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Renan Dal Zotto

Renan Dal Zotto

modalidade

Vôlei

data e local de nascimento

19/07/1960

São Leopoldo

edições dos jogos olímpicos

1980

1984

1988

2020 (treinador)

BIOGRAFIA

Títulos impressionantes como “Jogador de vôlei do século 20”, “Melhor jogador do mundo”, “Jogador mais espetacular do mundo”, “Melhor defesa do mundo” e “Melhor atacante do mundo” já foram atrelados ao nome de Renan Dal Zotto. Coimo jogador, ele participou de três edições de Jogos Olímpicos (Moscou 1980, Los Angeles 1984 e Seul 1988). Atacante da ""Geração de Prata"", ajudou a transformar o vôlei mundial.  

""O Renan faz parte de um grupo de jogadores diferenciados. O voleibol é composto por seis fundamentos: saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa, e o Renan fazia tudo isso muito bem. Um jogador completo, tremendamente habilidoso e muito dedicado”, avalia Antônio Carlos Moreno, que defendeu o Brasil em quatro edições dos Jogos Olímpicos, e era capitão da seleção quando Renan chegou ao time.  

“Ele foi um jogador completo, versátil, capaz de atuar em diversas posições, realizar funções que poucos ou quase ninguém conseguia”, reforça Bernardinho, ex-técnico da seleção brasileira e companheiro de ""Geração de Prata"". 


Paixão pelo futebol, talento para o vôlei 

Renan ainda era menino quando a seleção brasileira de futebol conquistou o tricampeonato na Copa do México, em 1970. Aos 10 anos, ele calçou as chuteiras e foi treinar na escolinha de futebol do Grêmio, buscando aperfeiçoamento. “Eu adorava futebol”, diz.  

O futuro do garoto no esporte passou a tomar outro rumo quando ele começou a jogar vôlei nas aulas de educação física na escola. “Passei a brincar de vôlei também no recreio. Depois vieram os treinos, no final da tarde, depois do turno escolar”, lembra. Uma nova paixão havia chegado para ficar.  

Renan conta que ficou um ano ou dois treinando na escola, até que o seu professor, João Batista dos Santos, o levou para treinar no clube. “Esse professor foi a primeira grande influência de voleibol na minha vida. Ele era o treinador da Sogipa também. Levou alguns garotos do colégio para treinar no clube e, dali para frente, eu nunca mais parei”, celebra.  

O futuro “Jogador de vôlei do século 20” começou a treinar em todas as categorias com o técnico João Batista. Vieram as primeiras competições, os primeiros Jogos Estudantis e, em pouco tempo, a primeira convocação para a seleção gaúcha. “Quando joguei a minha primeira competição juvenil, em Campinas, em 1976, fui eleito o melhor jogador do campeonato. Eu tinha 16 anos e fui convocado para a seleção brasileira”, divide. 

Paparicado 

Renan Dal Zotto nasceu em 19 de julho de 1960, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Filho do meio de Radamés Luiz, proprietário de uma loja de autopeças e apaixonado por peladas de futebol, e da cabeleireira Tereza, o menino cresceu sendo paparicado pelas irmãs Magda e Giovana.  

“Quando eu era garoto, elas iam me buscar no treino e na escola. Eu sentia a maior vergonha”, confessa Renan, destacando que ganhou a terceira irmã com o nascimento de Carolina, fruto do segundo casamento do pai. Quando se tornou o jogador preferido das tietes, nos anos 80, as irmãs o ajudavam respondendo todas as cartinhas. “Eram muitas cartas que chegavam pelo Correio e eu só assinava. Elas respondiam com o maior carinho”.   

Um pouco antes de ser convocado para a seleção, Renan e o time da Sogipa foram levados pelo treinador para assistir ao amistoso entre Brasil e Japão, em Porto Alegre. Na quadra estava a equipe brasileira que disputaria os Jogos Olímpicos Montreal 1976. O jovem jogador ficou impressionado.  



“Eu falava: Caramba! Voleibol é totalmente diferente daquilo que a gente faz aqui. Era uma violência, era uma velocidade... Pensava: Meu Deus do céu, nunca vou conseguir chegar a esse nível”, recorda. “O cara que mais me chamava a atenção era o Bernard. Eu fiquei olhado a velocidade de perna, do braço dele, o salto. E, no mesmo ano, eu estava jogando com ele no Sul-americano em La Paz, na Bolívia. Ele foi para os Jogos e, depois, e eu tive a oportunidade de jogar com ele a minha primeira competição. Foi muito impactante para mim”.  

Frio na barriga 

Acostumado à rotina tranquila de escola, clube e competições locais, Renan se assustou bastante com a primeira convocação para defender o Brasil. “Fiquei meio em pânico porque eu era um garoto que tinha saído uma vez só do Rio Grande do Sul. Fiquei sempre ali, no meu mundo e, de repente, fui convocado para uma seleção brasileira para treinar no Rio de Janeiro”, revela ele, lembrando que, naquela época, ninguém pensava em viver do voleibol. “A gente tinha só o orgulho e o prazer de poder jogar pelo Brasil. O vôlei não era profissionalizado”, pontua. 

Como a maioria dos jogadores, Renan sonhava ter uma profissão, por isso, conciliava o voleibol com os estudos desde a adolescência. “Meu sonho era ser arquiteto, eu fiz dois anos e meio de Arquitetura. Depois, fui morar no Rio de Janeiro, fiz um semestre de Engenharia Civil, mas não consegui acompanhar. Mudei para Educação Física, fiz dois anos. Fui pulando de galho em galho e, por fim, fiz os cursos e tirei o CREFI provisionado para poder militar como treinador”, detalha.  

Levantador reserva 

Depois de conquistar a medalha de bronze no primeiro Campeonato Mundial juvenil, no Rio de Janeiro, em 1977, Renan disputou a Copa do Mundo adulta no mesmo ano. Em 1978, estreou no Campeonato Mundial com a seleção principal, em Roma, na Itália, jogando como levantador.    

“Eu fui como levantador, era reserva do William, mas adorava atacar. Aí o Moreno (Antônio Carlos Moreno, capitão da seleção) me chamou e disse: ‘Cara, vai para atacante que você vai se dar bem!’ Eu fui e foi a melhor coisa que eu fiz, porque depois o nível de concorrência dos levantadores subiu bastante. O sarrafo sempre foi muito alto, desde a época do Bebeto, depois William, Ricardinho, Maurício, passando por todos os que foram campeões, o nível foi lá em cima. Ainda bem que eu fui ser atacante e fiz uma trajetória dentro da seleção até os Jogos em Seul”, compartilha.   

Versátil 

Renan mostrava excelência em todos os fundamentos. A versatilidade que fez toda diferença na carreira foi fruto de treinamentos exaustivos. “Eu devo isso ao professor João Batista, ele me estimulava a treinar todos os fundamentos e a desenvolver todas as habilidades possíveis. A gente treinava demais. Ele mesmo falou que eu tinha condições de ser levantador. Eu gostava também daquilo, tanto que no Mundial juvenil, em 1977, nós jogávamos num formato totalmente diferente, que era 3-3, três levantadores e três atacantes. Só que os levantadores também atacavam, e eu era um deles”, explica Renan Dal Zotto.  

“Na época era diferente. Hoje o oposto só ataca naquelas posições. Na época você tinha uma versatilidade maior, vários jogadores poderiam jogar tanto de ponteiros como opostos, não existia o líbero, então até os centrais tinham que passar. Montanaro, Xandó, Renan e Bernard se destacavam por serem versáteis, e o Renan talvez fosse o mais completo de todos eles”, destaca William Carvalho da Silva, capitão da ""Geração de Prata"".  

Renan lembra que depois de atuar como atacante de ponta e oposto durante a carreira inteira no Brasil, voltou a ser levantador na Itália. “Nosso levantador titular se machucou, e eu acabei assumindo a titularidade como levantador depois de velho. Foi muito importante para a minha carreira, como crescimento profissional, ter desenvolvido mais habilidades”, conclui.  

Estreante na União Soviética 

Renan tinha 20 anos quando fez sua estreia em Jogos Olímpicos, em Moscou 1980. “Eu me lembro que antes dos Jogos a gente foi para a Itália e para outros países treinar. Tudo aquilo era muito novo para mim. Em Moscou, tudo era muito rígido, muito cheio de regras, aquilo era muito impactante. Como a gente era muito jovem, e o Brasil nunca ia como candidato a ganhar os Jogos Olímpicos, era tudo um grande aprendizado”, relembra. 

A seleção terminou em quinto lugar, mas a competição ficou para sempre marcada na memória do estreante. “Foi muito emocionante a cena em que o ursinho Misha apareceu num mosaico chorando na Cerimônia de Encerramento. É uma imagem que eu tenho muito forte dessa minha primeira participação”, compartilha.   


Renovação e profissionalização 

O quinto lugar em Moscou foi o melhor resultado do voleibol masculino em Jogos Olímpicos até então. Mas apesar do talento da equipe, faltavam intercâmbio e uma estrutura profissional.  

“Muita gente diz que o vôlei do Brasil começou com a 'Geração de Prata', mas isso não é verdade. Nós tivemos grandes exemplos antes, como o Moreno, nosso saudoso Suíço, Fernandão e Bebeto, que eram atletas de um nível muito alto, mas não tinham suporte para treinar profissionalmente”, analisa.  

Em 1981, houve uma renovação na equipe e os resultados começaram a aparecer em razão da estrutura profissional que começou a ser construída. Naquele ano, o vôlei masculino brasileiro conquistou seu primeiro pódio internacional: foi terceiro lugar na Copa do Mundo, no Japão.  

Foi o início da entrada de algumas marcas importantes como patrocinadoras do vôlei e das concentrações antes das disputas. “Os gestores da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) da época ofereceram uma estrutura top. Naquela época, a gente dependia muito das Forças Armadas, que até hoje nos dão um apoio muito grande. A gente treinava, se concentrava, se alimentava, tudo dentro de instalações do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Foi muito importante para a gente. Começaram os treinamentos centralizados com concentração por um período mais longo para cada competição”, recorda Renan.   

1982, o ano da virada 

Em 1982, foi realizado o Mundialito, no Ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo pela TV. O Brasil conquistou o título derrotando a então União Soviética, campeã olímpica em 1980, por 3 a 2.  

Meses depois, a seleção foi à final de Campeonato Mundial, pela primeira vez, na Argentina. A União Soviética sagrou-se campeã, vencendo a partida por 3 a 0. “O vôlei ali estourou! 1982 foi o ano em que o voleibol veio, realmente, para ficar no Brasil. Não só de resultados, mas como a modalidade que mexia com as famílias, com os jovens”, afirma Renan. “Eu tenho algumas matérias, mostrando a quantidade de redes de vôlei que havia no parque do Ibirapuera. Era impressionante, de árvore em árvore tinha uma rede. Nas praias do Rio de Janeiro era só voleibol. Nas praças de Porto Alegre também. A voleimania tomou conta do Brasil. Os resultados começaram a aparecer e houve todo um projeto por trás para que isso acontecesse. Em 1982, foi o ponto alto do voleibol, que se transformou aqui no Brasil. E aquilo ali mexia com a gente”, confessa.  

Renan conta que, naquele mesmo ano, num domingo de manhã, acordou com o barulho da garotada gritando, na quadra embaixo da sua janela. “Eu escutava frases do tipo: ‘Sacou Xandó, passou Renan, levantou William, atacou Amaury. Ponto do Brasil!’ Eu falei para o Marcos Vinícius, que jogava na Atlântica Boa Vista e dividia o quarto comigo: Eles estão falando da gente! Caramba! Cara que é isso? Era sempre futebol que eu ouvia ali embaixo. De repente, eu comecei a ouvir esses garotos. Sempre que me perguntam em que momento você acha que o voleibol estourou no Brasil? Eu respondo que foi ali. Para mim aquele foi um momento muito significativo. Eu falei, cara, o vôlei chegou para ficar!”, festeja. 

Grande Desafio do Vôlei – Brasil x URSS 

Na onda da voleimania e a partir dos resultados das últimas partidas entre Brasil e União Soviética, surgiu a ideia do Grande Desafio do Vôlei, realizado numa quadra montada no Estádio do Maracanã. Seria uma espécie de tira-teima, já que o Brasil havia vencido o Mundialito e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) ficara com o título mundial.  

“O voleibol deve muito a três visionários: o Carlos Arthur Nuzman (então presidente da Confederação Brasileira de Vôlei), o Antônio Carlos de Almeida Braga, o “Braguinha” (empresário que sempre investiu no esporte), e o Luciano do Valle (empreendedor e locutor da TV Bandeirantes), que comprou a ideia e levava o voleibol para dentro da casa de todo mundo. Acho que cada um teve a sua parcela importante: os gestores, acreditando no projeto, as empresas investindo no voleibol e a imprensa dando uma cobertura fantástica. Um grupo de atletas, uma comissão técnica de malucos, fazendo o que era possível, o que fosse necessário para a coisa acontecer”, destaca Renan.  

O jogo foi marcado para 19 de julho, dia do aniversário de Renan, mas cancelado devido às fortes chuvas. Sete dias depois, em 26 de julho, o tempo estava bom e a partida foi confirmada. “No Maracanãzinho, no Ibirapuera, no Gigantinho, a gente colocava 10 mil, 12 mil pessoas. Só que 10 mil pessoas no Maracanã, o Maraca das antigas, não era nada. O nosso maior medo era esse: Meu Deus do céu, ter só 10 mil pessoas no Maracanã vai ser um vexame!”, divide.  

“Nós estávamos no vestiário, e tínhamos muita angústia sobre se tinha gente ou não no estádio. Ninguém falava nada. Eu me lembro perfeitamente a hora em que eles começaram a chamar, um por um, no túnel do futebol. Número 1 Bernardinho, 2 Xandó... E cada um entrava na hora que chamavam. 4 Montanaro, 5 Ruy, 6 Renan. Quando eu entrei e vi aquilo, falei: Meu Deus do céu!!! Tinha 96 mil pagantes mais convidados, estava beirando 100 mil pessoas. A Rússia também estava incrédula com tudo aquilo. O que foi aquilo?”  

De repente, começou a chover, o jogo foi interrompido e todos os jogadores começaram a ajudar a secar a quadra. “Todo mundo secando o chão, tentando jogar sem tênis para não escorregar. Os próprios russos falaram: ‘Nós vamos ter que jogar, a gente não pode ir embora e deixar 100 mil pessoas aqui. Foi um momento único! Alguém teve a ideia de colocar carpete no piso, pegaram lá de dentro dos vestiários e colocaram. Ajudou um pouco. E hoje eu vejo o último ponto, que foi até um bloqueio do Bernard, e nós vencemos por 3 a 1. Mas se você me perguntar: ‘Foi bom ter vencido?’ Pouco importa! Diante daquilo ali, tudo o que a gente queria era jogar. Os russos também. Pouco importava quem ia ganhar. Todo mundo se empenhou para dar aquele presente para o público brasileiro que estava ali. Ninguém arredou o pé. A imagem do último ponto, a televisão mostra, em câmera aberta, o estádio lotado, com bandeiras. Esse jogo foi muito emblemático”, empolga-se.   

No mesmo ano, o Brasil sagrou-se campeão dos Jogos Pan-americanos em Caracas, na Venezuela. 

O pai do 'Viagem' 

Diferente do saque “Jornada nas Estrelas”, criado por Bernard, que foi a sensação do Grande Desafio, mas encontrou como obstáculo a altura dos ginásios pelo mundo, o saque “viagem ao fundo do mar” ficou conhecido do grande público no Mundial de 1982, revolucionou a história desse fundamento e é utilizado por todos os jogadores, ainda hoje. Mas, afinal, quem é o pai do Viagem? 

“A primeira vez que eu dei o saque viagem na seleção foi em 1982, no Mundial. Na época, a gente já treinava o viagem com a seleção, eu, o Montanaro e o William. E eu comecei a dar esse saque em jogo também”, explica Renan. “Mas eu dei esse saque a primeira vez em 1979, na Sogipa, de Porto Alegre, na final de um campeonato. A gente estava perdendo, aí o treinador me autorizou a dar o viagem no jogo e ninguém conhecia. A gente está juntando alguns documentos, porque na época não havia gravações como hoje. Quem estava no ginásio eram minha mãe e minha irmã. Consegui vários testemunhos de atletas, que depois também foram para a seleção e me viram lá em 1979, quando surgiu o viagem”, esclarece.  



Contundido na hora errada 

Renan Dal Zotto estava vivendo uma grande fase quando, sofreu uma séria contusão durante um amistoso contra a Alemanha, em Salvador, às vésperas dos Jogos 1984. “Eu fui atacar uma bola pelo meio, cai em cima do pé do Amaury e arrebentei meu pé, 15 dias antes dos Jogos Olímpicos. Eu sei disso porque, na narração, o Luciano do Valle fala: ‘15 dias antes dos Jogos Olímpicos!’ Eu comecei a chorar muito, estava fora no meu melhor momento”, revive Renan.  

“Deu muito desespero. Eu não acreditava que eu estava treinando desde 1976, oito anos treinando para chegar nesse momento e torcer o pé, não era justo. Eu fiquei maluco! Eu era titular absoluto e estava vivendo um momento mágico”. 

Mesmo contundido, ele acabou embarcando para Los Angeles, onde se recuperou e conseguiu entrar em quadra a partir da segunda metade da competição. “Não estava nas minhas melhores condições, mas deu para ajudar um pouco”, admite. 

O 'viagem' como arma secreta 

Depois de vencer as duas primeiras partidas contra Argentina e Tunísia, a seleção foi derrotada pela Coreia do Sul e precisava vencer o último jogo da fase de grupos, contra os Estados Unidos, para se classificar às semifinais. “O viagem foi fundamental naquela partida. É um saque que a gente tem muito orgulho de dizer que criou”, alegra-se.  

O viagem foi uma grande surpresa para a equipe norte-americana. “O saque foi superimportante porque a nossa seleção era muito baixa”, analisa o ex-capitão William. “Começavam os ataques de fundo de quadra e o saque era o primeiro objetivo para fazer o ponto. Como foi uma inovação, o mundo teve que adaptar as armações. A gente apareceu inovando para o mundo todo, o viagem complicou”, emenda. 

“Foi um fundamento importantíssimo, foi o diferencial naqueles Jogos, uma inovação brasileira que surpreendeu o mundo. Ninguém estava preparado para receber o saque viagem”, pontua o vice-campeão olímpico José Montanaro Júnior, atacante da ""Geração de Prata"". 

Surpreendidos com a inovação e despreparados para a recepção do viagem, os Estados Unidos perderam a partida por 3 sets a 0, com parciais de 15-10, 15-11 e 15-2.  

“Esse saque não era muito fácil de ser executado, poucos atletas faziam isso, alguns conseguiam, mas não com tanta velocidade, com tanta eficiência, um grau de dificuldade não muito grande que dificultaria o passe. O saque do Renan causava estrago no adversário, dificultava uma boa recepção, ou seja, a consequência do saque viagem era sempre uma jogada mais lenta, mais fácil de ser marcada”, detalha Antônio Carlos Moreno. 



A história foi diferente na final 

Com o boicote da União Soviética aos Jogos de Los Angeles, o Brasil voltou a enfrentar os norte-americanos na final. “E muita gente destaca que a União Soviética não estava lá. Tudo o que eu queira era que eles tivessem porque, nos últimos confrontos, nós ganhamos dois jogos e eles ganharam um. Se eles estivessem lá, nós não estaríamos jogando com os Estados Unidos pela segunda vez”, observa Renan. 

Depois da surpresa no primeiro jogo, o time dos Estados Unidos se ajustou para a final. “Na época, era vantagem ainda, a gente tinha que conquistar o ponto realmente, não era sobre o erro do adversário. Eles jogaram muito bem na final e nós jogamos abaixo”, resigna-se o “pai do viagem”. 

Mesmo com o viagem, o Brasil perdeu a partida por 3 a 0 (15-6, 15-6, 15-7) e sagrou-se vice-campeão olímpico pela primeira vez. Nascia ali a ""Geração de Prata"". “Essa medalha foi importante porque serviu de base para toda uma construção depois. Eu acho que, no lado mental, nós ainda não estávamos preparados para disputar uma final olímpica. Era a primeira edição em que o Brasil ia com condições de disputar o título”, avalia Renan. 

A invenção de Dal Zotto mudou muita coisa na forma de se jogar voleibol. “A partir do surgimento do viagem, a agressividade nesse fundamento fez com que o saque se transformasse numa arma muito importante”, afirma o vice-campeão olímpico Bernardinho, detentor de duas medalhas de ouro, duas de prata e duas de bronze como técnico.  

“Hoje não existe o voleibol masculino sem o saque viagem”, constata William Carvalho da Silva. 

Tristeza no pódio 

À exceção de Bernard, todo o time brasileiro apareceu bem abatido no pódio olímpico. “Era a frustração da perda, não a alegria de ter ganhado a prata. No próprio pódio, depois que o Bernard começou a agitar a bandeira, começou a cair a ficha. Aí abri um pouquinho o sorriso porque, até então, estava todo mundo arrasado, tentando entender o que tinha acontecido”, revela Renan. “Logo na sequência, quando peguei aquele metal pesado na mão, pensei: Olha a importância disso! E a repercussão que teve foi muito grande, incrível, foi sensacional. Hoje, mais do que nunca, tenho o maior orgulho de ter conquistado aquela medalha”.  

O jogador de vôlei do século 20 também ressalta o impacto da medalha de prata para a história do vôlei no Brasil. “O vôlei começou a se popularizar ainda mais. Começaram a surgir atletas de várias partes do Brasil: o Carlão, do Acre, que foi jogar no Ceará; o Marcelo Negrão, de Pernambuco, que foi jogar em São Paulo. Começaram a surgir atletas do Brasil todo. O voleibol antes era concentrado no eixo Rio-São Paulo-Minas e só, não saia muito dali. Começou a aparecer o Nordeste, o Sul do Brasil formando jogadores. E o voleibol dali para frente começou a construir uma história muito legal”, comemora.  

Fisicamente recuperado, em 1985, Dal Zotto recebeu o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta do ano do COB. Na Copa do Mundo, foi eleito o melhor atacante do mundo e o jogador mais espetacular do mundo. “Esses prêmios chegaram um ano depois. Eu gostaria que tivesse sido nos Jogos Olímpicos”, diz Renan, afirmando que trocaria tudo isso pela medalha de ouro do vôlei nos Jogos 1984. 

Galã da 'Geração de Prata' 

O sucesso da seleção nas quadras gerou uma verdadeira febre fora delas. Uma legião de meninas de todas as idades, chamadas à época de tietes, passaram a tratar os jogadores como popstars. Renan, considerado o maior galã do grupo, era o mais assediado. Modesto, ele nega que seus atributos físicos tenham contribuído para o crescimento do vôlei no Brasil. “Eu acho que não. Na época, o grande galã de tudo era o voleibol, era o esporte, era a seleção, o clube quando tinha campeonato de clube, e nós éramos os atores que estávamos ali”, desconversa.  

Os companheiros de seleção são unânimes em afirmar que a beleza de Renan ajudou a popularizar o vôlei no Brasil. “Ficar no quarto com ele era complicado, o telefone tocava o tempo inteiro, a mulherada ficava louca. Ele tinha que se concentrar. Mas foi muito importante para a popularização do esporte não só o aspecto técnico, mas também a admiração que as pessoas tinham por ele fisicamente”, atesta Bernard Rajzman.  

“Renan era um dos preferidos do público feminino e isso ajudou muito a popularizar ainda mais o voleibol na época”, reforça Montanaro. 

“Ele era o maior galã, a mulherada era doida por ele mesmo. Ele e o Bernardinho dividiam essa coisa de ser os bonitões da equipe”, acrescenta William.  

“Ele era o galã, nós outros éramos coadjuvantes, e esse foi um aspecto daquela geração que colaborou muito para a popularização do vôlei no Brasil”, brinca Bernardinho.  

“Como se dizia, naquele tempo, ele era um gato”, finaliza Moreno.  

Referência e inspiração 

Bonitos e famosos, os jogadores da ""Geração de Prata"" viraram protagonistas de comerciais de TV e anúncios em jornais e revistas. “O mercado do vôlei começou a crescer muito. A gente fazia bastante propaganda, eu fiz para varias marcas, todos nós fazíamos. O Bernard foi o grande garoto-propaganda daquela época”, lembra Dal Zotto.  

“Renan é um ídolo. Quando eu tinha os meus 14 anos ele me inspirou. Ele fazia propaganda de uma marca esportiva da seleção e me despertou o interesse pelo vôlei. Ele construiu o verdadeiro propósito dentro de mim. Quando eu vi o Renan jogando, descobri que eu queria fazer o que ele fazia. Se para mim foi assim, imagine quantos milhares de brasileiros ele inspirou. Ele foi um dos grandes ídolos da geração transformadora do vôlei brasileiro”, revela o bicampeão olímpico Giovane Gávio.  

Mais próximos do público, os jogadores de vôlei começaram a virar referência. Renan conta que não acreditou ao receber a carta de um torcedor informando que tinha colocado o nome do atleta no filho recém-nascido.  

“Uma coisa é você ser famoso, conhecido, não necessariamente você vira um exemplo. Mas, na hora que você bota o nome no filho, é porque essa pessoa, de alguma maneira, te inspirou. E isso aconteceu muito. Há pouco tempo eu encontrei um senhor que tem dois filhos: um é o William e o outro é o Renan, em homenagem a nós. É muito bom encontrar vários Renans cujos nomes foram dados por minha causa”, agradece. 

Além das milhares de cartas de fãs, Renan também recebia menagens curiosas, como a de um menino de 14 anos que queria saber onde o jogador cortava o cabelo porque queria fazer o mesmo corte. Lembrando que, nessa época, não havia internet nem redes sociais. “A gente tinha a responsabilidade de vender uma imagem saudável, bacana. A postura e a conduta profissional foram fundamentais para construir essa imagem”, afirma. 


Casou e mudou 

Em fevereiro de 1988, a caminho de um jogo no Nordeste, Renan encontrou o amor da sua vida, a modelo Annalisa Blando, no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Ela tinha 16 e ele 28 anos. Detalhe: Anna nunca foi muito ligada ao vôlei. 

Depois dos Jogos Olímpicos Seul 1988, quando, segundo Renan, “a seleção enfrentou problemas com a mudança de comissão técnica há 20 e poucos dias antes dos Jogos”, ficando na quarta posição, ele decidiu ir jogar na Itália.  

Antes, porém, se casou. “A gente casou na véspera de Natal, em 24 de dezembro de 1988, porque ele não tinha agenda, tinha muitos compromissos com a seleção e com o clube, emendando uma coisa na outra. A gente nem teve tempo para a lua de mel. Nossa lua de mel só aconteceu em maio, quando acabou a primeira temporada lá na Itália”, relembra Anna.  

“Eu fiz cinco temporadas fantásticas na Itália. Naquela época, a regra só permitia dois estrangeiros por time. Hoje você pode ter quatro em quadra e 10 no time. Tem que ter dois italianos. Hoje está muito mais aberto o mercado, mas na época não tinha isso. Para conseguir uma vaga no time bom era difícil”, lembra.  

Renan jogou quatro temporadas pelo Maxbuono, de Parma, e uma no Messagero, de Ravena, onde substituiu o norte-americano Karch Kiraly, um dos maiores nomes do voleibol em todos os tempos. O brasileiro conquistou vários títulos e se tornou “O Rei da Itália”.  

“Em 1991, eu tirei a minha cidadania italiana e comecei a jogar como italiano. Como eu joguei como italiano, abri vaga para mais um estrangeiro no time. O Carlão foi para o meu lugar, e o meu contrato acabou sendo super-hiper-valorizado”, comemora.  

Vamos para Barcelona?  

“Em 1992, o Zé Roberto (José Roberto Guimarães, técnico da seleção) esteve na Itália. Falou com o Bebeto e falou comigo: ‘Vamos para Barcelona (disputar os Jogos Olímpicos)?’ E eu não tinha condições legais para ir”, divide Renan. “Eu tinha dupla cidadania, mas se eu jogasse pela outra nacionalidade, perderia a condição de jogar como italiano, o Carlão perderia a vaga dele como um dos dois estrangeiros ou eu ficaria fora do time. Foi nessa época que eu comecei a ter um contrato que valia a pena”, explica o vice-campeão olímpico, que poderia ter feito parte da equipe que conquistou o ouro na Espanha. 

Em seu último ano na Itália, Renan teve Giovane Gávio como companheiro de equipe. “Eu tive a oportunidade de vê-lo jogar um pouquinho, no fim de carreira dele, na Itália. Às vezes eu tinha que me policiar para não ficar parado olhando ele jogar. É um dos maiores do mundo”, elogia o bicampeão olímpico Giovane, que se tornou um dos amigos próximos de Renan.  

De volta pra casa 

Dal Zotto parou de jogar aos 33 anos, em 1993. A esposa engravidou logo em seguida, como programado.  “Meu pai estava com câncer, na época, depois ele se curou. Infelizmente, ele não está mais aqui. Decidimos voltar para o Brasil”, conta. “Eu tinha contrato para mais um ano, mas o meu sonho era ser treinador.  Surgiu uma oportunidade no Brasil e eu acabei abrindo mão do último ano de contrato e voltei. Tivemos o Gianluca e depois veio o Enzo, são os dois filhos que nós temos”.  

De volta ao Brasil, Renan atuou como técnico por dois anos no Palmeiras, dois anos na Chapecó e dois anos na Olympikus.  

“Quando ele voltou para o Brasil e se tornou técnico, fui atrás dele. Joguei com ele como treinador no Palmeiras e no Chapecó, lá no sul. Onde o Renan ia, eu ia atrás. Primeiro pelo carinho, pela amizade que eu tenho por ele, depois porque eu gostava muito do jeito de ele treinar. Ele é um cara sempre muito positivo, está sempre buscando o lado bom e o melhor de cada atleta e isso faz uma diferença danada. Ele dá uma liberdade muito boa para os atletas, para gente fazer o nosso melhor. Isso é sensacional!”, destaca Giovane.  

De técnico a gestor 

Em janeiro de 1996, Gianluca, o filho mais velho, então com dois anos, foi diagnosticado com leucemia linfóide aguda de alta risco. “Eu estava acabando o contrato em Chapecó e o tratamento dele seria longo, quatro anos para ter alta. Abri mão do sonho de ser treinador e fui morar em Florianópolis para estar mais perto dele e da minha esposa”, revive Renan.  

Em Santa Catarina, ele passou a atuar como gestor esportivo na Unisul e também teve passagem pela equipe feminina do Brasil Telecon. 

Em 2005, Renan passou a conciliar as funções de gestor e técnico na Cimed. “Como não tinha muito recurso, montei um time bem jovem, com Bruninho, Eder, Lucão, que eram todos garotos e são os velhinhos que estão aqui hoje. Eu fui o gestor e o treinador porque o meu filho não me viu nem jogar e nem ser treinador. Ele fez um pedido para me ver em quadra e eu fui”, compartilha. 

“Na época em que eu fui para Unisul, no final de 2003, o Renan era o diretor do projeto. Era uma pessoa sempre muito próxima à equipe e que procurava sempre dar toques e ajudar. Como eu tinha apenas 17 anos e ele sempre foi um dos melhores amigos do meu pai no voleibol, me ajudou quando estava sozinho, me levava para a casa dele e me tratou como alguém da família mesmo. Vendo o Renan, além dos conselhos sobre voleibol, entendi como equilibrar a vida entre família e profissão”, testifica o capitão Bruninho, filho do técnico Bernardinho e medalhista olímpico. 

Itália, marketing e futebol 

Renan voltou à Itália como técnico do Sisley Treviso, atuou como diretor de marketing da Cimed e teve incursões no futebol, atuando no Figueirense (gestor de marketing) e no Guarani (diretor geral).  

Em 2014, Renan recebeu o convite para trabalhar na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), na área de Marketing. Dois anos depois, quando pediu demissão e estava pronto para voltar para casa, passou a atuar como diretor técnico das seleções brasileiras.  

“Avaliei que seria uma outra experiência muito legal estar no dia a dia com o Bernardinho e o Zé Roberto e fiquei como diretor técnico no período pré-olímpico de 2016. Foi uma experiência muito grande que me deu subsídios para, depois, poder aceitar o convite do presidente da CBV e assumir a seleção brasileira”, analisa Dal Zotto, que conquistou o troféu de Melhor Técnico de Esportes Coletivos, do COB, em 2018 e 2019.  

De volta à seleção 
Sob o comando de Renan, a seleção foi vice-campeã da Liga Mundial e campeã da Copa dos Campeões, no Japão, em 2017. Em 2018, ficou em quarto na Liga das Nações, foi vice-campeã mundial, na Polônia, e campeã sul-americana. A transição entre Bernadinho e Renan foi tranquila e bem aceita pelos jogadores. 

“Poder trabalhar com o Renan é simplesmente muito fácil. Ele entende muito bem o que o atleta precisa, o momento que ele está passando, a hora de forçar um pouco mais e a hora de dar uma segurada. Ele se adaptou muito rápido a ser técnico da seleção, tem uma capacidade muito grande de entender cada momento. Trabalhar com ele tem sido um prazer muito grande”, testifica Lucas Saatkamp, o Lucão, detentor de uma medalha de ouro e uma de prata em Jogos Olímpicos.  

“Ele é bem tranquilo, é um cara que está sempre aberto a ouvir, sempre disposto a mudar e sempre aberto a tudo. Ele aceita bastante as nossas sugestões dentro e fora de quadra. É um grande diferencial dele. É um cara que chegou para substituir o Bernardo, que é um baita treinador, um cara que nos passa muita segurança. O caminho tem que ser assim mesmo”, opina o campeão olímpico Wallace de Souza. 


Coronavírus  

“2019 foi um grande ano, era a preparação olímpica. A gente disputou cinco competições e venceu quatro, entre elas o Pré-Olímpico e a Copa do Mundo, que vencemos de forma invicta, ou seja, a preparação estava acontecendo de forma muito boa”, elogia Renan. “Aí, em 2020, o mundo parou”. 

A rotina da seleção parecia ter voltado ao normal quando, em 5 de abril de 2021, a equipe retornou aos treinamentos, em Saquarema, no Rio de Janeiro. Dois dias depois, Renan foi diagnosticado com Covid-19. No dia 10, o treinador foi internado com febre alta e muita falta de ar. Começava ali uma longa batalha pela vida.  

“Perdi toda a preparação olímpica, toda a Liga Mundial, tudo. Fui intubado em 19 de abril e fiquei um mês e pouquinho na UTI”, descreve Renan, que permaneceu internado por 36 dias.  

“Foi um tempo extremamente difícil, desafiador, mas a gente tinha um foco muito grande que era a recuperação do Renan”, declara Annalisa Blando Dal Zotto, esposa do treinador. “Houve dias em que o médico deixou bem claro que ele era o paciente mais grave do hospital. Ele estava na luta, e a gente estava na luta junto com ele. Ele nunca foi desenganado, mas a gente ouviu um monte de notícias ruins”, acrescenta, destacando que os filhos Gianluca e Enzo se revezaram com ela nos cuidados do técnico na UTI. Toda família se envolveu.  

“Para nós, foi complicado, um tempo difícil, uma interrogação para todo mundo naquele momento. Se nós já estávamos nos sentindo aflitos, imagino a família, que não sabia se ele ia conseguir sair desse momento ruim”, desabafa Wallace. “A gente não tinha a dimensão do problema que estava acontecendo, a gente só foi ter essa dimensão depois que ele saiu e pode contar o que aconteceu. Eles estavam meio que blindando a gente das notícias. Foi um pouco chocante”, lembra Lucão, central da seleção.  

Da UTI para o Japão 

No primeiro dia de intubação, Dal Zotto teve uma trombose muito grande na virilha e correu o risco de ter a perna esquerda amputada. O técnico ficou uma semana entubado, foi extubado, contraiu uma infecção hospitalar, uma pneumonia e foi entubado novamente.  

“Fiquei mais uns 10 dias intubado. Quando iam extubar, meu corpo começou a entrar em falência. Tiveram que me dar aquele choquinho no coração. Falaram que não dava para entubar novamente, que teria que fazer uma traqueostomia. Foi a melhor coisa porque eu comecei a acordar. Com a tráqueo, eles têm que retirar um pouco a sedação. Comecei a acordar, comecei ver, daí fui lutando”, detalha Renan, que perdeu quase 30 quilos e a coordenação motora.  

“Desaprendi tudo, desde caminhar, subir escada. Não conseguia fazer nada, tive que reaprender os movimentos. Foi muito difícil a minha recuperação. Foi muito dura porque eu estava lutando contra o tempo. Consegui fazer várias reuniões on-line com os jogadores. Sai da cadeira de rodas e do oxigênio em 4 de junho. Um mês depois, eu estava embarcando para os Jogos Olímpicos”, completa. 

Durante o período de intubação, Renan teve uma EQM (Experiência de Quase Morte). “Eu estava lá com o meu pai, a minha mãe e a minha avó, que já são falecidos. Foi uma experiência terrível, até que chegou num momento em que eu aceitei que tinha morrido. Vi até matérias na televisão dizendo que eu tinha morrido, eu assisti à matéria. Eles diziam que eu tinha morrido, que tinha deixado mulher e dois filhos, com imagens minhas, da minha família. Quando eu vi isso, pensei: Morri!”, compartilha Renan, bastante emocionado.  

“Uma mão estava segurando nos meus braços, quando, de repente, eu percebi que a Annalisa, minha esposa, estava segurando na minha mão, me puxando, puxando. E atrás dela vinha uma cauda de luz muito grande, uma coisa impressionante. Esse feixe de luz era muito grande e eu tenho certeza de que eram todas as orações e a fé de muita gente que me trouxeram de volta”, emenda ele, frisando que não se tratou de uma alucinação, mas uma vivência real. 

Tóquio 2020 

A seleção estreou em Tóquio vencendo a Tunísia por 3 a 0. No segundo jogo, bateu a Argentina por 3 a 2. Na terceira partida, foi derrotada pelos russos por 3 a 0. Nas quartas de final, o time se recuperou e derrotou o Japão por 3 a 0. Depois de vencer o primeiro set por 25 a 18, o Brasil perdeu a chance de disputar a medalha de ouro ao ser derrotado novamente pela Rússia, por 3 a 1.  

“Fiquei muito chateado. A gente tinha condições, até porque a gente fez uma primeira fase muito boa, ganhamos de todos os times grandes, perdemos um jogo só para a Rússia. Na semifinal, o jogo estava 1 a 1, tinha tudo para a gente fazer 2 a 1 e acabou que, por várias circunstâncias, não fechamos o segundo set. Perdemos a oportunidade de ir para a final. Fomos disputar a medalha de bronze e, ganhando de 2 a 1, acabamos perdendo para a Argentina por 3 a 2. Foi ruim porque foi tudo muito sofrido, tudo com muito sacrifício, mas acredito que faz parte da nossa história, do nosso crescimento”, analisa Renan. “Nos Jogos, eu estava longe da minha melhor condição, estava extremamente fragilizado, mas não tinha como não ir, não estar com eles lá”, enfatiza. 

Pondo fim à 'maldição do quarto lugar' 

Derrotada na semifinal pelo time da casa a seleção disputou a medalha de bronze contra a Eslovênia no Campeonato Mundial da Polônia 2022. Com o retrospecto de derrota nas cinco vezes que competiu pelo terceiro lugar em Jogos Olímpicos (Seul 88 e Tóquio 2020) e em Mundiais (França 1986, Brasil 1990 e Japão 1998), o time de Renan superou o desgaste emocional e as dificuldades com desfalques e contusões, acreditou até o final e, pela primeira vez, subiu ao degrau mais baixo do pódio. Era o fim da “maldição do quarto lugar”! 

“Essa medalha de bronze foi importante por dois motivos: primeiro porque quem acompanhou e gosta do voleibol pode presenciar todo esse espírito que a seleção estava jogando, de se entregar ao máximo, o que valorizou bastante essa conquista. Segundo porque, no voleibol masculino, realmente a gente nunca tinha conquistado uma medalha de bronze. Eu senti isso na pele tanto como jogador quanto como treinador em outras oportunidades. E, desta vez, foi um sentimento muito legal de todo mundo, de toda a comissão técnica, de todos os jogadores, principalmente aqueles que vivenciaram uma experiência muito ruim nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, de onde saímos com o quarto lugar e não tivemos força suficiente para buscar a medalha de bronze, depois da derrota na semifinal. Dessa vez, a gente soube suportar toda a pressão que tinha, todo o componente emocional de não estar na final, a galera conseguiu fazer uma grande disputa pelo pódio e saiu, merecidamente, com uma honrosa medalha de bronze”, festeja Renan. 

Amizades duradouras 

Integrante do Hall da Fama do Vôlei desde 2015, Renan Dal Zotto comemora sua entrada no Hall da Fama do COB dizendo ter um lugar especial para cada um dos títulos que conquistou ao longo da carreira. Mas destaca que os amigos foram o maior presente que o voleibol lhe deu. “Amigos que são irmãos de coração. Isso ninguém tira da gente”, afirma.   

“Falo com o Renan praticamente toda semana. A gente criou uma amizade que vai ficar para a eternidade”, diz Bernard.  

O capitão William acrescenta: “Ele é amigo da minha família, sou muito amigo da família dele. É um excelente cara. Sempre que a gente se encontra parece que ficou só uma semana ou duas sem se ver, as brincadeiras voltam a ser as mesmas, o respeito é muito grande. É um amigo que eu tenho, que apesar de não estar perto de mim, sei que, se eu precisar, vai estar lá”.  

“Somos amigos desde o final dos anos 70, sou padrinho de casamento dele e vivemos milhares de experiências e mesmo aventuras fora das quadras. Renan é alguém com que posso contar em qualquer situação!”, declara Bernardinho. 

Para Renan Dal Zotto, família é um assunto sério. Um dos seus maiores prazeres é estar junto da esposa e dos filhos. “A gente já era muito colado, muito unido, hoje a gente tem uma vida de cumplicidade muito grande e é impressionante porque a gente sempre escuta que tem que valorizar as coisas mais simples, as coisas menores, e é verdade. Quando você passa por experiências como as que eu passei, percebe que há momentos que não têm preço, que aquele ali é o melhor momento. A gente passa a ver a vida de uma forma muito diferente. Essas experiências amadurecem bastante a gente”, filosofa.
Renan Dal Zotto

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Medalhas em jogos olímpicos

Vídeo

Renan Dal Zotto Biografia para Hall da Fama

Eleito ""Jogador de vôlei do século 20""e ""melhor jogador do mundo"" durante sua carreira Renan Dal Zotto foi um dos ídolos da ""Geração de Prata"" do vôlei brasileiro, segunda colocada em Los Angeles 1984. Ele também ajudou a transformar a modalidade ao criar o saque viagem. 
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RESULTADO EM DESTAQUE

ediçãoresultadoprova
Jogos Olímpicos Los Angeles 1984
2º LugarPrata
Equipe - Masculino
Jogos Pan-americanos Caracas 1983
1º LugarOuro
Equipe - Masculino
Jogos Pan-americanos San Juan 1979
2º LugarPrata
Equipe - Masculino
Jogos Pan-americanos Indianapólis 1987
3º LugarBronze
Equipe - Masculino
Campeonato Mundial - Buenos Aires 1992
2º LugarPrata
Equipe - Masculino

ACERVO

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