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Ricardo Prado

Ricardo Prado

modalidade

Natação

data e local de nascimento

03/01/1965

Andradina

BIOGRAFIA

Ricardo Prado nunca pensou em fazer qualquer outra coisa na vida, nasceu para nadar. Exatamente por isso, encarou com naturalidade todos os desafios que encontrou para se tornar um dos maiores nomes da natação mundial na década de 1980. “Sempre me senti muito à vontade na piscina e sempre soube que eu tinha talento”, afirma o vice-campeão olímpico, campeão e recordista mundial dos 400m medley. “Desde cedo, sentia que eu tinha uma obrigação de perseguir aquilo ali”. 

Pradinho, como ficou conhecido, começou a nadar aos cinco anos. Aos seis, disputou a primeira competição e, aos sete, sagrou-se campeão brasileiro infantil nos 50m borboleta.  

Tradição de família 

Filho do advogado Ruy do Amaral Prado e da médica Heloysa de Mello Lartigau Prado, Ricardo é o caçula de cinco. Seus irmãos Denise, Fernando, Sérgio e Rosamaria também praticam natação. “Meu pai jogou tênis até o final da vida, mas nada competitivo. E minha mãe, na época de faculdade, fazia atletismo e basquete. Parece que ela participou de Jogos Abertos  do Interior ou dos Jogos Regionais. Mas não eram atletas sérios, eram atletas de ocasião. Por alguma razão, eles realmente se encantaram com a natação, e a gente fez daquilo um modo de vida”, divide. 

“Como a gente estava sempre na água, para ele foi natural aprender a nadar. Ele já via todo mundo nadando e era uma coisa boa para fazer no interior, numa cidade muito quente, como Andradina”, explica Rosamaria Meyer, irmã do campeão.  “A gente era de cidade pequena, não tinha muito para fazer. As funcionárias que trabalhavam lá em casa nos levavam para o clube, e todo mundo começou a nadar.˜ 

 

A família de Ricardo seguia uma vocação de Andradina pra revelar bons nadadores. “O Pradinho aprendeu a nadar numa piscina do Tênis Clube de Andradina, onde o meu pai era o presidente. Eu tenho um monte de coincidências com ele”, conta Manoel dos Santos, segundo medalhista olímpico da natação brasileira – bronze nos 100m livre, em Helsinque 1960, naturtal da mesma cidade do interior paulista.  

Os pais de Ricardo Prado, ao chegarem do sul do país, moraram num hotel de propriedade do pai de Manoel. Concidentemente, os dois entraram juntos para o Hall da Fama do COB.  

Mãe durona 

À medida em que cresciam e se destacavam no esporte, os irmãos de Pradinho saíam de casa para treinar e estudar em outras cidades e até em outros países.  

“Por causa da natação, os mais velhos ganharam bolsa de estudos em Mogi das Cruzes e saíram de casa para estudar e nadar por lá. O Sérgio foi o único que largou a natação, ele jogava basquete. Ficamos em casa só o Ricardo e eu”, relembra Rosamaria.  

“No começo, em Andradina, onde eu morei até os 12 anos, nós não tínhamos, necessariamente um treinador, não tinha um técnico de natação. Tinha uma pessoa que ajudava, e minha mãe e ia para a beira da piscina”, lembra Ricardo. “Ela pegava os treinos que os meus irmãos faziam em Mogi das Cruzes, adaptava e ministrava para mim e para a minha irmã. Minha mãe era bastante séria. Já que a gente estava lá, era para fazer direito, não era para brincar nem perder tempo. Isso, certamente, me moldou para conseguir ser o atleta que eu acabei sendo”, constata. 



Menino prodígio 

Talentoso, Pradinho costumava acompanhar os irmãos às competições. Desde pequeno, não foram raras as vezes em que os organizadores dos torneios fizeram uma pausa para que ele demonstrasse sua técnica na piscina, nadando os quatro estilos.  

“Num Troféu Brasil de Natação, eu acho que em 1970 ou 1971, a gente estava lá para assistir à minha irmã Denise nadar. A gente sempre brincava na piscina e nadava durante o aquecimento. Eles pediram para parar a competição para assistirem ao Ricardo, que era bem pequenininho, devia ter uns cinco, seis anos. Ele nadou os 50m golfinho para todo mundo ver. Eu nunca me esqueci disso”, destaca Rosamaria. Na competição, Denise Prado sagrou-se campeã brasileira nos 100m e 200m costas.  

Entre os irmãos, Fernando se especializou no estilo borboleta, Denise e Rosamaria, no nado de costas. Ricardo optou por nadar todos, especializando-se no medley (quatro estilos). “O medley era mais difícil, tinha menos gente”, justifica ele. “Os 400m medley são a prova mais completa do programa olímpico, porque tem que combinar uma resistência muito forte com o domínio dos quatro estilos”, explica Renato Cordani, vice-presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).  

Prado conta que os nadadores de medley têm que ter muita habilidade, bons pulmões e cabeça equilibrada para “segurar a onda”, já que a disputa dos  quatro estilos é muito cansativa e dolorida. “Não é a prova mais difícil, em termos de concorrência. Nos 50m e nos 100m livre a disputa é muito maior, mas certamente é a que exige um atleta mais completo, por ser uma prova dos quatro estilos e em pouco mais de quatro minutos”, sentencia Rogério Romero, especialista em nado costas e único nadador brasileiro finalista em quatro edições dos Jogos Olímpicos (Seul 1988, Barcelona 1992, Atlanta 1996 e Sydney 2000). 

Recorde sul-americano  

Pradinho tinha apenas 12 anos quando foi convocado para a seleção brasileira que disputou o Campeonato Sul-americano, onde ganhou oito medalhas (quatro de ouro e quatro de prata) e bateu o recorde infantil sul-americano nos 200m medley. “Com esse resultado, conseguiu uma vaga para sua primeira seleção adulta. Isso nos fez perceber a potência da sua natação e que ele iria muito longe no esporte”, pontua Denise Prado, imã mais velha de Ricardo. 

Treinando sob as orientações da mãe, em Andradina, o futuro recordista mundial começou a se destacar em várias competições, superando as distâncias e o cansaço.  

“A gente competia muito em São Paulo, que era bem longe. Ia de ônibus, viajava a noite inteira, competia de manhã e ganhava de todo mundo. No último dia de competição, também tinha que viajar a noite inteira. Meus pais sempre fizeram a gente ir para a escola, não podia perder aula, mesmo quando chegávamos de viagem de madrugada. A gente chegava, dava uma descansadinha e ia estudar para que o esporte não atrapalhasse os estudos”, detalha Rosamaria Meyer.  

A distância de Andradina para São Paulo, de ônibus, é de 629 km, uma média de sete horas de viagem. “Tinha muito estresse, muita choradeira, muita reclamação. Eu xingava minha mãe, sim, porque ela exigia muito da gente. E eu acho que ela estava correta em exigir”, revela Pradinho.  

Nadando com o ídolo 

Ricardo Prado se mudou de Andradina para o Rio de Janeiro aos 12 anos para treinar no Flamengo.  “Em 1978 aconteceu uma coisa interessante, passou na televisão, nunca passava nada na televisão, o Mundial de Natação de Berlim. E ali surgiu uma nova geração de nadadores norte-americanos, todos muito jovens. O Jesse Vassalo tinha 17 anos”, recorda Pradinho, referindo-se ao melhor nadador do mundo na década de 1970.  

“Quando eu vi aquilo, fiquei fascinado. E é muito legal porque, logo depois, me deu um gás, eu treinei, bati o recorde sul-americano adulto dos 400m medley e me classifiquei para ir aos Jogos Pan-americanos de San Juan, em Porto Rico, em 1979. Lá, eu nadei na mesma piscina do Jesse”, declara Ricardo, que tinha apenas 14 anos quando fez sua estreia na competição.   

Em seu primeiro Pan, o brasileiro ficou impressionado com a torcida de Jesse Vassalo, o campeão mundial porto-riquenho naturalizado norte-americano. Havia até camisetas com o nome do nadador e a chegada dele nos 400m medley foi comemorada pela torcida. “Quando ele bateu, ainda faltavam 25 metros para eu chegar”, recorda Pradinho, que participou das finais dos 400m e 200m medley.   

Embora não tenha conquistado medalha no Pan, Ricardo fez ali o melhor investimento para os futuros resultados da sua carreira. Foi em San Juan que ele teve seu primeiro contato pessoal com Mark Schubert, o técnico dessa nova geração de nadadores norte-americanos. A maioria deles treinava no Clube Mission Viejo, localizado numa cidadezinha com o mesmo nome, na Califórnia. No final da conversa, ficou combinado que, no ano seguinte, assim que fizesse 15 anos, o brasileiro se mudaria para os Estados Unidos para treinar com Schubert.  

Na marra 

Em busca de um grupo forte para treinar, Pradinho deu início à sua jornada em Mission Viejo em 1980. Ele tinha certeza de que já tinha feito tudo o que poderia ter feito sozinho no Brasil, onde, segundo ele, “não havia um ambiente propício para a evolução de um atleta com as suas habilidades”.   

O menino de Andradina não sabia falar inglês e não conhecia ninguém na América. “Eu me adaptei na marra”, afirma. “A natação era, até então, um esporte de adolescência, quando batia 20/22 anos, ninguém nadava mais. As pessoas, quando ingressavam na faculdade, largavam o esporte. E o atrativo dos Estados Unidos era exatamente esse, você ir para lá e poder continuar treinando e evoluindo durante a faculdade”, diz o brasileiro, que seguiu os passos dos quatro irmãos mais velhos ao deixar o país para treinar e estudar nos Estados Unidos.   

Chegando lá, a rotina de Ricardo mudou. Enquanto no Brasil ele nadava, no máximo, 7.000m num treino e 2.000m ou 3.000m no outro, na nova equipe, ele começou a fazer treinos de 10.000m.  O sacrifício não demorou a surtiu efeitos.  

“Tudo aconteceu muito rápido. A minha melhora foi rápida, a minha conquista foi rápida. Eu cheguei e me senti muito em casa também lá, com aqueles atletas que eu admirava, com nadadores muito melhores do que eu, nadando na mesma raia. Eu me senti muito à vontade e, logo, logo, eu já era o primeiro na minha raia e deixava os caras para trás”, gaba-se.  



Técnico durão 

Pradinho diz que a personalidade do técnico Mark Schubert era a pior possível. “Ele não tinha relacionamento amigável com os atletas, era na base da ditadura, gritando e quase ofendendo, sempre com uma atitude muito autoritária, soltando frases como: “‘Faz direito ou faz de novo!’ ‘Não gostei, faz de novo!’ ‘’Fica até às 10 horas da noite!’”, reproduz.   

O mais importante, porém, é que o treinador norte-americano era um homem de resultados. “Eu melhorei um foguete a partir do momento em que eu pisei ali. A partir dali, pude me concentrar só no treino, treinando direto para quatro meses depois, em julho, estrear nos Jogos Olímpicos de Moscou”, lembra Pradinho, destacando não ter sentido falta de nada, além da família e dos amigos, no período de adaptação. “Eu senti que eu estava no lugar certo ali para aquela evolução que eu sentia que tinha condição de atingir. Eu estava no lugar certo para seguir aquele caminho”. 

Ao contrário do que se espera de um adolescente de 15 anos, Ricardo Prado encarou sua primeira participação em Jogos Olímpicos, em Moscou 1980, de uma forma bem blasé. “Ver grandes atletas é sempre um atrativo, mas eu acho que já esperava isso. Não foi suficiente para eu ficar deslumbrado. Eu focava mais em aspectos mais técnicos, eu me sentia igual a eles”, avalia. “Aquele clima não me assustou, muito pelo contrário, me senti muito à vontade. Eu sabia que ali era o meu lugar e que era uma questão de tempo até eu me tornar um protagonista. Olhei para as pessoas que eram os protagonistas e eram ídolos de carne e osso, com dois braços e duas pernas, iguaizinhos a mim. Não vi nada de mais neles que eu não poderia ter também. Foi bem interessante porque ali eu me senti em casa”, revela.  

O brasileiro nadou os 100m costas no primeiro dia (20 de julho) e ficou na 28ª posição. Voltou a competir no dia 27, terminando em 12º nos 400m medley, com 4min31s69. “Não tinha mais o que fazer e fiquei por ali. O que eu vi foi interessante: o cara que ganhou era mais alto, mais velho, mais experiente, mas igualzinho a mim, humano, de carne e osso”, analisa, referindo-se ao russo Aleksandr Sidorenko, que conquistou a medalha de ouro com o tempo de 4min22s89. “Vendo aquilo e tendo passado pelo que eu tinha passado, minha experiência de ter ido para os Estados Unidos, me adaptado, eu sabia que, dali a quatro anos estaria mais experiente, mais esperto, mais maduro e mais forte. Eu tinha certeza de que a próxima estava para mim”. 

Anônimo no Mundial 

Apesar de já ter superado alguns recordes nacionais e continentais, Pradinho chegou ao Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos de Guayaquil, no Equador, em 1982, como um ilustre desconhecido.  

Diferentemente da equipe norte-americana, que ficou hospedada com todo o conforto num hotel cinco estrelas, os brasileiros tiveram que superar algumas dificuldades com hospedagem na cidade equatoriana. 

“Embora o meu país tenha me colocado num hotel em frente à rodoviária, com uma comida horrorosa, com gente entrando e saindo à noite, gritaria, e os americanos tenham ficado no Hilton, meu pensamento era: vou ganhar deles, eu vim aqui para fazer isso e vou fazer”, lembra Ricardo, revelando que sempre ficava muito nervoso e costumava passar mal antes das provas.   

Participando de quatro finais, o brasileiro tornou-se uma das sensações da competição ao vencer aos 400m medley, com o tempo de 4min19s78, superando o recorde do seu ídolo, o norte-americano Vesse Vassalo, em 27 centésimos.  

Ricardo Prado tinha apenas 17 anos e entrou para a história como o primeiro atleta latino americano a bater um recorde mundial na prova. Era 2 de agosto de 1992, mesma data em que Tetsuo Okamoto conquistou a primeira medalha olímpica da natação brasileira, um bronze nos 1.500m livre em Helsinque 1952.  

“Meu triunfo veio quando eu consegui bater o recorde mundial, que era do Jesse Vassalo. Parece que foi a coisa mais legal que aconteceu na minha vida”, confessou ele na época. 

Em 2022, 2 de agosto foi instituído como o Dia Nacional da Natação, no Brasil. 

Pelos pais e pelos irmãos 

“Foram as condições ideais realmente, foi na América do Sul e eu fui quase como o Jesse lá. Acho que eu virei um Jesse Vassalo nadando em casa. Fui super acolhido. A imprensa amou o fato de, pela primeira vez, ver um latino-americano pequeninho, com um 1,68m, baixinho, ir lá e ganhar uma prova”, festeja.  

Embora tenha conquistado o título e o recorde mundial sozinho na piscina, Ricardo Prado não se esqueceu da importância de toda a sua família para chegar lá. “Ter ganho a competição e ter batido o recorde mundial foi o máximo porque eu sentia que devia isso para mim e para a família inteira. Por todo esforço que os meus pais fizeram por todos nós”, desabafou Pradinho na época. 

Em 1976, Rosamaria Prado, irmã de Ricardo, não foi convocada para os Jogos Olímpicos de Montreal mesmo sendo a então campeã e recordista sul-americana dos 100m e 200m costas. A alegação, segundo ela, era a de ser jovem demais. Ela tinha 14 anos.  

O caçula da família Prado foi quem chegou mais longe no esporte. Testemunha da carreira dos irmãos, ele tinha a vantagem de saber o que funcionava e o que não funcionava no caminho das conquistas.  

“Quando ele ganhou o Mundial, eu morava nos Estados Unidos e nem soube. Oonde eu estava, não ouvi notícia nenhuma. Naquele tempo era diferente, as notícias não eram na internet ou alguma coisa assim”, conta Rosamaria Meyer. “Foi uma coisa incrível porque a gente admirava atletas de natação e nunca ia imaginar que o meu irmão seria um deles também. A gente veio de uma cidade pequena, com uma piscina sem aquecimento, caindo aos pedaços. Tudo dependia dos meus pais que, graças a Deus, nos apoiavam. Vindo de onde a gente veio, acho que eu não vi história nenhuma como a nossa”, emenda a ex-atleta, que conquistou uma medalha de bronze no Mundial Estudantil 1974, na Alemanha, com apenas 12 anos. Fernando Prado também participou da mesma edição da competição, aos 15. 

“Desde cedo, ele teve ótimos exemplos do que era necessário fazer para ser um campeão como ele queria. Viu do que os irmãos abriram mão para se manterem nesse esporte que movia essa família”, salienta Denise. 

Pradinho reconhece as vantagens de ter sido o caçula de uma família de nadadores de alto nível. “Eu vi as dificuldades que eles percorreram antes de mim, eu vi as alegrias, as vantagens que eles tiveram por terem sido bons atletas, as portas que o esporte abriu para eles. E também o lado negativo de tudo, as injustiças que eles sofreram. Aquilo tudo foi uma experiência para mim, e eu cheguei mais preparado para enfrentar as minhas dificuldades”, analisa o campeão mundial.  



Universitário 

A convite da universidade, Pradinho começou a treinar e estudar Economia na Southern Methodist University, onde alcançou grandes resultados no NCAA, o disputado campeonato universitário norte-americano. Ele entrou para a história como o primeiro brasileiro a sagrar-se campeão na competição. Foram cinco ouros em quatro anos.  

“O Ricardo dominou também nos Estados Unidos. Ele era o ‘rei da piscina’, era o ‘Michael Phelps do NCAA’, os campeonatos universitários que são o máximo por aqui. A faculdade nos Estados Unidos é muito cara, então o sonho de todo mundo é ganhar uma bolsa de estudos por esporte e, na natação, os Estados Unidos dominam o mundo. Como ele nadava medley, golfinho e costas, ele era o ‘Michael Phelps da época’. Ele foi influente na natação mundial e nos Estados Unidos também”, ressalta Rosamaria Meyer, que foi morar nos Estados Unidos.  

Se até o Campeonato Mundial de 1982 a imprensa brasileira não tinha expectativas quanto às performances de Ricardo Prado, para os Jogos Pan-americanos Caracas 1983, na Venezuela, os repórteres estavam de olho nele. “Quando bati o recorde, acho que a imprensa não sabia quem era eu”, constata. “A partir dali, eu passei a ser mais conhecido. Aquilo alertou para imprensa que o Brasil tinha um ótimo nadador, que estaria pronto para ir ao Pan e aos Jogos Olímpicos”. 

O recordista mundial dos 400m medley foi prata nos 200m borboleta (1min59s00), ficando atrás do campeão mundial, o norte-americano Craig Beardsley (1min58s85). Ele também ficou com a prata nos 200m costas (2min02s85), perdendo para o campeão olímpico, o também norte-americano Rick Carrey (1min59s34). “Ganhei os 200m medley e os 400m medley. Ganhar o Pan era quase como ganhar o Mundial. Foi uma grande competição para mim”, comemora, lembrando que, naquela época, os Estados Unidos competiam com a equipe A da natação. 

De volta pra casa 

Durante a fase final de preparação para os Jogos Olímpicos Los Angeles 1984, Pradinho se ressentiu da distância do técnico Mark Schubert em relação aos nadadores estrangeiros. “Ele focou no treinamento dos norte-americanos, que iriam disputar a seletiva, três semanas antes dos Jogos. Eu precisava de atenção porque era a competição mais importante da minha vida. Por isso, decidi treinar no Brasil”, conta.  

As últimas quatro ou cinco semanas de preparação para os Jogos foram comandadas pelo técnico Daltely Guimarães, que já havia sido o treinador de Ricardo no Flamengo. “Ele faleceu nos anos 1990. Foi uma pessoa muito importante para a natação brasileira”, reconhece. 

Em maio de 1984, o alemão oriental Jens-Peter Berndt, superou o recorde do brasileiro marcando 4min19s61 em maio. Devido ao boicote liderado pela União Soviética, Berndt não esteve presente nos Jogos Olímpicos em Los Angeles.  

Poucos dias depois, o canadense Alex Baumann  estabeleceu um novo recorde para os 400m medley, com 4min17s53. Pradinho não era mais o recordista, mas ainda era o campeão mundial da prova. Não havia dúvida de que a briga pelo degrau mais alto do pódio nos 400m medley dos Jogos 1984 seria um duelo de gingantes. 


Inseguranças

Grande esperança de medalha para o Brasil em Los Angeles, o campeão mundial era constantemente assediado pelos repórteres antes e depois dos treinos. “A imprensa não tinha o que fazer, e eu estava lá eu dando mole. Treinando de manhã e de tarde, todos os dias. A gente atendia todo mundo na hora que puxavam a gente”, recorda. 

Pradinho chegou a Los Angeles se sentindo bastante pressionado e questionando se estava pronto. “Existia uma pressão externa do COB e da imprensa pelo ouro, mas sobretudo, havia uma pressão interna dele próprio.  Prado queria aquela vitória mais do que qualquer um. E lutou por ela”, observa Renato Cordani, da CBDA. 

Ricardo se emociona ao relatar que estava se sentindo muito infeliz antes da final dos 400m medley nos Jogos 1984. A caminho da prova, ele foi surpreendido ao ver um garotinho brasileiro segurando um cartaz no qual se lia: “Vai, Pradinho!” “Aquilo tirou um peso muito grande, eu me senti querido, senti que não estava sozinho”, descreve.  

A melhor prova da vida 
Posicionado na raia 6, o brasileiro pulou na piscina do Estádio Olímpico da Universidade do Sul da Califórnia em 30 de julho de 1984 para tentar fazer o seu “trabalho” como sempre fez. O canadense partiu da raia 4.  

Pradinho saiu na frente e manteve a vantagem nos 200 metros iniciais. No nado peito, Alex Baumann assumiu a dianteira. Por maior que tenha sido o esforço de Ricardo nos últimos 100 metros, ele terminou a prova em segundo lugar, garantindo a medalha de prata.  

“Eu fiquei surpreso com a intensidade da minha batida de pernas nos últimos 50 metros. A minha vontade foi tanta que me deixou orgulhoso. O quanto eu me esforcei ali foi mágico”, divide.  

Baumann superou o próprio recorde, em oito centésimos, com 4min17s41. Marcando 4min18s45, o brasileiro fez o melhor tempo da sua carreira, estabelecendo novo recorde sul-americano da prova. O tempo de Prado só seria superado, 20 anos mais tarde, em 6 maio de 2004, por Thiago Pereira, que fez 4min17s62, no Troféu Brasil, no Rio de Janeiro.  

“Depois do Pradinho, a gente ficou um tempo sem voltar a ser competitivo no nado medley. Para mim, foi muito especial conquistar esse recorde. Até porque o tempo dele foi medalha olímpica de prata. É o que a gente fala: os recordes estão aí para serem batidos. Daqui a um pouquinho, eu tenho certeza de que os meus também vão cair. É importante essa competitividade, essa empolgação, mantendo essa molecada toda motivada, porque eu tenho certeza de que são esses recordes, esses resultados que acabam motivando os atletas a estarem mostrando novos desafios, novos tipos de treinamento, a abrirem mão de mais coisas para alcançar um resultado ainda maior”, declara o vice-campeão olímpico Thiago Pereira, prata nos 400m medley nos Jogos Olímpicos Londres 2012. 

Faltou alegria no pódio 

A excelente performance, na melhor prova da sua vida, no entanto, não impediu Pradinho de se sentir meio decepcionado, já que o plano sempre foi fazer o seu melhor e conquistar o ouro olímpico. 

“Hoje em dia, qualquer medalha é medalha. Eu queria o ouro! Eu trabalhava pelo ouro, sempre tinha tido o ouro e eu fui lá para ganhar o ouro. Não foi aquilo que eu queria e senti que tinha decepcionado o meu país. A lavagem cerebral da imprensa foi muito grande e eu não tive ninguém para falar assim: ‘Peraí, cara! Você fez uma coisa enorme! Você vai ser lembrado para sempre, você se superou mais uma vez’. Eu era um garoto de 19 anos, e a impressão que eu tinha era essa, de ter decepcionado o meu país e estava com receio de como aquilo ia ser encarado. Hoje eu acho isso uma grande sacanagem”, desabafa. 



Ricardo Prado foi o primeiro vice-campeão olímpico da natação brasileira e o terceiro medalhista em provas individuais. Antes dele, a última conquista – sem contar o bronze do revezamento 4x100m livre, em Moscou 1980 - havia acontecido em Roma 1960, quando Manoel dos Santos foi bronze nos 100m livre. Pradinho é medalhista olímpico e recordista mundial como Manoel. Tetsuo Okamoto foi o pioneiro brasileiro a subir no pódio da natação, com bronze em Helsinque 1952 nos 1500m livre.  

“A pressão pelo resultado olímpico foi realmente muito forte na época. Mas Prado suplantou a pressão e conseguiu fazer o melhor tempo da sua vida, no dia da prova mais importante nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Ele não ganhou o ouro, mas a prata ficou de ótimo tamanho. Foi uma conquista monumental. Prado foi o nadador que inspirou as medalhas da geração seguinte, de Gustavo Borges e Fernando Scherer”, avalia Renato Cordani. 

“Foi, sem dúvida nenhuma, um grande feito, até aquele momento. A medalha de prata do Ricardo teve uma relação muito grande com a minha performance. Ele era um ídolo, ele tinha os resultados”, declara o também vice-campeão olímpico Gustavo Borges, dono de duas medalhas de prata e duas de bronze.   

“Pradinho teve uma importância tremenda, acho que para todo o esporte. A conquista da medalha de prata dele, em 1984, a gente poderia dizer, com certeza, que foi um grande exemplo para os atletas que vieram a conquistar as próximas medalhas olímpicas, como o Gustavo, o Xuxa e toda uma base dos anos 90. Aquela conquista e todos os resultados que o Pradinho teve foram muito importantes para a natação como um todo. A partir dali a gente começa a ter exemplos e nascem os sonhos do pessoal mais novo que acompanhou”, diz Thiago Pereira.  

“Ser pioneiro é sempre um desafio, por exigir fazer algo inédito. Pensando nisso, o pequeno Prado teve uma atuação gigante aos 19 anos”, analisa o nadador olímpico Rogério Romero.  

Aposentadoria precoce 

Depois de conquistar três medalhas nos Jogos Pan-americanos  indianápolis 1987 (dois bronzes e uma prata), Pradinho não conseguiu disputar os Jogos Olímpicos Seul 1988 por ter contraído hepatite na fase final de treinamento, meses antes da competição. Precoce desde sempre, o brasileiro encerrou a carreira aos 23 anos.  

“Foi um desafio. Eu fiz uma transição para uma outra área dentro daquela área que eu já tinha bastante experiência e era consagrado. Eu peguei o caminho mais fácil, na verdade”, informa.  Formado em Educação Física e em Economia, Ricardo Prado atuou como gestor, comentarista de TV e técnico.  


Inesquecível 

Ricardo Prado se emociona ao contar que ainda é reconhecido nos dias de hoje. Ele foi inspiração para que muitas pessoas começassem a praticar esporte. “Volta e meia, eu encontro alguém que se emociona ao me ver. Antes, eu não ligava, achava aquilo normal. Hoje em dia, eu me emociono muito. Outro dia um taxista me disse: ‘Olha aí, Ricardo Prado, eu me lembro da sua prova como se fosse ontem, coloquei os meus filhos na natação por sua causa’. Realmente, é uma coisa muito especial de ser ouvida”, admite 

“Eu me lembro muito nitidamente daqueles Jogos do Ricardo Prado, que era muito jovem. Ele é dois anos mais velho que eu e me lembro dele como um dos grandes ícones do esporte brasileiro, lá em 1984. Ele ficou com a medalha de prata nos 400m medley, numa prova emocionante. Foi um grande 
resultado. Eu não me esqueço disso até hoje”, lembra o campeão olímpico de judô Rogério Sampaio, diretor-geral do COB.  

Além de resultados, a atuação de Pradinho como técnico lhe rendeu amizades verdadeiras, como a de Sérgio Luiz Rebiollo, pai de um de seus ex-alunos.   “Nas décadas de 70 e 80 o nome Pradinho foi sinônimo de determinação e de vitórias. Numa época em que a mídia só tinha olhos para o futebol, Ricardo Prado trouxe popularidade à natação. Com seus recordes e postura, ele difundiu e alavancou a prática natação pelo país”, elogia Rebiollo.  

“Meu filho Thiago foi treinado por ele dos 8 aos 19 anos, no Projeto Ricardo Prado. Nesse período, não apenas o meu filho, mas todos os que passaram por lá receberam dele exemplos demonstrados pelas suas atitudes de cidadania, caráter, solidariedade, disciplina e determinação, além das técnicas de natação. Ele os ensinou a serem cidadãos de bem”, completa Sérgio, que considera Pradinho como um irmão, um integrante da família. Thiago Rebiollo tornou-se ultramaratonista aquático.  

O técnico e ex-nadador Rodrigo Bardi viveu a experiência de ser treinado por Pradinho e, anos mais tarde, ser treinador do campeão, em competições de master. “Ricardo era muito exigente como técnico”, sentencia. “Hoje é um amigo de coração, muito generoso e grato aos que os cercam. Um cara de humor fácil, que adora dar muitas risadas, falar de carros, rock e também de natação atual, eventos, provas e performances dos nadadores atuais”, emenda.   

“A natação me deu tudo”  

Começar a nadar ainda criança, chegar à seleção brasileira e marcar o primeiro recorde aos 12, tornar-se atleta olímpico aos 15, ser campeão e recordista mundial aos 17 e subir ao pódio olímpico aos 19 anos, com certeza, exige muita dedicação e disciplina. Do que Ricardo Prado teve que abrir mão em nome da carreira?  

“Eu não tive que abrir mão de nada porque eu não tinha nada melhor para fazer! Eu sou de uma família de classe média, de cinco filhos, do interior, a gente não tinha essa coisa de viajar todo final de semana, a gente não tinha uma vida tão interessante. A natação é interessantíssima e abriu muitas portas, eu pude ver os meus irmãos estudarem em colégios particulares e indo estudar fora, com bolsa de estudos, coisa a que não teríamos acesso se não fosse pelo esporte”, descreve. “Tive a oportunidade de fazer faculdade nos Estados Unidos, conheci muitos países e tive experiências das quais usufruo até hoje. Eu trabalhei muito, nada foi de graça, foi tudo muito difícil. Mas eu, na verdade, não tinha nada melhor para fazer”.   

 Hall da Fama 

Pradinho, que já faz parte do Hall da Fama da Natação Brasileira e do Hall da Fama Universidade Metodista, nos Estados Unidos, revela que deseja ter seu nome no Hall da Fama da Natação Mundial, em Fort Lauderdale, e comemora sua entrada no Hall da Fama do COB em 2022.  



“É um reconhecimento do meu país! Eu já tive o reconhecimento do meu esporte, do mundo olímpico, mas acho que, depois de tantos anos, ser lembrado, ser colocado numa lista tão seleta de esportistas do meu país realmente é uma coisa da qual eu queria fazer parte. Me sinto muito orgulhoso e realizado por, finalmente, fazer parte. Demorou quase 40 anos. A gente vê outros países que têm isso um pouco mais desenvolvido, onde as coisas acontecem mais rápido, e fala: Puxa, gostaria que tivesse isso no Brasil e gostaria de fazer parte disso. E finalmente aconteceu. É uma coisa bem legal e eu me sinto muito orgulhoso”, afirma.  

Ricardo conta que, certa vez, foi abordado por um homem, num posto de gasolina, que apontou para ele dizendo: “Esse cara é bom de briga!”.  

“Eu acho que, para a minha época, eu fui realmente bom de briga. Eu enfrentei muitas batalhas, não só dentro d’água, mas fora d’água também, abri caminho para muita gente e eu briguei muito. Eu fui bom de briga”, finaliza Pradinho. 
Ricardo Prado

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Medalhas em jogos olímpicos

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Ricardo Prado biografia Hall da Fama

Ricardo Prado é um dos principais nomes da história da natação brasileira. Ele foi vice-campeão olímpico e campeão e recordista mundial dos 400m medley. 
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Jogos Pan-americanos
1º LugarOuro
200m medley - Masculino
Jogos Pan-americanos
1º LugarOuro
400m medley - Masculino
Jogos Pan-americanos
2º LugarPrata
200m costas - Masculino
Jogos Pan-americanos
2º LugarPrata
200m borboleta - Masculino
Jogos Pan-americanos
2º LugarPrata
200m costas - Masculino
Jogos Pan-americanos
3º LugarBronze
200m medley - Masculino
Jogos Pan-americanos
3º LugarBronze
Revezamento 4x100m medley - Masculino

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