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Tetsuo Okamoto

Tetsuo Okamoto

modalidade

Natação

data e local de nascimento

20/03/1932

Marília

BIOGRAFIA

Quando começou a nadar, Tetsuo Okamoto não sonhava com títulos, muito menos com o pódio olímpico. Só queria viajar e conhecer o Brasil. Com o desejo de cruzar as fronteiras da cidade do interior onde vivia, o jovem descendente de japoneses não pensou duas vezes antes de aceitar o convite do ex-nadador Fausto Alonso para integrar a equipe de natação do Yara Clube de Marília. Com muito treino e dedicação, ultrapassou barreiras e entrou para a história ao conquistar a primeira medalha da natação brasileira em Jogos Olímpicos. 

Na década de 40, as distâncias eram mais longas e viajar era coisa de quem tinha boas condições financeiras. Para percorrer os 431,1km de distância entre Marília a São Paulo, por exemplo, gastava-se cerca de doze horas de trem.

“Era muito difícil e caro viajar e sabíamos que, se fôssemos competitivos, poderíamos conhecer vários lugares. Começamos treinando para ganhar viagens e fomos crescendo. Assim, participei do campeonato paulista e do brasileiro, além dos regionais”, declarou Tetsuo Okamoto, em entrevista à Revista Nippon nº 29, antes do seu falecimento, em 1º de outubro de 2007. 

Natação como terapia

Asmático, Tetsuo começou a praticar natação aos oito anos, por recomendação médica. Ele nadava na ‘Piscina do Japonês’, propriedade do senhor Yamazaki, localizada no bairro Fragata, em Marília.

“Eu tinha uns 15 anos e passei a treinar com esse grupo num bom clube, deixando de lado aquela piscina sem azulejos onde eu havia iniciado”, destacou na mesma entrevista à Nippon, se referindo à fase que se iniciou quando integrou a equipe do Yara Clube de Marília.

Quinto filho do engenheiro agrimensor Sentaro Okamoto e da dona de casa Tsuyoka, Tetsuo, o caçula, nasceu no dia 20 de março de 1932 e sempre foi franzino. O corpo esguio lhe valeu o apelido de “Tachinha”, “porque tinha a cabeça grande e o corpo magrinho”, definia ele. O biotipo aparentemente frágil fazia com que o técnico não forçasse muito os treinos. Assim, Tetsuo e os demais integrantes da equipe treinavam, em média, de 1.000 a 2.000 metros por dia.   

Peixes Voadores

Em 1949, após a II Guerra Mundial, o Major Sylvio de Magalhães Padilha, então diretor do DEFE  (Departamento Estadual de Esportes de São Paulo) e que, anos depois, viria a ser presidente do Comitê Olímpico do Brasil, convidou os “Peixes Voadores”, equipe de natação japonesa composta por recordistas mundiais, para fazer demonstrações na capital e no interior de São Paulo. 

“O Japão era um país proibido no mundo, dominado pelos aliados, fundamentalmente pelos americanos. Era um país que tinha se rendido na guerra e praticamente banido. Foi a primeira delegação japonesa, em qualquer segmento, não só esportivo, que foi a outro país representando o Japão depois da guerra”, informa o advogado Alberto Murray, neto do Major Padilha. 

A apresentação da equipe em Marília revolucionou a carreira de Tetsuo Okamoto. 

“Aqueles atletas japoneses ensinaram muitas coisas a ele e uma delas foi quanto à necessidade de aumentar sua carga de treinos para 10 mil metros por dia. Tetsuo foi considerado o pioneiro na superação em busca de resultado”, pontua Cristina Suzue Eizo, sobrinha de Okamoto. 

A prática era dividida em duas sessões diárias.

“No final da década de 40, ele absorveu a preparação dos japoneses e passou a treinar um volume cinco vezes maior e por isso virou fundista”, explica Renato Cordani, vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). 

Focado

Alto, flexível, concentrado, Tetsuo tinha um estilo bonito de nadar e foi o único atleta da equipe a aceitar o desafio de treinar nos mesmos moldes que os “Peixes Voadores”. 

“Eu fui o único doido que decidiu treinar duro para ser campeão”, ele afirmava. “A vida é uma luta que aos fracos abate e aos fortes exalta” era um dos seus mantras.

A árdua rotina de preparação tinha um toque de poesia. Amigos declaram que o atleta de Marília sempre cantava durante os treinos para espantar a tédio. No documentário “O Nadador – a história de Tetsuo Okamoto”, Paulo Catunda, atleta da natação que defendeu o Brasil nos Jogos Pan-americanos 1951, ao lado de Tetsuo, compartilha o que ele dizia sobre os treinos:

“Eu não contava ladrilhos! Eu via as nuvens se espelharem no meio da piscina e eu nadava no meio das nuvens”. 

Destaque nos Jogos Pan-americanos

Um ano depois de começar a seguir os conselhos dos “Peixes Voadores”, Tetsuo venceu o Campeonato Paulista e o Brasileiro, estabelecendo um novo recorde para os 400m livre. Em 1951, ele quebrou o recorde sul-americano pela primeira vez, com 19min24s3 nos 1500m livre, tornando-se o primeiro brasileiro a nadar a distância abaixo dos 20 minutos. 

O ano também marcou a realização da primeira edição dos Jogos Pan-americanos, em Buenos Aires, na Argentina. Lá, o brasileiro continuou colhendo os frutos da sua nova metodologia de treinamento. Foi campeão nos 400m e 1500m livre, prova em que voltou a bater o recorde sul-americano, e ficou com a medalha de prata no revezamento 4x200m livre. Na volta, houve uma grande festa em Marília. O prefeito decretou feriado e montou um palanque para a homenagem.

“Ganhei manchete nacional numa época em que o esporte brasileiro estava em baixa, principalmente por causa da derrota do futebol na Copa do Mundo realizada no Brasil em 1950. Voltei como herói. O Brasil conquistou ao todo cinco medalhas de ouro e eu participei com duas”, festejou Tetsuo em entrevista à Revista Nippon. “Eu fui recebido com todo afeto e amor pela população de Marília. Foi uma demonstração de todos os cidadãos marilienses, uma recepção tipo dos tempos helênicos, quando o campeão de uma edição dos Jogos Olímpicos voltava para casa e era recebido com feriado e festejos”, disse ele no documentário “O Nadador – a história de Tetsuo Okamoto”. 

O carro que não veio

Além da festa e das homenagens, depois das conquistas no Pan Buenos Aires 1951, a colônia japonesa ofereceu um carro a Tetsuo, mas ele não aceitou, temendo infringir a Lei do Amadorismo vigente na época. Segundo a lei, o atleta amador tinha que competir “por esporte” e não poderia receber nenhuma recompensa financeira por sua atuação. 

“Aceitar o presente resultaria em perder a condição de amador, não ter mais chances de ir aos Jogos de Helsinque e a oportunidade de ganhar uma medalha olímpica”, destaca Cristina Suzue Eizo, sobrinha do nadador.

Um concorrente?

No Campeonato Sul-americano, disputado em Lima, no Peru, Tetsuo ficou com a medalha de ouro nas provas dos 400m, 800m e 1500m, seguido pelo também brasileiro Sylvio Kelly dos Santos, que terminou em segundo na prova mais longa. Dois meses depois, o carioca Kelly superou os recordes sul-americanos de Tetsuo nos 800m e nos 1500m, apresentando-se também como um forte concorrente para os Jogos Olímpicos Helsinque 1952. 

Em julho de 1952, o inverno rigoroso de Marília levou Tetsuo a abandonar os treinos por cerca de 10 dias, já que era quase impossível enfrentar os 14 graus C da água. Na época, piscinas aquecidas não eram comuns no Brasil e os nadadores não dispunham sequer de óculos de natação. Em seu primeiro treino com baixas temperaturas, ele desistiu depois dos primeiros 100 metros.

“Estou com a vaga assegurada nos Jogos e vou lá apenas passear mesmo. Se eu continuar a nadar, pego uma pneumonia”, ele teria dito. 

Embora tivesse treinado mais do que qualquer um dos seus concorrentes no Brasil, Tetsuo não conseguiu manter o ritmo nos dias que precederam a viagem para a Finlândia. Já não era mais o melhor do país e embarcou sem muitas esperanças para Helsinque, embora ainda sonhasse com uma medalha olímpica. 

“Sonhar, eu sempre sonhava. Enquanto nós nadávamos aqui no inverno, os europeus e americanos estavam treinando em temporada de verão. Meus preparativos aqui foram em piscina sem aquecimento, chegávamos a treinar com temperatura de 16 graus, 17 graus C, enquanto eles estavam treinando lá com temperaturas de 26 graus, 27 graus C. Eu tinha desistido, mas lá a gente se animou e eu comecei a me preparar”, observou Tetsuo, em entrevista registrada no documentário sobre a sua trajetória, disponível na internet. 

Chegando lá, o brasileiro encontrou uma piscina aquecida e teve longos 15 dias para treinar em boas condições até a prova dos 1500m livre. Tetsuo abandonou a ideia de disputar duas provas e se concentrou na que mais gostava, mesmo sabendo que teria de superar alguns dos “Peixes Voadores”.
 

Garantido na final

No dia 31 de julho, às 10 horas da manhã, tiveram início as eliminatórias dos 1500m livre. O também brasileiro Sylvio Kelly marcou 19min26s08, ficou em quarto lugar na sua bateria e não conseguiu se classificar para a final. Com 19min05s6, Tetsuo foi o vencedor da terceira bateria, voltou a ser o recordista sul-americano da prova e garantiu sua vaga na final, com o quarto melhor tempo, à frente do norte-americano Jim Mclane (19min09s3), campeão olímpico da prova em Londres 1948, e do “Peixe Voador” Yasuo Kitamura (19min10s3).   

Tetsuo passou a noite anterior à final acordado, conversando com o chefe da delegação brasileira. Embora muitos digam que a insônia foi provocada pela ansiedade, a sobrinha Cristina Eizo tem outra versão.

“Nada a ver com nervosismo ou ansiedade. Ele ficou sem dormir porque seus colegas resolveram festejar a noite inteira, já que estavam nos últimos dias de competição”, afirma.

Disputa eletrizante 

Definida pela imprensa da época como “Um dos maiores duelos aquáticos dos Jogos Olímpicos Modernos”, a final dos 1500m aconteceu no dia 2 de agosto de 1952, às 17h. Quatro dos “Peixes Voadores” que estiveram no Brasil participaram  da prova. 

Em descrição feita pelo jornalista Carlos Eduardo Dudorenko, no site do Hall da Fama da Natação Brasileira, “Shiro Hashizume saiu num ritmo muito forte, disposto a definir a prova logo no início, mas o norte-americano Ford Konno e Tetsuo também forçaram e acompanharam de perto a arrancada do japonês até os 600 metros. Tetsuo cansou e foi perdendo o contato com os líderes da prova e ao mesmo tempo o norte-americano Jim McLane começou a caçar Tetsuo em busca do bronze. Nos 1200 metros, Konno e Hashizume viraram praticamente juntos e McLane estava quase colado em Tetsuo. Konno deu uma arrancada sensacional nos últimos 300 metros, atropelando o ‘peixe voador’ japonês e estabelecendo o novo recorde olímpico da prova, melhorando em 4 segundos a marca obtida por Hashizume na eliminatória. A briga pelo bronze olímpico foi mais sensacional ainda, com McLane virando junto com Tetsuo nos 1300 metros e à frente nos 1400 metros. Parecia que o Brasil iria amargar um quarto lugar, pois em provas de 1500 metros é muito difícil segurar o adversário que arranca no final. Nos 1450 metros McLane ainda virou na frente, mas Tetsuo conseguiu forças sabe-se lá de onde para bater na frente de McLane por dois décimos de segundo, em uma reviravolta incrível. Tetsuo e McLane fecharam os últimos 100 metros em uma parcial mais forte que Konno, o campeão da prova. O público vibrou muito com essa prova e aplaudiu o podium ‘japonês’ dos Jogos Olímpicos de Helsinque.”

“Essa prova foi espetacular”, avalia Renato Cordani, vice-presidente da CBDA.

O tempo que garantiu a medalha de bronze a Tetsuo (18min51s3) lhe rendeu também um novo recorde sul-americano para os 1500m livre. A marca permaneceu por dez anos.  

“Um vazio”

No pódio, Tetsuo Okamoto não chorou nem vibrou. Segundo Cristina Suzue Eizo, sobrinha do atleta, ele dizia: “Quando eu subi no pódio para receber a medalha, senti, de repente, vendo a bandeira, aquela satisfação. Parecia que o corpo estava cheio. De repente, senti um vazio, acho que deve ter sido um sonho que tinha acabado. Missão cumprida”. 

Na volta ao Brasil, houve festa e feriado em Marília mais uma vez. Tetsuo desfilou em carro aberto e passou a ser tratado como herói pela imprensa.

“Se tivesse dois meses para treinar em Helsinque, eu iria disputar o primeiro lugar”, foi a declaração dele ao Jornal Última Hora.

Ao entrar para a história como o atleta que conquistou a primeira medalha da natação brasileira, Tetsuo Okamoto também trouxe orgulho e motivação para a colônia japonesa no pós-guerra. 

“O Japão fora derrotado e muitos japoneses do Brasil tinham sido humilhados durante a guerra e viviam na roça em condições difíceis. Acredito que o fato de ver alguém se destacando ajudou a motivá-los. O significado daquela medalha foi como se fosse uma conquista da coletividade”, compartilhou ele, em entrevista à Revista Nippon.

Sem “paitrocínio”

Depois de se tornar medalhista olímpico, Okamoto mudou-se com a família para São Paulo e recebeu um ultimato do pai, que deixou de arcar com seus custos.

“Você já se tornou o campeão, me deu muita honra e satisfação, agradeço muito, mas é hora de cuidar da vida”, foi a fala do senhor Sentaro ao filho, de acordo Cristina Eizo. 

“Daquele momento em diante, eu deveria trabalhar e estudar se quisesse ter uma vida tranquila pela frente. Na época, o esporte era puramente amador e não podíamos ter qualquer remuneração ligada ao esporte. Trabalhando e estudando, não tinha tempo para treinar”, dividiu Tetsuo em entrevista à Revista Nippon

Informado por um atleta peruano que estudava nos Estados Unidos, o brasileiro buscou uma bolsa na Agricultural and Mechanical College of Texas, uma escola militar americana, onde estudou Administração e Geologia e defendeu a universidade nos torneios regionais e campeonatos universitários na América.

Segregação racial

Descendente de japoneses, Okamoto foi para a América numa época marcada pelos conflitos raciais entre brancos e negros, mas não se sentiu  discriminado. 

“Como o principal atleta da equipe de natação, não sofri preconceito algum na universidade, mas os negros e latinos em geral não podiam estudar no mesmo campus dos brancos. Havia banheiros e bebedouros separados para os brancos e os negros na cidade. Eu entrava com os brancos, mas quando fui para a Califórnia os banheiros eram para brancos e ‘coloridos’. O ‘colorido’ no caso incluía todos menos os brancos”, declarou em entrevista à Nippon.

Herói desconhecido

Bem diferente dos heróis olímpicos contemporâneos, que têm seus feitos transmitidos ao vivo pela TV, reportagens e entrevistas incontáveis e o apoio das redes sociais para estar cada vez mais perto do público, inspirando crianças e jovens a seguirem os seus passos, a glória de Tetsuo Okamoto passou como o vento. Ao se mudar para os Estados Unidos logo após a conquista em Helsinque e deixar de participar de provas no nosso país, o primeiro medalhista da natação brasileira passou a ser lembrado apenas em época de Jogos Olímpicos, quando era convidado a inaugurar piscinas, fazer demonstrações e dar algumas entrevistas. 




“Quando ele foi para os Jogos Olímpicos em 1952 eu tinha 13 anos, morava num colégio interno e nem nadava ainda. Logo em seguida, ele foi morar nos Estados Unidos, não competia mais no Brasil. A divulgação naquela época era precária. Fui saber quem era ele quando comecei a nadar, aos 16 anos e, só depois de muitos anos, eu vim conhecer o Tetsuo”, explica Manuel dos Santos, o segundo medalhista da natação brasileira, com o bronze nos 100m livre nos Jogos Olímpicos Roma 1960.

“A conquista dele aconteceu antes de eu nascer. Isso não passava na TV para a gente ver, achar legal e se inspirar”, argumenta Ricardo Prado, medalha de prata nos 400m medley, nos Jogos de Los Angeles 1984. “Eu me lembro de crescer ouvindo falar dos feitos dele, até porque ele era de uma cidade próxima da minha, no interior de São Paulo. Eu sou de Andradina, e ele, de Marília, na mesma região. Eu sabia das medalhas e da importância dele e também do Manoel dos Santos para o esporte”, prossegue. 

Longe dos holofotes

Tetsuo Okamoto retornou ao Brasil em 1959, fundou uma empresa de perfuração de poços artesianos e só nadava para se divertir. Não usou seu feito para se promover e não recebeu o devido reconhecimento enquanto viveu. 

“Acredito que em vida ele poderia ter sido mais reconhecido, mais valorizado, ser convidado para mais eventos. O exemplo dele deveria ter sido mais divulgado para atletas que poderiam ter se inspirado na história dele”, lamenta Ricardo Prado. 
 
“Ele foi medalhista olímpico na década de 50, quando não havia muita divulgação. O espírito olímpico no Brasil é um sentimento de conquista recente”, analisa Cristina Eizo. 

“Na época dele, os heróis olímpicos eram pouco reconhecidos”, reafirma Renato Cordani.

Legado 

Okamoto recebeu algumas homenagens em Marília e em São Paulo, mas não precisou virar celebridade para deixar seu legado para as futuras gerações de nadadores no Brasil.

“Cada medalhista inspira a próxima geração. Manoel dos Santos se inspirou em Tetsuo, os nadadores do 4x200m se inspiraram no Manoel, Pradinho [Ricardo Prado] no revezamento e assim por diante”, raciocina Cordani. 

“Tetsuo Okamoto teve uma grande influência na natação brasileira. Trouxe a primeira medalha olímpica numa prova de fundo e impactou muitas gerações”, observa Gustavo Borges, ganhador de quatro medalhas em Jogos Olímpicos. 

“Tetsuo será sempre um ícone, porque naquela época a gente carecia de ícones na natação brasileira, ele apareceu e foi muito bem, o primeiro medalhista olímpico. O estilo dele de nadar era alongado. Eu já nadava, já era campeão sul-americano quando o conheci, quando o vi nadando, mas me serviu de referência para eu me alongar”, destaca Manoel dos Santos. “No fim da vida dele, nos tornamos amigos. Ele era um cara muito, muito tranquilo e não tinha nada de vaidade. Era muito quieto e atendia todo mundo com a maior boa vontade. O que eu guardo dele é a modéstia que ele tinha”, elogia o segundo medalhista olímpico da natação brasileira. 

Ídolo na família

Solteiro até o final da vida, Tetsuo não teve filho, mas investiu na carreira do sobrinho-neto Fabrício Eizo como seu “herdeiro” no esporte. Por influência do tio-avô, Fabrício começou na natação, mas, apesar de ter se destacado, optou por se dedicar ao karatê.

“Desde pequeno, fui incentivado por ele para seguir por este caminho do esporte, pois ele sabia que com dedicação e persistência podemos ir muito longe. Sempre que possível, ele acompanhava meus campeonatos e me dava conselhos esportivos. Digo isso pois praticava um esporte diferente e tecnicamente desconhecido por ele. Contudo, a receita da vitória ele já conhecia muito bem e me incentivava a persistir, me dedicar e seguir treinando que o resultado viria como consequência”, compartilha Fabrício Eizo, que competiu até os 26 anos e colecionou importantes conquistas, como uma medalha de ouro, uma de prata e uma de bronze no Campeonato Brasileiro, cinco títulos paulistas, o vice-campeonato dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo, além de participar de dois Campeonatos Pan-americanos e integrar as seleções paulista e brasileira de karatê.

“Ele era uma pessoa de poucas palavras, que liderava mais através de atitudes do que de discursos. Sempre foi um atleta dedicado, persistente e resiliente. Demonstrava esta vontade de querer ir mais longe, independentemente do obstáculo posto à sua frente. Foi nisso que eu mais me apeguei para conquistar os títulos que conquistei”, diz.

Em paz

O primeiro medalhista olímpico da natação brasileira continuou nadando como hobby até 2003, quando começou a ter problemas de saúde. Com insuficiência renal, passou a fazer hemodiálise com frequência. Viveu os últimos anos ao lado da família e faleceu, vítima de insuficiência cardíaca e respiratória, no dia 1º de outubro de 2007, em São Paulo. 

Segundo Cristina Eizo, sobrinha do nadador, o tio carregava um certo ressentimento por ter sido esquecido, mesmo tendo sido o primeiro medalhista da natação brasileira.

“Hoje você é campeão, todo mundo te procura e, depois, quando precisa, ninguém te dá bola”, é uma das frases dele, registrada em entrevista na Revista Carta Capital, que também ressalta a ausência de tristeza e o cativante sorriso no rosto que marcava a presença de Tetsuo.

A família festeja a entrada dele no Hall da Fama do COB como uma honra.

“Para alguns pode parecer trivial, mas ser o primeiro é sempre mais difícil. Ser o primeiro medalhista olímpico e ter o reconhecimento mesmo depois de tantos anos é sinônimo de orgulho. Eu me sinto honrado por carregar o mesmo sangue batalhador deste atleta inspirador. Para aqueles que não tiveram a honra de conhecer meu tio, a sua entrada no Hall da Fama do COB representa o reconhecimento da sua trajetória heroica e a eternização do seu nome por meio de suas conquistas mundo afora”, festeja Fabrício Eizo.

“Mais do que merecida a entrada dele para o Hall da Fama do COB. A gente tem poucos heróis no Brasil e, sem dúvida nenhuma, uma pessoa que foi o primeiro medalhista da natação olímpica e teve influência e impacto que ele teve, merece seu espaço sim dentro do Hall da Fama”, declara Gustavo Borges. 



Preservação da história

Manoel dos Santos lembra, com tristeza, que já foi abordado por repórteres que não faziam ideia de quem ele era e do que havia feito em prol do esporte olímpico nacional. Por isso, exalta a iniciativa do Comitê Olímpico do Brasil para a preservação da memória do esporte.

“Muito boa essa iniciativa do Hall da Fama. Tudo isso precisa ser registrado para alguém ler, estudar, porque a história não volta atrás”, apoia.

“Essa homenagem é muito importante, é o resgate da história desse pioneiro, primeiro medalhista da natação do Brasil”, reforça Renato Cordani, vice-presidente da CBDA.

“A gente deveria, inicialmente, fazer um pente fino nessa galera do passado, que abriu o caminho e muitos não sabem, não entenderam a história e não puderam se inspirar. Está mais do que na hora! Tetsuo Okamoto era um cara que a gente sabia muito pouco sobre ele, era super na dele e a gente tem que tentar aprender a valorizar um pouco mais o passado. Uma maneira de fazer isso é o Hall da Fama do COB, acho bem interessante ele estar lá, é mais do que merecido. Ele era realmente um em um milhão”, pontua Ricardo Prado. 


Tetsuo Okamoto

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Medalhas em jogos olímpicos

Vídeo

Tetsuo Okamoto é homenagedo no Hall da Fama do COB em 2021

Cristina Eizo, sobrinha de Tetsuo Okamoto, recebe a homenagem póstuma do Hall da Fama no Prêmio Brasil Olímpico em 2021.
Vídeo

Hall da Fama do COB - Homenagens no Prêmio Brasil Olímpico 2021

Paula (basquete), Sebastián Cuattrin (canoagem de velocidade), Adhemar Ferreira da Silva (atletismo) e Tetsuo Okamoto (natação) foram homenageados no Hall da Fama do COB durante o Prêmio Brasil Olímpico em 2021. Adhemar e Tetsuo, atletas já falecidos, foram representados por familiares e receberam placas comemorativas enaltecendo a importância de seus feitos para o esporte nacional. 
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Jogos Pan-Americanos
1º LugarOuro
400m livre - Masculino
Jogos Pan-Americanos
1º LugarOuro
1.500m livre - Masculino
Jogos Pan-Americanos
2º LugarPrata
Revezamento 4x200m livre - Masculino

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