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Servílio Sebastião de Oliveira

Servílio Sebastião de Oliveira

modalidade

Boxe

data e local de nascimento

06/05/1948

São Paulo

edições dos jogos olímpicos

1968

BIOGRAFIA

Não aconteceu em um ginásio esportivo, muito menos em uma academia, tampouco à beira de um ringe. A paixão do paulistano Servílio de Oliveira, primeiro brasileiro a conquistar uma medalha olímpica no boxe, nasceu em uma sala de cinema. Em entrevista ao Hall da Fama do COB, ele conta que aos 11 anos foi levado pelo irmão para uma matinê e acabou surpreendido pela programação do Canal 100, uma espécie de cinejornal da época.


“Não era como hoje, que a gente sabe de tudo ao vivo, assistindo televisão ou acessando a internet. Naquele tempo, a informação demorava a chegar e a gente sabia das notícias com atraso, às vezes depois de uma semana ou 15 dias. No dia em que fui ao cinema, foi exibida uma luta do Éder Jofre contra o Danny Kid e, ali, fiquei apaixonado pelo boxe”, lembra Servílio, que, com sua participação Jogos Olímpicos Cidade do México 1968, garantiu uma inédita medalha de bronze para o Brasil. 

Uns anos antes, dois de seus irmãos tinham começado a treinar boxe, motivados pelo primeiro título de campeão mundial de Éder Jofre, um dos mais renomados e carismáticos pugilistas brasileiros. “Eu ficava sempre de olho na rotina dos meus irmãos. Quando eles iam para o trabalho ou para a escola, deixavam as luvas de boxe em casa e eu não perdia tempo para usá-las nos ‘treinos’ com meus amigos”. A rotina informal de treinamento rendeu frutos e Servílio acabou ingressando no Caracu Boxe Clube, coincidentemente localizado na sobreloja de um cinema, na Rua Aurora, região central da capital paulista. Ali, o técnico Morais ficou impressionado com a “boa linha” do menino e apostou nele. 

Campeão na estreia


Mas nem tudo foi tranquilidade ao longo do caminho. As dificuldades econômicas da família pesavam e o Caracu Boxe Clube não andava lá muito bem porque tinha perdido patrocínio. Focado no sonho de ser pugilista, Servílio procurou e acabou encontrando uma alternativa para manter os treinos. “Fui para a Flamingo, que também ficava no centro de São Paulo, participei do torneio do jornal Gazeta Esportiva e fui campeão logo na primeira disputa”, lembra. 

O medalhista olímpico nunca foi de escolher adversário, sempre buscou o combate, independentemente do porte físico do oponente. “No meu bairro, eu ‘batia’ em qualquer um. Mas, muita gente achava que eu não tinha chance alguma como atleta. Eu era magrinho, pesava cinquenta e poucos quilos. Mas, a história mostrou que os fortões ficaram de lado e eu, com aquele corpo fininho, fui o cara que chegou mais longe”, destaca o pugilista, lembrando que fazia sucesso na vizinhança e que seus pais, de origem simples e vida difícil, nunca fizeram restrições à prática do boxe. Ao contrário, sempre o apoiaram, ainda que a mãe, particularmente, preferisse ficar bem longe das lutas do filho. 

Sem dinheiro no bolso

O início de carreira de Servílio foi de grande sacrifício. Morando longe dos locais de treino – inicialmente o Caracu Boxe Clube e, mais adiante, a Academia Flamingo – ele não tinha dinheiro nem para a condução. Seus técnicos quebraram o galho do jovem campeão muitas vezes, apoiando da forma que podiam para que o menino não abandonasse sua trajetória esportiva.

A história começou a mudar quando, na competição conhecida como ‘Forja dos Campeões’, Servílio venceu um atleta da Pirelli. Ali, ele chamou a atenção do técnico do clube de Santo André, recebendo não só um elogio, mas também um convite para passar a integrar o quadro da Pirelli. 

“Minha família era muito humilde, meu pai era um simples pedreiro e minha mãe era dona de casa. Naquela época, não havia Lei de Incentivo, Bolsa Atleta, nada disso. Era difícil viver do esporte sem apoio. Existiam os clubes e as academias, como a Pirelli. Tive a sorte de ser levado pelo Carollo para a Pirelli”, diz ele, referindo-se ao técnico Antônio Ângelo Carollo, que participou de cinco edições de Jogos Olímpicos – Cidade do México 1968, Munique 1972, Montreal 1976, Moscou 1980 e Barcelona 1992.

Carimbando o passaporte

A mudança para a Pirelli foi fundamental para que a carreira de Servílio decolasse. Na segunda metade dos anos 1960, ele teve sua primeira experiência internacional, ao participar dos Jogos Pan-Americanos Winnipeg 1967. Com apenas 19 anos, o pugilista desembarcou no Canadá. 

“Eu era um menino! A Vila Pan-americana, a estrutura esportiva e de alimentação, os atletas de outros países... tudo isso ficou gravado na minha cabeça para sempre. Quando vi os atletas cubanos do boxe jogando basquete, como treino recreativo, fiquei espantado, porque no Brasil ninguém fazia aquilo, a gente só treinava boxe”, recorda. 

Ciente de que não teria muitas chances contra competidores veteranos e bem mais experientes, Servílio estreou vencendo um oponente colombiano. Mas a alegria durou pouco: sua trajetória na disputa por medalha entre os pesos chegaria ao fim logo depois, com a derrota para o norte-americano Harlan Marbley. 

“Naquela época, o Brasil não tinha tradição de participação em torneios internacionais, não havia dinheiro para isso. Eu não tinha possibilidade alguma de subir ao pódio”, explica. 

Vaga olímpica 

Após os Jogos Pan-americanos, a equipe brasileira de boxe disputou o Campeonato Latino-Americano, em Santiago, no Chile. Servílio venceu e conquistou, em março de 1968, seu primeiro título internacional. 

“Naquele tempo, não havia pré-olímpico. O combinado era o seguinte: quem tivesse bons resultados nos Jogos Latino-Americanos seria encaixado na equipe participante das competições os Jogos Olímpicos Cidade do México 1968. E nós fizemos quatro campeões, sendo que eu era um deles”, explica Servílio. Mas, na hora H, o Comitê Olímpico Internacional alegou falta de recursos para garantir a presença dos brasileiros em território mexicano. “Foi quando eu, Kaled Cury, Antônio Carollo, Newton Campos e o próprio Éder Jofre fomos ao DEFE (Departamento de Educação Física e Esportes do Estado de São Paulo), falar com o Sylvio de Magalhães Padilha, então presidente do Comitê Olímpico do Brasil, e ficou resolvido que apenas dois lutadores iriam aos Jogos: eu e Expedito Alencar”.

Pouca experiência não comprometeu feito inédito


Com poucas lutas no portfólio, Servílio de Oliveira fez sua estreia olímpica aos 20 anos. “Eu não tinha feito nem 30 lutas. Minha experiência internacional estava limitada a duas viagens: ao Canadá e ao Chile. Hoje, é possível ver a garotada do boxe com mais de 100, 150 lutas. Agora tem incentivo. A partir de 1998 – principalmente com a Lei 9.615 – surgiu a possibilidade de o esporte e os atletas poderem se desenvolver mais”, conta o pugilista que, no primeiro combate dos Jogos, enfrentou e venceu o turco Engin Yadigar.

“Quando entrei para a primeira luta, deu um frio na barriga. Isso é sempre um sinal de que você está vivo e consciente da responsabilidade que tem ali”, comenta. O brasileiro seguiu bem e, quando venceu Joe Destimo, de Gana, nas quartas de final, no dia 21 de outubro de 1968, já garantiu a medalha de bronze.
Para brigar pelo ouro, Servílio precisaria vencer a semifinal contra o mexicano Ricardo Delgado, três dias depois. Mas, não deu. Veio a derrota. “Quando conquistei a medalha de bronze fiquei com a sensação de missão cumprida. Acredito que se eu não tivesse ficado com aquele pensamento de missão cumprida, teria avançado para a semifinal com outra postura e forçado mais o combate para poder ter o braço erguido pelo árbitro naquela disputa”, confessa. 

A lembrança do momento em que Servílio recebeu a primeira medalha do boxe brasileiro em Jogos Olímpicos ficou marcada para sempre. 

“O pódio olímpico foi uma emoção muito grande. Por muito pouco, em função da falta de verba, nós não participamos daqueles Jogos. Chegar no México e subir ao pódio, tendo no peito uma medalha, das três que o país alcançou naquela edição, foi inesquecível”, vibra o pugilista. 

Grande conquista

Gabriel de Oliveira, segundo filho de Servílio, que foi técnico da Seleção Brasileira de Boxe nos Jogos Olímpicos Atenas 2004, frisa que o pai é um dos pilares do boxe brasileiro. “É impossível falar de boxe sem citar o nome dele. A medalha conquistada por ele no México não é apenas a primeira medalha olímpica do boxe, mas também a primeira de uma modalidade de luta no Brasil”, destaca. 

Gabriel faz questão de observar que, naquele final dos anos 1960, não havia recursos financeiros que permitissem aos atletas fazer um maior intercâmbio internacional, dispor de uma estrutura multidisciplinar e até mesmo de uma orientação ou programa alimentar voltado à busca por melhores resultados esportivos. “Não obstante, Servílio foi lá e fez acontecer. Foi lá e se tornou um dos melhores do mundo mesmo sem o apoio necessário”, orgulha-se o filho do medalhista.

O bronze do boxe em 1968 foi a 14a medalha da história olímpica brasileira, que contabiliza um total de 150 medalhas (37 ouros, 42 pratas e 71 bronzes), conquistadas desde que o país participou pela primeira vez de uma edição dos Jogos, em Antuérpia 1920, até Tóquio 2020. 

Boxe profissional e um acidente de percurso

Depois de conquistar o bronze olímpico, Servílio decidiu se profissionalizar. “Sempre fui um cara consciente, sabia do meu potencial e da possibilidade real de conquistar o título mundial.” A princípio, a trajetória rumo ao cumprimento desta meta foi desenhada sem muitos percalços, apesar dos adversários duríssimos que o pugilista precisou enfrentar. As vitórias se acumulavam até que, em 3 de dezembro de 1971, Servílio sofreu um golpe duro. 

Nesta data, ele encontrou o norte-americano Tony Moreno, no ringue montado no Ginásio do Ibirapuera. A luta fazia parte da etapa eliminatória para o título mundial. Servílio estava indo bem, mas ao receber uma cabeçada involuntária, no sétimo round, sofreu um descolamento de retina no olho direito, que marcou o início do fim do seu maior sonho. Foi uma vitória no ringue acompanhada de um sério abalo na carreira.

“O adversário era muito habilidoso, começou a aplicar golpes somente em cima da minha machucadura. Foi uma luta dura, contra o oponente mais difícil que peguei na carreira, mas saí como vencedor”, descreve. O árbitro Antônio Bernardo opina dizendo: “naquela luta contra o Tony Moreno, o Servílio deu um show de boxe”.
Findado o combate, com o olho inchado, Servílio procurou um oftalmologista, que constatou a necessidade de uma cirurgia. “Assim foi feito, mas não obedeci às recomendações do pós-operatório, porque eu era muito inquieto. Quando voltei ao médico, já com dificuldade para enxergar, ele falou que o problema na minha visão era irreversível, havia passado a ser inoperável.” Nessas condições, o atleta, infelizmente, já não tinha mais condições de continuar lutando pelo título mundial.

O sonho acabou!

“Na época, ouvi muita gente dizer que, se não fosse o descolamento de retina, eu seria tão grande quanto Éder Jofre”, resigna-se Servílio. O árbitro Antônio Bernardo diz não ter a menor dúvida sobre isso: “Com a minha experiência no boxe, desde que o vi lutar pela primeira vez, já sabia que ele seria um grande campeão do mundo. O que me surpreendeu no Servílio foi que ele já dominava o ringue. Além de ser muito técnico, procurava seu adversário o tempo todo.”

Servílio lamenta não ter aceitado os convites que surgiram ao longo da carreira para treinar na Argentina e na Itália. Por razões familiares, principalmente, ele optou por fica no Brasil. “Sabe por que eu digo que o meu erro foi ficar aqui? Porque os dirigentes esportivos não tinham habilidade para conduzir o boxeador degrau a degrau. No meu caso, eles acreditavam tanto em mim que só iam trazendo adversários difíceis. Lutei com um francês duríssimo, com um mexicano também duríssimo. Só peguei carne de pescoço.” 

Em busca de outro sonho

Apesar da dor pela interrupção brusca da carreira, Servílio de Oliveira recuperou a alegria ao se ver desimpedido das obrigações esportivas para poder realizar outro sonho: casar-se com Mariana Victória, sua namorada chilena. Em Winnipeg 1967, ele havia treinado com atletas do Chile e acabou ficando muito amigo do peso pena Alfredo Rojas. Graças a essa proximidade, conheceu a sobrinha de Rojas, por quem caiu de amores.

Em 1972, Servílio mudou para o Chile, casou-se por lá e, com a esposa, teve dois filhos. “Um ano depois, veio o golpe militar no país e passei a ser muito perseguido por causa da cor da minha pele. Eu era confundido com os cubanos, não podia andar tranquilo, perdi meu emprego.” Em dificuldades, o medalhista olímpico viu que não tinha condições de permanecer em território chileno e voltou para o Brasil em junho de 1975.

Breve volta aos ringues

No retorno ao país, foi prontamente acolhido pelo técnico Antonio Carollo, que o levou de volta à Pirelli. “Eu e minha família precisávamos de dinheiro e, como eu ainda tinha um bom condicionamento físico, resolvi voltar a lutar.” 

Mesmo com o problema de visão, de julho de 1976 a novembro de 1977, Servílio fez mais cinco lutas e venceu todas. A decisão de encerrar a carreira aconteceu depois que o brasileiro desafiou o chileno Martín Vargas Fuentes. “Na véspera da luta, fiz um exame oftalmológico e os médicos constataram que eu não enxergava com o olho direito. Eles se apegaram ao regulamento, que impedia a participação de lutadores com baixa visão, e não me deixaram lutar. Foi quando parei definitivamente”, lamenta. 

Fora dos ringues, porém perto do boxe

Como amador, Servílio de Oliveira conquistou 30 vitórias em 35 lutas. Como profissional, foram 20 vitórias em 20 combates. Com esse histórico impecável, ele decidiu continuar atuando no boxe, como auxiliar técnico de Antonio Carollo, na Pirelli. “Ele exigia o máximo de seus pupilos porque se habituou a dar o máximo de si quando lutava”, revela o filho, Gabriel de Oliveira. 

Servílio tinha muita paciência para ensinar os fundamentos básicos do boxe e, assim, aumentar as chances de seus atletas saberem o que fazer em quaisquer situações que se apresentassem durante os combates. “Ele foi, juntamente com o senhor Antônio Carollo, responsável pelo treinamento de uma geração inteira dos mais importantes boxeadores do Brasil. Certamente, com sua experiência, contribuiu muito para o sucesso de cada um deles em suas carreiras”, enfatiza o filho coruja.

Depois de um período bem-sucedido como auxiliar técnico e como técnico, Servílio passou a atuar como gestor. Ele coordenou a equipe de boxe da Associação Desportiva São Caetano, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. 

“O modelo de gestão implementado por ele, naquela época, reverberou naquilo que temos hoje em dia, com os boxeadores amadores podendo receber salários mensais de seus clubes/cidades para poderem se dedicar única e exclusivamente ao treinamento e às competições nacionais e internacionais”, explica Gabriel.

DNA de lutador

Dos cinco filhos de Servílio e Mariana Victória, dois – Gabriel e Ivan – seguiram carreira no boxe. Além do pai medalhista olímpico, eles tiveram a influência dos tios Sérgio e Sinésio, irmãos de Servílio, e do tio-avô Alfredo Rojas, atleta olímpico e ex-campeão chileno de boxe. 

“Decidi seguir os passos do meu pai porque, desde criança, sempre estive envolvido com o boxe. Tenho lembranças muito marcantes da infância: me vejo com 3 ou 4 anos de idade correndo em torno do ringue da Pirelli, em Santo André, desorganizando as luvas do senhor Carollo e balançando todos os sacos de pancadas ao mesmo tempo. Não poderia ser outro o meu caminho, senão enveredar para a modalidade”, emenda o técnico da Seleção Brasileira de Boxe em Atenas 2004, que começou a treinar aos 13 anos e competiu até os 21, conquistando vários títulos no peso mosca, mesma categoria do pai. Depois de perder a seletiva nacional para os Jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata, em 1995, Gabriel decidiu abraçar a carreira de técnico, treinando inclusive atletas apoiados e/ou empresariados pelo pai. 

Enfim, campeão do mundo

Servílio não poderia imaginar que haveria uma segunda chance para o sonho de marcar presença na conquista de um título mundial. Muito menos poderia supor que essa chance viria a partir do apoio garantido ao peso pena Valdemir Pereira, o Sertão. “Eu treinava pelo São Paulo Futebol Clube e, quando foram encerradas as atividades do boxe por lá, minha vontade foi ir embora para a Bahia, para voltar a vender picolé. Mas, surgiu o Servílio na minha vida. Ele veio e cuidou da minha carreira”, recorda Sertão.

Defendendo as cores de São Caetano do Sul, Sertão foi chamado para a Seleção Brasileira e disputou várias competições internacionais, como os Jogos Pan-Americanos Winnipeg 1999 e os Jogos Olímpicos Sidney 2000. Em 2001, Servílio encaminhou Sertão para o boxe profissional. 

“Ele me ensinou a confiar no sonho, a ter paciência, a acreditar sempre.” 
Em 2006, após 22 triunfos consecutivos, Sertão celebrou a conquista do título mundial (versão Federação Internacional de Boxe – FIB), tendo Servílio como empresário e o filho caçula, Ivan de Oliveira, o Pitu, como treinador. “Foi muito bom contar com o Servílio nesta função. A família dele também me ajudou muito: o Gabriel treinava comigo e, depois veio o Pitu, que, no início, era o menino que botava água na boca da gente. Sempre acreditei muito nele”, diz Sertão numa referência ao fato de Ivan de Oliveira, aos 24 anos, ter se tornado o técnico mais jovem a chegar ao título mundial. 

“Levei dois atletas à final do mundial. O primeiro foi José de Arimatéia, que lutou contra o Marcelo Domingues, na Argentina, disputando o título do mundo. Depois, em janeiro de 2006, levei o Sertão para os Estados Unidos e fomos campeões. Ele foi o quarto brasileiro a conquistar um título mundial. Cheguei a ser seu técnico e, quando ele foi campeão, eu já era seu empresário. Não tive a chance de ‘ser’ campeão do mundo, mas sempre pensava que poderia ‘ter’ um campeão do mundo. O tempo passou e finalmente consegui, como dirigente, fazer mais um brasileiro campeão do mundo. É como se eu tivesse ganho o título também”, celebra Servílio. 

A volta do boxe ao pódio olímpico

Durante 44 anos (de 1968 a 2012), a medalha de bronze deste pugilista que começou a carreira lá nos idos de 1960, permaneceu como a única conquista do boxe brasileiro em Jogos Olímpicos. “O Brasil sempre teve bons lutadores. Penso que se a ‘safra’ de atletas mais antigos tivesse tido pelo menos 50% do que é oferecido atualmente para a molecada que está no auge, o Brasil teria chegado muito antes e com muito mais êxito ao pódio olímpico”, opina Servílio. Ele atribui os recentes bons resultados ao apoio financeiro recebido pelo boxe. “Nosso problema nunca foi material humano. A questão era a falta de recursos”, completa. 

O Brasil quebrou o jejum longevo de medalhas no boxe nos Jogos Olímpicos Londres 2012, conquistando uma de prata, com Esquiva Falcão, e dois bronzes, com Adriana Falcão e Yamaguchi Falcão. Esquiva e Yamaguchi treinaram na Associação Desportiva São Caetano, que tinha Servílio como gestor e seus filhos, Gabriel e Ivan, como técnicos. 
“Os irmãos Falcão chegaram muito cedo na equipe de São Caetano, com 14 e 13 anos de idade. Eles tinham muita pré-disposição para a modalidade e garra, porém nenhum alinhamento técnico”, destaca Gabriel. “Como a AD São Caetano tinha uma estrutura de treinamento, alojamento e alimentação que permitia a eles a dedicação de 100% do tempo ao esporte, os irmãos Falcão foram ganhando experiência e não demoraram a ingressar na Seleção Brasileira de Boxe. O próprio Touro Moreno, pai dos meninos, passou uma grande temporada morando na casa dos atletas em São Caetano do Sul e participando dos treinamentos junto à equipe”, completa o filho de Servílio.

Como conta Gabriel, Yamaguchi permaneceu por mais tempo em São Caetano. “Esquiva, por sua vez, decidiu mudar para o Rio de Janeiro, porém, anos depois, justamente no período em que precisou ser afastado temporariamente da Seleção Brasileira, retornou e novamente, em São Caetano, fez a sua preparação para participar do Campeonato Mundial, em 2011, onde conquistou a medalha de bronze e garantiu uma vaga para os Jogos Olímpicos Londres 2012.”

Reconhecimento da nova geração

Os irmãos Falcão ressaltam a importância de Servílio de Oliveira e de seus filhos na preparação rumo ao pódio olímpico. 

“Conheci o Servílio de Oliveira pessoalmente quando fui para São Caetano. Tive a honra de treinar com ele e receber dicas. Treinei também com o filho”, lembra Esquiva Falcão, destacando que ter um medalhista olímpico do lado já seria uma grande honra. “Imagina quando é possível ser treinado por ele! Isso foi essencial para que eu chegasse ao pódio, foi um incentivo para mim.” 
Yamaguchi Falcão, que foi treinado por Gabriel de Oliveira, adota esse mesmo tom ao falar de Servílio. “Ele sempre foi receptivo, me ajudou muito. Sério, respeitado, sempre ajudou os atletas. Sou muito grato. Quando cheguei à Seleção, não tinha muita noção de quão importante era uma medalha olímpica. Eu vinha de uma família muito humilde. Hoje, sei o quanto isso é valioso. Desde que me tornei medalhista olímpico, minha admiração pelo Servílio cresceu ainda mais.”, constata o atleta.

Atletas ainda mais jovens reforçam o grupo de admiradores de Servílio. Róbson Conceição, primeiro campeão olímpico do boxe brasileiro, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016, garante a história do primeiro medalhista olímpico do boxe é inspiradora. “Ele é um grande orgulho”, diz. Hebert Conceição, que ganhou o ouro nos Jogos Tóquio 2020, completa lembrando que Servílio abriu as portas para que o boxe olímpico brasileiro fosse visto e mais respeitado internacionalmente. “Ele nos inspirou muito, nos motivou a querer chegar onde ele chegou. Mesmo com toda a dificuldade, ele conseguiu se tornar medalhista, por isso merece nosso total respeito”, conclui.

Eternizado

Todo este reconhecimento é motivo de grande satisfação, mas Servílio aponta que suas maiores e mais recentes alegrias foram a condução da tocha olímpica nos Jogos Rio 2016 e a inclusão do seu nome incluído no Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil. 

“Vão passar 300, 400 anos e sempre que se falar em Jogos Olímpicos, sempre que o esporte brasileiro for mencionado, o nome de Servílio de Oliveira, o primeiro medalhista olímpico do boxe no Brasil, será lembrado. Está na história.”, diz orgulhoso.

Legado


Além da trajetória com vários lances emocionantes, o legado de Servílio está expresso nas contribuições que seus filhos oferecem ao esporte. Gabriel de Oliveira e Ivan ‘Pitu’ de Oliveira hoje atuam como treinadores de boxe nos Estados Unidos, mais precisamente na American Top Team, uma das principais academias de MMA do mundo, que reúne grandes campeões do UFC.

Como se não bastasse, a tradição da família no boxe brasileiro continua sendo mantida também por Luiz Gabriel Chalot de Oliveira, o “Bolinha”, filho de Pitu. 

“Meu avô tem um grande nome no boxe e meus tios e meu pai acabaram seguindo a mesma trilha. Fui influenciado por eles, claro, e acabei criando gosto pelo esporte. A parte boa de ser desta família é que o boxe já está no sangue, a paixão pela modalidade vem de berço. A parte ruim é a pressão. No início, passei por isso. Hoje, já provei que mereço ser visto não apenas como o neto do primeiro medalhista do boxe brasileiro, mas sim pelos meus resultados e pelo meu valor”, pondera o jovem neto de Servílio.
Porta-bandeira da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos da Juventude Buenos Aires 2018, ‘Bolinha’ conquistou a medalha de bronze na Argentina. Dali para frente seus planos tornaram-se mais ambiciosos e o atleta agora mira o pódio olímpico. A história de amor pelo boxe, que começou com Servílio de Oliveira, em uma sessão de cinema, nos anos 1960, certamente, terá novos e emocionantes capítulos. O esporte brasileiro agradece! 

Servílio Sebastião de Oliveira

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Medalhas em jogos olímpicos

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Servílio de Oliveira recebe homenagem do Hall da Fama do COB

Servílio de Oliveira foi o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha no boxe em Jogos Olímpicos. O feito demorou 44 anos para ser superado. 
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Servílio de Oliveira fala sobre sua trajetória ao Hall da Fama do COB

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A primeira medalha olímpica do boxe brasileiro foi de Servílio de Oliveira

O boxeador conquistou a medalha de bronze nos Jogos da Cidade do Méxido 1968.
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ediçãoresultadoprova
Jogos Olímpicos Cidade do México 1968
3º LugarBronze
Peso-Mosca - 51Kg

ACERVO

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