquistar”, almeja Lúcio Flávio, especialista nas provas de 50m e 100m borboleta.

O nadador de São Paulo foi campeão das sete provas que disputou no principal evento multiesportivo do país para jovens de até 17 anos, organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB): 50m borboleta, 100m borboleta, 100m livre, 4x50m livre, 4x100m livre, 4x100m livre misto e 4x100m medley. O desfecho de tantas conquistas foi nesta quarta-feira, 20 de novembro, justamente Dia da Consciência Negra, que se tornou feriado nacional em 2023.

Aos 17 anos, o jovem nadador de 1,90m de altura e aparelhos nos dentes já distribui autógrafos entre colegas de outros estados dos Jogos da Juventude. Atencioso e sorridente, Lúcio espera que os fãs e a tietagem só aumentem. Afinal, ele sonha ampliar a representatividade de nadadores negros do Brasil a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos. O país conta com apenas um medalhista olímpico negro nas piscinas. Edvaldo Valério, de Salvador, ganhou o bronze nos 4x100m livre nos Jogos Olímpicos Sydney 2000.

“Acho bem importante ter essa representatividade, porque não vemos muitos negros em destaque na natação. Perceber que nadadores negros estão melhorando, cada vez mais, é gratificante para mim. Eu fico muito feliz, porque a gente vem conquistando o nosso lugar e mostrando ao que veio. Cada vez, eu fico mais feliz com isso”, orgulha-se Lúcio Flávio.

Para ampliar as conquistas brasileiras de nadadores negros, porém, Lúcio cobra mais estrutura para que a natação se torne acessível a mais pessoas. “Ainda falta oportunidade. Não temos muitas piscinas públicas no Brasil. Isso influencia muito. Toda escola deveria ter uma piscina para ter condição de, pelo menos, dar oportunidade de encontrar talentos com potencial para a natação. Querendo ou não, só pode ir para uma piscina quem consegue pagar um clube ou ser sócio de um”, critica o jovem nadador do Pinheiros.

Sérgio Silva, coordenador da natação dos Jogos da Juventude, sabe bem que o caminho para desenvolver talentos é ampliar as oportunidades. Afinal, foi assim que ele descobriu Edvaldo Valério, o primeiro nadador negro a representar o Brasil em Jogos Olímpicos e o único a ganhar uma medalha.

“Meu pai e meu irmão fizeram uma piscina de 20m por 10m em uma casa no bairro de Itapuã, em Salvador, onde meu pai começou a dar aula de natação para crianças carentes. Um dia ele me avisou que tinha um menino muito ligeiro lá. Era o Edvaldo Valério, bem novinho ainda”, conta Sérgio.

Depois que Edvaldo conseguiu a classificação olímpica, Sérgio conta que foi a várias faculdades da Universidade Católica de Salvador, onde era professor, para convidar os melhores alunos e alunas de Educação Física, Fisioterapia, Fisiologia e, assim, montar a equipe multidisciplinar que trabalhou na preparação do Edvaldo para competir nos Jogos Olímpicos Sydney 2000.

“Esqueça preconceito de cor. Termos mais nadadores negros de alto rendimento é uma questão de oportunidade”, ressalta Sérgio. “Aqui, nos Jogos da Juventude, vemos vários talentos despontando, como o Lúcio Flávio Filho e o Kauã Pereira, de São Paulo; o Paulo Vítor Jesus, do Maranhão, que foi prata nos 400m livre com apenas 15 anos e ainda tem muito por crescer; a  Stefany Amorim, também do Maranhão”, lista o coordenador da natação dos Jogos da Juventude, cheio de orgulho e esperança para ver sucessores de Edvaldo Valério em cima do pódio de grandes competições internacionais de natação.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS