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Vanderlei Cordeiro de Lima

Vanderlei Cordeiro de Lima

modalidade

Atletismo

data e local de nascimento

04/07/1969

Cruzeiro do Oeste

BIOGRAFIA

Vanderlei Cordeiro de Lima ainda não tinha completado 19 anos quando, em 1988, literalmente decolou pela primeira vez na vida. Para aquele jovem de origem extremamente humilde, que havia decidido apostar todas as fichas no atletismo, viajar de avião representava uma conquista inimaginável. Em Guarulhos, prestes a embarcar para a América do Norte, Vanderlei sentia-se como se estivesse a caminho da Lua, prestes a conhecer um novo mundo. 

Aquele aeroporto, o avião no qual ele embarcou e principalmente o destino da viagem, tudo era muito distante da realidade de onde nasceu, em Cruzeiro do Oeste, ou de onde cresceu, nas lavouras de Tapiras, duas cidades do interior do Paraná. Vanderlei ajudou os pais nas lavouras desde pequeno e estava sentado naquela cadeira porque no Campeonato Brasileiro júnior de Atletismo ele garantira uma vaga para representar o país no Mundial. 

“Eu acho que fui terceiro nos 10.000m e conquistei a minha vaga para o Mundial do Canadá. Quinze dias antes da competição, a equipe brasileira viajou para Columbus, em Ohio, nos Estados Unidos, onde competimos para nos prepararmos para o Mundial”, lembra Vanderlei. “Rapaz, viajar de avião foi uma sensação incrível. Nos 15 dias que antecederam a viagem, eu pensei que precisava arrumar dinheiro para comprar uma roupa nova, porque eu queria estar bonito para viajar. Foi divertido. Não tem como explicar a sensação de ter vivido aquilo”, continua. “Eu não esqueço até hoje a roupa que vestia: calça de veludo e camisa de manga comprida vermelha. Parecia um artista. Nossa Senhora! Foi bom demais, marcante!” 

No início, o futebol 

Vanderlei Cordeiro de Lima nasceu em 4 de julho de 1969 no Paraná por força da determinação dos pais, que deixaram o sertão do Nordeste em busca de melhores oportunidades. 

“Eu sou filho de retirantes nordestinos. Meu pai, José Cordeiro de Lima, era paraibano. E minha mãe, Aurora Maria da Conceição de Lima, pernambucana”, conta Vanderlei. “Em 1953, meus pais deixaram o Nordeste fugindo da dificuldade, da seca, e vieram para o Paraná. Eles saíram de Monteiro, na Paraíba, para buscar uma situação melhor. A situação melhor que eles acharam era que água não faltava e o verde existia, né? Mas as dificuldades não foram diferentes das que eles enfrentaram no Nordeste. Eles vieram para o Paraná prestando serviço para outras pessoas, o chamado boia-fria, e essa foi a minha infância e juventude. Desde criança, com 7, 8 anos, eu já ajudava meus pais na lavoura, prestando serviço para outras famílias. Foi uma infância bastante difícil. Na verdade, eu não me lembro de ter acesso a nada. A gente mal tinha para comer”, recorda. 

Ainda assim, mesmo em meio a uma infância repleta de restrições, havia espaço para sonhar. E os primeiros sonhos giravam em torno da glória no mundo do futebol. 

“No fim do dia, a molecada se reunia num gramado ou num pasto. Com uma bola ou uma peteca já tem diversão, né?”, lembra. “A gente se via nessa situação, no mundo do futebol, porque era o único esporte que a gente conhecia e ouvia falar. Cada criança daquela que brincava no meio do pasto se sentia um jogador de futebol.  

Jogos Regionais 

Apesar do fascínio, Vanderlei jamais teve a chance de se aventurar como jogador de futebol. Mas ao ser apresentado a outros esportes, ele percebeu rapidamente que o atletismo seria capaz de leva-lo a explorar novidades que o trabalho nas lavouras em Tapira jamais permitiria. 

“Quando estava no ginásio, com 15 para 16 anos, o professor Alnei César Moreira passou a dar outras atividades:  voleibol, handebol e outras brincadeiras. Foi justamente nessa escola que eu conheci a corrida. Foi o que me motivou a fazer esporte e que me descobri como atleta”, revela. 

Antes do início das atividades, Alnei orientava seus alunos a fazerem uma corrida. E essa foi a porta de entrada no mundo do atletismo. Começava ali uma estrada que mudaria radicalmente sua vida, que o levaria a conhecer o mundo e que faria dele um medalhista olímpico. Em 1985, aconteceram os Jogos Regionais Escolares, e o professor levou uma equipe para disputar a competição em Umuarama. Nela estava Vanderlei, que se classificara para correr os 800m e os 1.500m. 

“Na verdade, estava pegando carona no esporte só para poder viajar, queria ir a Umuarama. Não fui com o objetivo de correr e de ganhar. Eu queria mesmo era conhecer um lugar diferente”, ressalta. “Tive a chance de viver o ambiente do esporte. Vi que era muito legal e comecei a me empolgar com aquilo”. 

O fascínio pelo clima da competição ganhou um outro nível quando Vanderlei se deu conta de que, no esporte, os melhores são premiados com um símbolo que representou uma segunda onda de estímulo para aquele menino. 

“Lembro-me que no último dia dos Jogo teve uma prova de oito quilômetros, com a presença de um atleta convidado, o Eloy Schneider, maratonista do Sesi. Eu nunca esqueço porque ele foi um dos primeiros atletas que vi correr. Eu não tinha experiência nenhuma e ninguém vai fazer resultado sem treinar. Não existe milagre no esporte. Nem lembro em qual colocação cheguei, mas não foi entre os vinte primeiros que ganhavam medalhas. Acho que terminei em 22º ou 23º. Vi as medalhas com aqueles atletas e fiquei impressionado com aquilo e falei que eu iria ganhar uma”. 

Primeiro tênis 

A corrida é um esporte barato se comparado a vários outros. Em muitos casos, basta um bom par de tênis e muita disposição para treinar. Contudo, em meio às dificuldades que Vanderlei e sua família viviam, até isso era algo impensável. 

“A gente mal tinha para comer. Se você me perguntar: 'Vanderlei, quando você era jovem, no seu aniversário você ganhava presente?' Isso nunca fez parte da minha vida. Mas fui muito agraciado com pessoas que me ajudaram, que doavam roupa, às vezes calçados, e isso era o que fazia diferença para a gente”. 

“Depois desses Jogos Escolares, o diretor do colégio me presenteou com um par de tênis. Foi o Francisco Peressim, o Chicão”, diz Vanderlei, que guarda na memória o nome de todos os que tiveram papel relevante em sua vida. 

Motivado pelas experiências vividas em Umuarama e pelos tênis que havia recebido de Chicão, Vanderlei Cordeiro começou a treinar. 

“Para esse primeiro evento, o Alnei acabou dando algumas instruções. Ele fez uma preparaçãozinha para que a gente pudesse ir para os Jogos Escolares. Depois da experiência em Umuarama, me motivei a treinar”, conta. “Voltando para a cidade onde eu morava, Tapira, uma cidadezinha a 70km de Umuarama, tinha um amigo, o Zé Maria, que gostava de participar de corridas de rua e comecei a treinar com ele. Naquela época, em todo aniversário da cidade eles faziam uma corrida para comemorar. Comecei a treinar com o Zé Maria, duas a três vezes por semana.  E comecei a ir para as corridas com ele. Eu queria ganhar uma medalha, né?” 

15 de novembro de 1985 

Na incrível vida de Vanderlei Cordeiro de Lima, o dia 15 de novembro de 1985 pode ser considerado uma espécie de batismo. Não é exagero dizer que nesta data ele deu início à trilha que o levaria a conquistar o mundo. De quebra, o garoto ainda realizou o sonho que passou a alimentar desde a participação nos Jogos Escolares de Umuarama. 

“Eu fui participar da minha primeira corrida no dia 15 de novembro de 1985. Era uma corrida de aniversário de uma cidadezinha chamada Indianópolis, e eu quase morri para chegar”, conta, divertindo-se com as lembranças. “Eram 20 quilômetros e eu não tinha tanto treino. Rapaz, eu acho que andei umas três ou quatro vezes na corrida. Mas terminei em primeiro na categoria juvenil. E ganhei uma medalhinha que eu guardo com muito carinho até hoje. Aquela medalhinha foi o maior prêmio que eu ganhei na minha vida, porque me abriu as portas”, emociona-se. 

A condecoração aumentou o apetite de Vanderlei Cordeiro de Lima, que passou a alimentar novos sonhos. “Depois que eu ganhei essa medalhinha, eu queria ganhar meu primeiro troféu. Porque naquela época a premiação era medalha e troféu. Não tinha premiação em dinheiro.  Via aquele monte de troféu e pensava: 'Quero ganhar um desses. Fui pegando gosto pela coisa'”. 

Enquanto Vanderlei sonhava, seus pais, mesmo sem entender direito o que o filho estava fazendo, o apoiavam.  

“Meus pais são pessoas muito humildes, analfabetos. Meu pai nem tinha noção do que era esporte. Onde eu morava, quem se dedicava somente ao esporte era vagabundo. Meu pai não tinha como ajudar financeiramente, mas sempre deu apoio, tanto ele quanto minha mãe”, conta. “Quando eu voltei com a medalha de Indianópolis, eles gostaram. Ficaram felizes porque era uma novidade, né? Era diferente da realidade que a gente vivia. Apesar de ser uma medalhinha insignificante, eles perceberam a minha felicidade”. 

Vida nova em Maringá 

As corridas não tardaram a abrir portas para Vanderlei. E foi nesse sentido que Maringá entrou na vida daquele menino de Cruzeiro do Oeste. 

“A minha carreira foi um processo. No começo, não tive oportunidade nem orientação específica para fazer o atletismo. Fui aprendendo um pouco com a vida. Quando eu ia para as corridas do interior, sempre ficava entre os três primeiros no geral, mesmo sendo juvenil.  Após uma boa prova em Maringá, fui convidado para morar lá”.  

Vanderlei passou a trabalhar na indústria moveleira e morava de favor na casa de um amigo, Luciano Pozza.  Em Maringá, passou a treinar com um amigo, Zé Jorge, um ex-atleta. Depois de pouco mais de um ano, a grana continuava curta, e Vanderlei resolveu voltar para Tapira, mas sem parar de treinar. Apesar de a primeira experiência em Maringá não ter dado tão certo, Vanderlei não desanimou. Meses depois ele estava de volta à cidade.  

“Voltei para Maringá um ano depois e me destaquei ainda mais na corrida. Desta vez o secretário de esporte me convidou para ir defender a cidade. Foi quando treinei com meu primeiro treinador, treinador mesmo, o português Antônio Manuel Mendonça Martins. Ele era um cara bom, um ex-atleta, formado em Educação Física. Federado por Maringá, disputei o Campeonato Paranaense nos 5.000m, 1.500m e 10.000m, me destacando e batendo recordes. Então, em 1988, com 17 anos, fui convidado para ir para a ADC Eletropaulo Guarulhos, em São Paulo”. 

Fé no esporte 

Apesar de perceber que algumas portas estavam se abrindo, Vanderlei não alimentava ambições financeiras quando pensava no atletismo. Ganhar dinheiro com as corridas era algo impensável naquela época. 

“Sabe quando foi que eu enxerguei que o esporte poderia me dar uma condição melhor? Quando ele me abriu as portas para ter emprego, entendeu? Porque esse era um dos meus objetivos. Quando eu fui para Maringá trabalhar foi que vi que o esporte poderia ser uma ferramenta para transformar minha vida. Não foi nem essa questão de ganhar dinheiro com a corrida, porque naquela época não tinha premiação em dinheiro. Era só troféu. Se você me perguntar quando ganhei o prêmio em dinheiro, não saberia responder. Era tão pouco que nem lembro”, diz. 

Naquele momento de sua vida, tudo o que Vanderlei pensava era em não desistir. Ele precisava se apegar a alguma coisa e o esporte foi sua tábua de salvação. 

“Minha maior dificuldade foi a falta de oportunidade. Não apenas no esporte, mas na vida. E encontrei no esporte a oportunidade da vida. Eu contrariei a tudo e a todos para buscar uma condição diferente. Depositei minhas esperanças no esporte. Queria entrar no esporte para viver uma vida diferente daquela que eu tinha. Coloquei esperança no esporte. Caso não desse retorno financeiro, pelo menos iria me levar a uma cidade melhor, buscar uma condição de vida melhor. Eu usei o esporte como uma ferramenta, mas naquele começo posso dizer que, apesar de ter sonho e vontade, naquele mundo que eu vivia parecia impossível. Nada conspirava a favor.  E ainda tinha aquele ambiente do pessimismo, todo mundo falava que não iria dar certo, sugerindo ir trabalhar, fazer outra coisa”, conta.

“Eu tinha todos os motivos para desistir, mas não podia. Eu trabalhava e treinava. Eu trabalhava o dia todo na roça e treinava. Independentemente do que estava acontecendo comigo, eu estava acreditando que lá na frente seria melhor. Mas eu te falo, tive todos os motivos para não continuar. Mas eu não podia voltar. Porque se eu voltasse seria pior ainda”. 

Joaquim Cruz na TV

Se no início a motivação para seguir correndo foram as medalhas e, mais tarde os troféus, em algum momento de 1985 Vanderlei Cordeiro de Lima descobriu um novo objetivo para sua vida quando, em Tapira, uma cena que ele viu pela televisão captou sua atenção como nenhuma outra havia feito. 

“Deixa eu te contar uma história de quando eu tinha 15 para 16 anos. A gente não tinha televisão em casa. Na verdade, não tinha nem energia em casa. Vivíamos na lamparina. Eu já tinha iniciado minha vida na corrida. Isso foi em 1985. Estava na porta da casa do vizinho, vendo uma televisão lá, em preto e branco, e aconteceu uma coisa que eu nunca me esqueço. Estava vendo um programa de esporte e passou a imagem do Joaquim Cruz, um ano depois da medalha”, narra Vanderlei, referindo-se ao ouro que Joaquim Cruz conquistou nos Jogos Olímpicos Los Angeles 1984 nos 800m. 

“No programa esportivo passou o Joaquim Cruz naquela imagem dele dando a volta olímpica com a bandeirinha do Brasil. Ali, eu falei: ‘Nossa! Um dia eu quero estar nesse lugar aí, nos Jogos Olímpicos’. Mas eu não sabia o que eram os Jogos Olímpicos. E eu sabia que aquele meu pensamento era impossível naquela realidade que eu vivia. Na verdade, eu posso dizer para você que o Joaquim foi a inspiração olímpica que eu tive. Aquela imagem ficou guardada para mim”, prossegue. 

Vanderlei não podia imaginar, é claro, que alguns anos depois ele e Joaquim Cruz iriam se conhecer e que uma bela amizade surgiria entre os dois.  “O Joaquim é meu amigo. A gente se fala. Nós fazemos parte de um programa da Confederação Brasileira de Atletismo que se chama Heróis do Atletismo. Não tem outro ser humano tão digno como ele”, elogia. 

O carinho e o respeito são recíprocos. 

“O Vanderlei sempre foi uma pessoa muito querida por todos nós. Nesses anos todos, tivemos a oportunidade de formar uma amizade, mesmo de longe. Toda vez que nos encontramos sentamos juntos para conversar sobre atletismo e sobre a vida”, diz Joaquim Cruz. “Eu sei a história dele. É uma história que nos dá um orgulho imenso das raízes mais profundas de onde ele saiu. E fico feliz por saber que todo o meu sacrifício, o meu esforço, a minha jornada, as minhas conquistas não foram em vão e que, em algum lugar, um garoto estava vendo, assistindo e observando, e isso motivou aquele garoto. É esse o legado que fica do esporte, né? É fazer algo maior do que a sua vida e alguém perceber e querer também fazer igual ou melhor. Ele se inspirou na minha vitória e decidiu querer seguir caminhos iguais, com o mesmo objetivo, que era alcançar uma medalha olímpica e uma vida melhor. Me dá um orgulho imenso por saber que eu fiz parte dessa jornada dele”, continua continua o campeão olímpico Joaquim Cruz. 

A afirmação como atleta 

Em seu retorno a Maringá, Vanderlei viu o atletismo ganhar uma nova dimensão com o trabalho realizado por Antônio Manuel Mendonça Martins. Com 16 para 17 anos, Vanderlei ainda não tinha como sonhar ser um maratonista. Como ele mesmo diz, “a maratona foi um processo”. 

“Só quando eu voltei para Maringá, para trabalhar com esse técnico português, que passei a ter um treino específico para a idade que eu tinha. Ele começou a fazer treinos para 1.500m, 3.000m, 5.000m. Depois, eu fui para São Paulo e continuei disputando os Campeonatos Paulistas, os Brasileiros”. 

“Eu tinha 17 anos e meu pai e minha mãe não queriam que eu saísse de casa. Ficaram com medo, diziam que era perigoso, que eu não sabia o que iria encontrar em São Paulo. Mas quando eles viram que não iriam me segurar mais, aceitaram.” 

Hoje, olhando para trás, Vanderlei não tem dúvidas de que ter deixado Tapira e apostado em um futuro completamente incerto na capital paulista foi o momento decisivo de sua vida. 

“Essa foi a minha afirmação como atleta: sair do Paraná e ir para São Paulo. A partir dali eu falei que iria buscar com todas as minhas forças me tornar um atleta olímpico”, afirma. 

A primeira competição internacional 

Em São Paulo, como atleta da ADC Eletropaulo Guarulhos, Vanderlei Cordeiro passou a treinar com Humberto Garcia.  “Nos primeiros meses foi um pouco difícil, porque o treinamento era completamente diferente, mas logo me adaptei”. 

Para um jovem criado nas lavouras de Tapira, o mar de concreto de São Paulo deveria ser algo assustador. Entretanto, a nova realidade não o apavorou, mas as incertezas do esporte, sim.  

“O maior medo que eu tinha, e que na verdade não era medo, era insegurança. Porque nada nos dava segurança. Não tinha nada que dissesse que eu tinha um ano ou dois anos de contrato. O contrato era praticamente de boca. A gente não sabia o que iria acontecer amanhã. Essa insegurança era um fato que pesou muito. Eu nunca tive medo. Em toda a minha vida eu sempre fui muito ousado. Nunca tive medo de arriscar”, diz. 

Adaptado aos treinos, Vanderlei partiu para a disputa dos 10.000m no Campeonato Brasileiro Junior em Cubatão. E foi lá que ele conquistou o resultado que o levaria aos Estados Unidos e ao Canadá, a mágica viagem que abre este texto. 

“Rapaz, essa aí foi a maior transformação na minha vida”, diz com segurança. 

Antes de competir no Mundial do Canadá, os brasileiros fizeram uma parada nos Estados Unidos, onde Vanderlei, em Ohio, se destacou em uma prova nos 5.000m. Para ele, esse episódio teve o efeito de uma epifania. 

“Depois de Ohio, que era um torneio de uma universidade de lá, nós fomos de ônibus até Sudbury, onde foi realizado o Campeonato Mundial. Aquela viagem de ônibus pelos Estados Unidos foi algo muito marcante na minha vida. Inesquecível”, continua. 

São Silvestre 1992 

Depois do Mundial, Vanderlei seguiu com a rotina de treinos e competições e, aos poucos, foi se destacando no cenário nacional. Mas foram precisos alguns anos de estrada desde a experiência nos Estados Unidos e no Canadá até que ele realmente pudesse mostrar suas credenciais em um dos palcos mais prestigiados do país: a Corrida de São Silvestre. 

“Em 1989, eu estava na Eletropaulo e disputei uma São Silvestre. Fiquei em 14º, 16º, por aí. Então, em 1990, fui convidado para mudar de equipe. Deixei Guarulhos e fui para a Usina Ester, que já tinha contratado alguns corredores. Em 1990 e 1991, fiz bons resultados, melhorando a minha marca, e, em 1992, fui para a prova que me levou para o cenário nacional. Terminei em quarto, no meu primeiro ano como adulto. Foi nessa prova que surgi. Foi quando abriram as portas”, diz orgulhoso. 

A essa altura, os caminhos de Vanderlei Cordeiro e de uma figura importantíssima em sua vida, o técnico Ricardo D’Ângelo, estavam prestes a se cruzar. Infelizmente, isso se deu por meio de uma tragédia. 

“Em 1992, depois da São Silvestre, nós fomos disputar um Campeonato Mundial de cross-country. Quando fui para a Funilense (equipe para onde ele se transferiu após a passagem pela Usina Esther), treinava com o Asdrúbal Ferreira Batista, para mim o melhor treinador de atletismo que o Brasil já teve. Na volta da viagem, o Asdrúbal, que foi treinador de seleção Campeonato Mundial, faleceu em Campinas logo que voltamos”. 

Por força da morte inesperada de Asdrúbal, Ricardo D’Ângelo entrou de vez na vida de Vanderlei. Juntos, os dois chegariam a três edições dos Jogos Olímpicos e o trabalho realizado em conjunto transformaria o paranaense em um medalhista olímpico. 

“O Ricardo era treinador das categorias de base. Ele treinava o juvenil no Projeto Futuro e uma vez por semana ia para Campinas para dar treino para o juvenil da Usina Ester. A partir de 1992, com o falecimento do Asdrúbal, eu tinha a opção de escolher um outro treinador. Tanto o Ricardo acreditou em mim quanto eu acreditei no trabalho dele, como um treinador que estava iniciando, começando nossa parceria”, diz Vanderlei. 

“Treinar o Vanderlei foi um privilégio para mim. Conviver com ele durante 12 anos até a conquista da medalha, 16 até o final da carreira e 28 anos até agora, um aprendizado. No comecinho dos anos 90, em 1992, quando nós nos encontramos, eu era um treinador jovem, iniciando minha carreira, e ele confiou em mim. Nós crescemos juntos nesse percurso. Foi um percurso bastante vitorioso, mas com muitos obstáculos a serem ultrapassados”, afirma Ricardo D’Ângelo. 

Vai, coelho! 

Dois anos depois de terem iniciado a parceria, os dois viveram um ano muito especial em 1994. Naquela temporada que a maratona, a prova que consagraria a carreira de Vanderlei, surgiu para ele e Ricardo D’Ângelo de uma maneira inesperada, de forma incrível. 

“Foi um processo. Eu participei de provas mais curtas, nos 1.500m, 3.000m, 5.000m, 10.000m e meia-maratona, para depois me tornar um maratonista. Um grande sonho que eu tinha era poder participar dos Jogos Olímpicos. E eu e o Ricardo estávamos planejando para 1996, em Atlanta. A gente já tinha programado fazer a minha primeira maratona em 1995, visando aos Jogos Olímpicos. Então, em 1994, eu estava competindo na França e fazendo provas no máximo de meia-maratona. Num final de semana, um domingo, eu não tinha competição, mas precisava fazer um treino de 25km. Era o dia da Maratona de Reims, e meu empresário perguntou se eu não gostaria de atuar como coelho (corredor contratado para puxar o ritmo da prova até cansar e deixar o caminho aberto para os demais). Gostei da ideia, liguei para o Ricardo e informei que o ritmo seria de 3min05s/06s por km e fui em frente.""

O que era para ser um treinamento diferente acabou se transformando em um dos domingos mais marcantes da vida de Vanderlei. 

“Passaram-se 21 quilômetros, e eu liderando a prova no ritmo que foi combinado. Passaram-se 25km, 30km e fui me empolgando, abrindo vantagem. Cheguei aos 40km, aos 42.195 metros e acabei ganhando a prova sem querer. Foi meu primeiro título em uma maratona internacional. E não foi nada programado. Foi por acaso mesmo”, conta. 

O passo seguinte foi ligar para Ricardo D’Ângelo para contar a novidade.  

“Fui aos poucos. Falei para ele: 'Olha, eu terminei a maratona'. O Ricardo ficou bravo, pois o combinado era apenas um treino, que eu não poderia ter corrido uma maratona inteira. Foi quando falei que ganhara, o deixando curioso sobre o meu tempo, que tinha sido de 2h11min06s. O Ricardo ficou doido! Ficou comemorando e tal. Na verdade, foi esse resultado por acaso que mostrou a aptidão que eu tinha. O tempo me colocou em primeiro do ranking e passei a ser mais respeitado”, diz Vanderlei. 

“O Vanderlei é um atleta de extremo potencial físico. Ele não é o melhor que o Brasil já teve no fundo. Outros atletas já se revelaram, do ponto de vista físico, melhor do que ele. Porém, ele é muito disciplinado, determinado, tem uma força de vontade enorme, focado demais e muito concentrado no que quer”, ressalta Ricardo D’Ângelo. 

“E ao longo de todo esse tempo a gente veio trabalhando junto ele se revelou um atleta excepcional para provas de maratona. Em 1994, em Reims, foi a revelação. Ele já tinha tido um relativo sucesso nas provas juvenis, mas, em 1994, ele se mostrou como um excepcional maratonista. A distância dos 42 quilômetros e correr mais do que duas horas para ele era tranquilo”, prossegue o treinador. 

A vitória em Reims rendeu outros frutos. “Para eu ser coelho me deram, eu acho, uns 200 ou 300 euros. Com a vitória, acho que ganhei algo como 2.000 ou 2.500 euros. Rapaz, quando eu vi aquilo eu falei: 'Agora eu estou burguês!' Foi a maior premiação que eu já tinha ganho na vida até então. Aquilo ali foi o maior estímulo para correr maratona.” 

Dores em Berlim, Triunfo em Tóquio 

O resultado da Maratona de Reims mudou radicalmente a vida e a carreira de Vanderlei e de Ricardo D’Ângelo. As provas mais curtas ficaram em segundo plano e vencer os 42,195 quilômetros nas competições passaram a ser o objetivo de ambos. 

“No ano seguinte, em 1995, nós nos programamos para correr duas maratonas. Eu corri a Maratona de Roterdã, em abril, e aí eu já estava fazendo treino para maratona mesmo. Não foi fácil adaptar o treino, porque é muito volume”, lembra Vanderlei.  

A primeira maratona após Reims foi boa para Vanderlei. Mas na seguinte ele viveu uma experiência traumatizante. 

“Treinei muito, corri a maratona lá em Roterdã, e acho que fui sétimo colocado. Corri em 2h12min36s. Foi bom por ser a primeira maratona de preparação. Descansamos, fui fazer outras provas mais curtas, e quando estávamos no segundo semestre, o Ricardo conseguiu para eu ir correr em Berlim.  Treinei muito para essa prova, mas no quilômetro 20, 20 e pouco, eu estava no bloco da ponta e um cara deu um toque no meu calcanhar. Não caí, mas desequilibrei. Aquilo ali travou minhas pernas, e eu me arrastei para chegar no final da prova”, recorda. 

“Sofri igual a um condenado. Terminei a prova, acho que foi em sexto, com 2h13min30s e pouco mas, cara, me sentei no banco e o Ricardo estava comigo nesse dia. Falei para ele que nunca mais iria correr maratona na minha vida! Eu estava com tanta dor e sofrendo tanto que eu falei que nunca mais queria fazer maratona, parecia que eu ia morrer.  

O desânimo, entretanto, durou pouco.  “Depois de uns 20 minutos ou meia hora, o Ricardo falou: 'Vamos nos programar e você vai correr outra maratona. Vai correr a Maratona de Tóquio!'"" 

A decisão não poderia ter sido mais acertada. E acabaria por, no ano dos Jogos Olímpicos de Atlanta, elevar Vanderlei Cordeiro de Lima ao status de um dos grandes maratonistas no cenário mundial. 

“Em 1996, eu fui convidado para Tóquio. Não estava entre os favoritos, mas ganhei uma das mais importantes do mundo. Fiz 2h08min38s. Já era o quarto do ranking mundial, e o bicho pegou. Estava focado nos Jogos Olímpicos, e a meta era ficar entre os dez primeiros E a história foi por aí. Naquele sonho de estar em Atlanta, pela primeira vez nos Jogos Olímpicos”, conta Vanderlei. 

Atlanta 1996 

A 26ª edição dos Jogos Olímpicos foi disputada em Atlanta, entre os dias 19 de julho e 4 de agosto. Para o Brasil, a competição mostrou-se histórica e serviu para quebrar algumas barreiras importantíssimas. 

Foi em Atlanta que o país conquistou sua primeira medalha de ouro entre as mulheres, com Jacqueline Silva e Sandra Pires, no vôlei de praia, e foi também a primeira vez, a delegação brasileira superou a marca de 10 medalhas conquistadas em uma mesma edição olímpica. 

Para Vanderlei Cordeiro de Lima, em particular, a participação foi algo inesquecível. 

 “Foi a realização daquele sonho impossível, né? Quando eu me qualifiquei, depois da vitória de Tóquio, fizemos toda uma preparação e treinei muito para estar nos meus primeiros Jogos Olímpicos”, diz. 

Para ele, ter experimentado tudo o que os Jogos Olímpicos são capazes de proporcionar representou um novo estágio de espírito. 

“Não tem um outro ambiente que se compare ao ambiente olímpico. Ter tido essa oportunidade de vivenciar o olimpismo foi importante em todos os sentidos da minha carreira e da minha vida. O mais importante é estar ali diante do universo do esporte e fazer parte dele sem diferenças. Você está do lado de seus maiores ídolos, dos maiores atletas do mundo, num ambiente que todo mundo é igual. Não tem outra competição que se compare a isso”, ensina. 

Em Atlanta, Vanderlei, assim como viria a ocorrer nas duas edições seguintes, não teve a oportunidade de participar da abertura ou do encerramento. Sua participação na maratona também não saiu como o planejado. Na verdade, a prova foi sofrida por força de uma situação que ele não teve como controlar. O tênis do patrocinador não chegou a tempo para os treinos no Brasil. 

“Em Atlanta, apesar de eu ter treinado muito, estava muito quente, úmido, com quase 100% de umidade. Com aqueles tênis que eu tive que usar, fui suando, suando, e o suor foi descendo para o calçado, ele foi perdendo a aderência e formou uma bolha de sangue na planta do meu pé. Do quilômetro 27 até o término da prova parecia que eu estava pisando em brasa. Mas eu queria ir até o fim, eram meus primeiros Jogos Olímpicos.  É uma realização. Eu fiz 2h2min e terminei em 47º.  Fiquei meio decepcionado porque eu esperava ir melhor, mas saí de lá realizado pelo sonho olímpico”, relembra. 

A maratona de Atlanta 1996 teve 124 atletas inscritos, dos quais 111 concluíram a prova. Josia Thugwane (2h12min36) tornou-se o primeiro negro sul-africano a conquistar uma medalha de ouro olímpica e foi seguido pelo sul-coreano Lee Bong-Ju (2h12min39) e pelo queniano Eric Wainaina (2h12min44), que formaram o pódio a seu lado. 

Sydney 2000: lesão e frustração 

Após a primeira experiência olímpica nos Estados Unidos, Vanderlei e Ricardo iniciaram a preparação com foco em outro objetivo: os Jogos de Sydney, em 2000.  

“Voltamos dos Jogos Olímpicos de Atlanta e montamos a programação para um novo ciclo, com participação em várias maratonas internacionais. Vanderlei foi vice-campeão em Tóquio em 1998; quinto colocado na Maratona de Nova York em 1998; ouro no Pan de 1999, em Winnipeg, e terceiro colocado na Maratona de Roterdã, em 2000, fazendo índice para os Jogos Olímpicos de Sydney”, detalha Ricardo.  

Com essa bagagem, Vanderlei teria chegado em ótimas condições para os Jogos na Austrália se não tivesse sofrido um contratempo que quase o tirou do páreo para Sydney. 

“Faltando 15 dias para os Jogos eu torci meu tornozelo no México. Antecipei minha volta para o Brasil para recuperar, recuperei, viajei para Sydney, mas no quilômetro 25, a lesão voltou. Mesmo assim eu terminei a prova com 2h36min, fui 71º, eu acho. Saí decepcionado, mas persistindo”, conta Vanderlei, que na verdade foi o 75º, com o tempo de 2h37min08. 

Vanderlei foi o único brasileiro a cruzar a linha de chegada. Osmiro Silva e Eder Fialho não completaram. A medalha de ouro ficou com o etíope Gezahegne Abera (2h10min11). A prata foi para o queniano Eric Wainaina (2h12min31) e o bronze para o etíope Tesfaye Tola (2h11min10). 

Acidente de moto 

Persistência é uma marca da personalidade de Vanderlei que ele aprendeu a cultivar desde cedo. Assim, após a frustração dos Jogos de Sydney, ele girou a chave em sua cabeça e, junto de seu treinador, voltaram suas energias novamente para mais um ciclo olímpico, dessa vez tendo como meta os emblemáticos Jogos Olímpicos Atenas 2004, o retorno do evento ao seu local de origem. 

“Em 2000, 2001, sempre estava correndo na casa de duas horas e oito minutos. Então, em 2002, eu falei: ‘Vou correr minha primeira maratona no Brasil’. Porque até então eu só tinha corrida maratona no exterior. Preparei-me para correr em São Paulo, treinando como nunca. Ganhei e bati o recorde, marcando 2h11min19. Foi uma vitória muito gostosa e marcante na minha vida”, diz com orgulho. 

A preparação seguiu forte e com bons resultados depois do triunfo em São Paulo. No ano seguinte, nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, Vanderlei chegou ao bicampeonato e, após a conquista da medalha de ouro, firmou-se como a grande aposta do Brasil para os Jogos de Atenas. 

“Em 2003, fui para os Jogos Pan-americanos de Santo Domingo e fui bicampeão. Só que em 2003 eu não tinha a vaga assegurada para os Jogos Olímpicos. Precisei correr a Maratona de Hamburgo, em 19 de abril de 2004. Tinha que correr na casa de 2h10min ou abaixo disso para garantir a minha vaga”, recorda. 

Foi então que um vacilo de Vanderlei quase foi responsável por pôr todo o planejamento a perder. 

“No começo de janeiro de 2004, eu estava no interior do Paraná e, contrariando aquilo que sempre o Ricardo havia falado para a gente, eu fui inventar de andar de moto. Caí da moto e fraturei o ombro. Liguei para o Ricardo e falei para ele esquecer os Jogos Olímpicos. Do jeito que eu estava, com a dor que eu estava sentindo, achei que não daria”, lembra Vanderlei. 

“O Ricardo me deu uma bronca, é claro. Ele estava em Campinas, onde mora, e me falou: 'Olha Vanderlei, a gente está junto como treinador e atleta, você é meu amigo, confio em você e você confia em mim. Se você acredita em mim assim como eu acredito em você, e a gente já passou por situações que foram até piores do que essa e a gente superou. Pegue o primeiro ônibus e venha para Campinas ainda hoje'. Rapaz, eu não pensei duas vezes. Arrumei minhas coisas e parti para Campinas. Cheguei lá, fui fazer uns exames, realmente ficou constatado a fratura e depois disso eu fui fazer o tratamento”. 

Assim como Vanderlei, Ricardo se lembra bem do episódio. 

“Desesperado, ele me ligou e disse: 'Putz, Ricardo. Acho que agora foi tudo por água abaixo, nossos planos, nossos projetos”. E eu falei: ‘O que é isso? Pegue um ônibus e vem para cá. Vamos tratar e vamos fazer de tudo. Se você não pode correr você vai correr na piscina, vai fazer bicicleta, vamos fazer peso, vamos fazer treinos alternativos. Vou te botar em forma e você vai correr Hamburgo”. 

Em Paipa, com a mente em Atenas 

Em pouco tempo, mesmo longe da condição ideal, Vanderlei voltava aos treinos de corrida. 

 “No final de janeiro eu estava treinando com o braço imobilizado, com uma tipoia. Fiz a primeira parte de preparação em Campinas e na segunda etapa de preparação da maratona, que são de 14 semanas, fui para a Colômbia, em Paipa. Me preparei como nunca para Hamburgo.  Ganhei a maratona, com 2h09min38s, em 19 de abril. Foi a maior prova de superação que eu poderia ter. Então, 2004 foi o ano mais difícil da minha vida. Mesmo com o resultado dos Jogos Olímpicos”, desabafa. 

Com a confiança nas alturas, Vanderlei retornou à Colômbia após a vitória em Hamburgo e passou a treinar de forma obsessiva com apenas em uma palavra em mente: Atenas. 

“Com a vaga, começamos a planejar Atenas. Eu já conhecia o percurso, o clima, e começamos a estudar tudo, como a gente iria treinar, os adversários. Fizemos um planejamento espetacular. Fiquei quase 60 dias antes dos Jogos treinando na Colômbia. Todos os dias que eu ia treinar, sonhava como se estivesse em Atenas. Ia treinar de manhã e à tarde e mentalizava Atenas na minha cabeça. Era eu, meu sonho e as montanhas”, conta. 

Atenas 2004: uma carta e um ataque 

Amparado pela bagagem dos Jogos de Atlanta e Sydney, Vanderlei desembarcou na Grécia sentindo que estava pronto para buscar seu sonho de chegar ao pódio olímpico. O que ninguém poderia imaginar é que o enredo de sua prova seria tão surreal. 

“Na minha preparação desse sonho, de mentalizar aquilo que eu queria, acho que isso me deu a maior segurança. Eu estava tão tranquilo e sereno que fui muito seguro, sabendo que iria fazer um grande resultado. No último treino, em Maringá, para você ter uma ideia, meus amigos corredores foram lá, uma plateia, para me assistir a treinar. Os caras sabiam. Eles diziam: ‘o Vanderlei vai arrebentar nos Jogos’. Eu estava muito seguro”. 

Em Atenas, Ricardo D’Ângelo não fazia parte da delegação brasileira como treinador, não tinha acesso à Vila Olímpica ou à área de competição. Ele pensou em uma forma alternativa de orientar seu atleta e de enchê-lo de confiança para o desafio que teria pela frente. 

“O Ricardo foi para Atenas por conta própria. Ele estava assistindo à prova no centro, num bar. Só que no dia anterior ele encontrou com o treinador, João Paulo. E eu estava me blindando de todos os fatores que pudessem interferir na minha concentração. Treinava pela manhã, voltava para o quarto, descansava, saía dali, ia fazer uma refeição e voltava. Eu estava muito concentrado. No dia anterior à prova, o Ricardo encontrou o João Paulo e entregou uma carta, mas eu só poderia ler quando estivesse a caminho da prova, no ônibus. Pelas palavras de Ricardo fica claro o laço que unia os dois em torno do sonho olímpico. A carta trazia a seguinte mensagem: 

“29/08/2004, Atenas, Grécia, Jogos Olímpicos 

Vanderlei, 
Vou pedir ao João Paulo para lhe entregar este bilhete quando estiver a caminho da largada da prova. Espero que ele o faça. Sei que o fará, pois João é meu amigo! 
Bem, eu só gostaria de repassar com você os detalhes que poderão fazer a diferença para uma excelente performance aqui, como seguem: 
1- Tomar cuidado para não sair forte. Procure não perder contato com o grupo, mas, se você entender que o ritmo está muito rápido, siga sua experiência e intuição. 
2- Acredito que o ritmo final estará entre 2:12/2:13 e você pode correr pra isso (3:08/09km). Treinou muito para isso! Acredite! 
3- Exemplo do feminino, não podemos desistir nunca, pois a medalha de bronze estava em 12º lugar no km 28 e depois chegou em terceiro. E a grande favorita (Paula Radcliffe) parou!! 
4- Lembre-se de hidratar-se bem e tomar os suplementos (GGR) quando necessário. Entendo que será importante o GGR no final da prova; 
5- No km 30 tem uma subida forte; 
6- Se estiver bem, arrisque!! Quem não arrisca na vida, nada consegue. 
Infelizmente não estarei na largada, mas tenha certeza de que meu espírito e coração estarão. Não só na largada, como durante todo o percurso. Estou muito confiante em ver um excelente resultado, como já conversamos sobre isso. Entretanto, fique absolutamente tranquilo, pois minha confiança em você é enorme e desenvolvemos isso ao longo de nosso convívio. Vamos lutar até o fim, pois este é um sonho que estamos acalentando há muito tempo. Saiba que, seja qual for o resultado, você sempre terá o meu apoio e confiança, de um amigo verdadeiro e sincero, que te admira muito pelo ser humano que você é! Boa sorte e te vejo na chegada, para depois, tomarmos uma cerveja juntos, ok? 
Do seu amigo, Ricardo” 

Amparado pelo treinamento e com as palavras do amigo e treinador a guiá-lo, Vanderlei Cordeiro de Lima partiu para a disputa da maratona naquele domingo, 29 de agosto de 2004 em Atenas, para viver um dos momentos mais emblemáticos da história dos Jogos Olímpicos. 

“Eu tinha planejado com o Ricardo fazer uma prova completamente diferente. Era para aumentar o ritmo no quilômetro 29 e no quilômetro 33. Mas na verdade eu tive uma percepção que me fez mudar por completo tudo o que eu havia planejado. Fui ousado em fazer aquilo, mas estava tão seguro e confiante na minha preparação que não coloquei dúvida no que estava fazendo”, narra Vanderlei, que ainda hoje, mais de 16 anos depois, traz todos os detalhes da prova gravados com incrível precisão. 

“No quilômetro 10 e no 15, um dos atletas se destacava uns 50m ou 100m na frente para pegar a hidratação, enquanto um grupo se mantinha bem tranquilo atrás. Decidi que no quilômetro 20, quando eles fizessem isso novamente, iria tomar uma atitude e sair fora. Comecei liderar a prova no quilômetro 22, deixando os caras para trás, né? Quando eles viram eu já estava com 40s, 50s na frente”, relembra.

“Eu estava tomando a atitude que eu sabia que seria a maior chance que eu teria. Nos quilômetros 29 ou 33 teria muito mais gente. E como os caras se acomodaram com aquela situação dos atletas nos pontos de água, eu pensei: ‘Esses caras vão fazer a mesma coisa’. E eles fizeram. Eles não acreditaram em mim. Foi o ponto exato e certo para sair da prova e para liderar”, prossegue. 

Nas ruas e pelas televisões em milhares de lares ao redor do mundo a imagem mostrava Vanderlei Cordeiro de Lima liderando a maratona em Atenas.  

Então, na altura do quilômetro 35, o imponderável mudou os rumos da prova. Vanderlei corria com passadas firmes quando, ao girar levemente a cabeça para a esquerda, percebeu que um estranho vinha em sua direção. Um ex-padre irlandês chamado Cornelius Horan, trajando uma roupa típica de seu país, com saia, boina e meias compridas verdes e laranjas, invadiu a área da maratona de Atenas, agarrou Vanderlei e o jogou para junto do público. Um ano antes, o perturbado Cornelius havia invadido a pista do GP de Silverstone de F1 para divulgar uma mensagem religiosa. 

“Eu estava tão focado e concentrado na prova que se você me perguntar detalhes, não sei contar. Independentemente daquela situação, de ter caído no público, eu saí com muitas dores, porque ele bateu com o joelho na lateral das minhas pernas e a parada ali trava tudo. O ácido lático te quebra. Mas em momento algum eu pensei em desistir ou que eu não iria conseguir. Aquele filme que eu mentalizei no primeiro dia de treinamento continuava rodando na minha cabeça: 'Eu vou conseguir! Eu vou chegar lá!’”, conta Vanderlei. 

Para Vanderlei, o episódio do ataque teve um outro ator principal: o grego Polyvios Kossivas, que prontamente afastou o irlandês e socorreu o brasileiro, conduzindo-o de volta à prova.  

Vanderlei veio a conhecê-lo em 2004, no Prêmio Brasil Olímpico, promovido pelo Comitê Olímpico do Brasil, e ainda hoje o considera uma espécie de anjo da guarda. 

“É aquela frase que eu já disse antes: ninguém chega sozinho. Sempre agradeço muito a Deus pelas pessoas que me ajudaram, que me deram condições para que pudesse planejar a minha vida e a minha carreira, para eu chegar aonde cheguei. E àquelas pessoas que não ajudaram, mas que me desafiaram a provar para eles qual era a minha capacidade. Certamente as coisas não acontecem por acaso. Certamente sempre tem um dedinho de Deus. Então Deus colocou aquela pessoa naquele momento, na hora certa, para poder me ajudar. Ele é um ex-esportista, jogador de basquete, que estava assistindo à prova em casa e decidiu que desceria para ver os atletas passarem. E tinha que ser justamente naquele lugar? Mais uma vez os Deuses do Olimpo conspiraram a favor”, diz Vanderlei. 

Consagração e lições de caráter 

Havia um sentimento de perplexidade no ar depois do ataque de Cornelius, mas Vanderlei Cordeiro, a exemplo do que havia feito nos Jogos de Atlanta 1996 e Sydney 2000, não desistiu. 

Ele manteve a liderança por alguns quilômetros até ser ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini, ouro, e pelo norte-americano Mebrahtom Keflezighi, prata. 

Seria legítimo que Vanderlei sentisse, como muitos sentiram, uma revolta após o ataque, mas o que milhares de pessoas assistiram no Estádio Panathinaikos foi um corredor extremamente feliz por cruzar a linha de chegada em terceiro lugar, com o tempo de 2h12min11s. 

“Na verdade, por ter sido ultrapassado não tinha sentimento algum. Meu sentimento, minha vontade, era pode estar entre os três primeiros. Busquei forças de onde não tinha para lutar e chegar ao final. Tenho certeza de que se eu tivesse sido quarto ou quinto a minha reação seria a mesma”. 

“Quando eu cheguei ao estádio e vi o estádio inteiro aplaudindo e me ovacionando, já nem lembrava do fato do cara ter me agarrado. Só pensava em como eu estava feliz por ter conseguido minha medalha. 

Aos 35 anos, o menino humilde de Cruzeiro do Oeste, que havia perseguido o objetivo de conquistar uma medalha e um troféu quando garoto, que havia deixado as lavouras em Tapira ainda jovem, que tinha se agarrado com todas as forças ao atletismo e que um dia havia sonhado com uma medalha olímpica ao se encantar com as imagens de Joaquim Cruz correndo com a bandeira do Brasil no Los Angeles Memorial Coliseum em 1984, finalmente havia cumprido sua missão de vida. Ele agora era um medalhista olímpico, o único que seu país havia na maratona. 

“O legal de tudo isso aí é que, conhecendo um pouquinho da minha história, da minha vida, eu sempre falo que a vida vai te lapidando. A vida vai te preparando para algumas situações de forma que você tenha sabedoria para lidar, tanto na derrota, nas frustrações, quanto nas conquistas. Tudo isso aí não é por acaso. É vivência, aliada a valores. Não adianta você ter tudo isso aí sem valores. Para mim as coisas são simples e normais. Levo a vida desse jeito”. 

A Medalha Pierre de Coubertein 

As lições que Vanderlei Cordeiro de Lima transmitiu em Atenas e a forma altruísta como ele lidou com o ataque que sofreu emocionaram os fãs do esporte em todo o mundo. Como reconhecimento, o Comitê Olímpico Internacional (COI) concedeu ao brasileiro a Medalha Pierre de Coubertin, a mais alta honraria concedida a atletas ou pessoas envolvidas com esporte que demonstrem alto grau de esportividade e de espírito olímpico durante a disputa dos Jogos.  

Vanderlei é único latino-americano até hoje a ter sido condecorado com a medalha que leva o nome do idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, o barão Pierre de Coubertin.  

“Nenhum atleta planeja ser honrado com essa medalha. E até então você não tem a dimensão e a responsabilidade do quanto pesa uma medalha dessas ou do quanto ela é importante, não só para o atleta que a recebe, mas principalmente para o seu país, para o seu povo. Porque ali tem os valores em todos os sentidos, não somente do esporte, mas da vida, né?”, pondera Vanderlei. 

“Acho que não foi por acaso. Foi fruto de trabalho, de dedicação, comprometimento, e do que os Deuses do esporte me coroaram. Essa medalha não é só minha. Ela reflete um pouquinho a cultura do meu povo. Eu a divido todos os dias com o povo brasileiro, me identifico muito com as pessoas humildes, com o povão mesmo”, continua. 

“Ele deu uma lição de perdão ao mundo. Logo em seguida à chegada, tentaram imputar ao padre que o empurrou a terceira colocação e ele reverteu isso com uma atitude muito positiva dizendo que perdoava o padre e que estava feliz com a medalha dele, que era o nosso objetivo”, ressalta Ricardo D’Ângelo. 

Um ouro lhe foi oferecido 

Após os Jogos de Atenas, Vanderlei retornou ao Brasil consagrado para cumprir uma nova maratona de entrevistas e participações em programas de televisão. Em um desses compromissos, ele esteve no programa de Ana Maria Braga, onde acabou surpreendido por uma demonstração de carinho e respeito sem precedentes. 

Além de Vanderlei Cordeiro de Lima, Ana Maria Braga havia chamado os campeões olímpicos do vôlei de praia em Atenas, Ricardo e Emanuel, para participar do programa. E em um dado momento, Emanuel, emocionado com a atitude do maratonista diante da adversidade enfrentada durante a prova na capital grega, ofereceu a Vanderlei a medalha de ouro que ele havia conquistado na Grécia. Vanderlei, que recusou a oferta educadamente, ainda hoje se lembra muito bem do episódio e fala com enorme respeito sobre Emanuel. 

“Não sabia da participação do Emanuel. Ele chegou depois, juntamente com o Ricardo. Conhecia a história do Emanuel. Estivemos juntos em 1996 (Atlanta). Aquilo foi um gesto muito nobre da parte dele, né? Ele doou a medalha dele para mim. Ele falou: ‘Vanderlei, isso aqui é o mínimo que eu posso fazer para reparar aquilo que tiraram na prova’. Eu falei: ‘Não tem como, porque a sua história não é diferente da minha’. Mas foi um gesto muito nobre, marcante e inesquecível. Tem certas pessoas que carregam os valores. O Emanuel, sem dúvida, é uma delas”. 

“Eu tenho grande admiração pelo Vanderlei Cordeiro de Lima. É uma pessoa que com muita resiliência buscou a mudança da sua vida por meio do esporte. Sei que ele nasceu em uma cidadezinha pequena, em Cruzeiro do Oeste, no Paraná, mudou sua história pelo esporte, e ainda mais na modalidade mais difícil, que é a maratona. Eu me identifico muito com ele porque nos dois primeiros Jogos dele, em 1996 e 2000, que também foram os meus, nós não tivemos os resultados que esperávamos. E em 2004, quando eu consegui a medalha de ouro, ele estava perto de conseguir o dele e aconteceu aquele fato em que ele conseguiu a medalha de bronze”, diz Emanuel. 

“Foi ali que eu achei que ele é um ser especial, porque demonstrou realmente o que é o espírito olímpico, o que é o ato de competir, de aceitar, e estava muito feliz com aquela medalha, apesar de tudo o que tinha acontecido com ele durante a corrida em Atenas. Isso para mim demonstra o que é um herói olímpico e qual é o espírito real da competição. Esse rapaz é uma pessoa que tem uma nobreza de caráter fora do comum. Sempre contagiando as pessoas com seu espírito motivador. Para mim ele é realmente uma liderança positiva no esporte, a perfeita caracterização do espírito olímpico”, prossegue o campeão olímpico. 

Emoção no Rio 2016 

Após a medalha em Atenas, Vanderlei ainda competiu por mais cinco anos até encerrar a carreira em 2009, ano em que completou 40 anos. Também o ano em que o Rio de Janeiro conquistou o direito de sediar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016. 

Àquela altura, nem Vanderlei nem ninguém teria como imaginar o que estava por vir. Mas o destino ainda o reservaria uma outra emoção sem precedentes. Nas três edições olímpicas que disputou, ele nunca teve a oportunidade de participar de uma Cerimônia de Abertura ou Encerramento dos Jogos.  

“Eu nunca tinha participado da abertura dos Jogos. Até porque a maratona é sempre a última prova, né? E o que acontece? O maratonista sempre vai chegar nos últimos dias. Não tinha vivido isso na minha carreira. Nunca fiquei sabendo como seria a abertura dos Jogos. Só via pela televisão”, recorda. 

Então, como reconhecimento a toda sua carreira, Vanderlei foi convidado para fazer parte da Cerimônia de Abertura dos Jogos Rio 2016, ao lado de diversas outras estrelas do esporte nacional. O plano original era que Pelé protagonizasse o momento mais aguardado da abertura: o acendimento da Pira Olímpica. Contudo, devido a problemas de saúde, o Rei declinou. E Vanderlei, então, foi surpreendido com um convite incrível. 

“Já tinha ficado muito feliz por ter sido convidado para participar da abertura dos Jogos. Eu recebi o convite do Comitê Olímpico Brasileiro com a missão de ser o porta-bandeira no Juramento dos Atletas. Na véspera dos Jogos, já tinha ensaiado. Estava no Rio de Janeiro e me preparando para viver esse momento, que seria único na minha vida. Quando eu fui convidado a participar da abertura fiquei ansioso pra caramba. Iria realizar mais um sonho. O esporte estava me concedendo, mais uma vez, algo que eu nunca poderia imaginar.” 

“No dia anterior, ficamos sabendo que talvez o Pelé não pudesse acender a Pira Olímpica. Foi quando houve essa confirmação e falaram que seria eu o responsável por acender a Pira. Não tinha colocado nenhuma ansiedade ou expectativa em cima disso. Sabia que ia ser muito difícil, porque existiam outros atletas cotados, e eu já estava muito feliz por participar da abertura”, prossegue. 

“E aí me contataram e disseram: Vanderlei, aconteceu essa situação, o Pelé não vai mais acender a Pira, e vai ser você. Tem de guardar segredo. Eu falei: 'Então tá! Beleza. Tranquilo'. Numa boa assim, sabe? Cara, mas depois que passaram uns cinco minutos é que foi cair a ficha de onde eu iria estar e que momento que eu iria viver. Rapaz de Deus, aí eu tremi. A partir desse momento eu fiquei tremendo: 'Caramba, como é que vai ser isso? Eu fiquei até com um pouco de medo, mas depois foi muito gratificante”. 

Nesse contexto, Vanderlei se lembra de uma passagem nos bastidores que ele guarda com muito carinho. 

“Um dos momentos marcantes e muito legais foi quando, um pouquinho antes da abertura, a gente estava no camarim. Estavam os artistas, os atletas, todo mundo ali. Os atletas sempre estavam mais unidos. E uma hora o Tande (campeão olímpico do vôlei nos Jogos Barcelona 1992) deu um peteleco em mim e disse: ‘Baixinho, vem aqui’. Ele me colocou na roda de todos os atletas que estavam participando da abertura e falou: ‘É o seguinte, baixinho, estou aqui para falar em nome de todos os atletas que você é um cara merecedor. Viva esse momento porque você vai representar cada um de nós. Nós estamos muito felizes com a sua indicação'. E eu fiquei pensando: Quem sou eu diante desses monstros aqui, que foram minha inspiração, meus ídolos'. Ali eu falei: ‘Quem sou eu?’. Foi um momento marcante, inesquecível”. 

Troféu Adhemar Ferreira da Silva 

Em 2004, Vanderlei Cordeiro de Lima recebeu, do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o Troféu Adhemar Ferreira da Silva. Criado em 2001, a honraria tem como objetivo homenagear atletas e ex-atletas que representem os valores que marcaram a carreira e a vida de Adhemar, bicampeão olímpico no salto triplo, tais como ética, eficiência técnica e física, esportividade, respeito ao próximo, companheirismo e espírito coletivo. 

“Tudo é um caminho, é uma vida, uma dedicação, e eu sempre falo que eu quero que essa trajetória que eu fiz e tenho dentro do esporte possa deixar uma motivação e inspiração para outros jovens”, analisa Vanderlei. “Não foram os troféus e não vão ser as medalhas que eu ganhei que vão fazer a diferença. O que vai fazer a diferença é o legado que nós podemos deixar. Receber e ser mencionado com essas honrarias, e em se tratando de um Troféu Adhemar Ferreira da Silva, me faz pensar em quantos outros atletas, tão ou mais importantes do que eu, não receberam isso. E outra, eu não fiquei honrado só por receber o prêmio, mas por estar ali representando um esporte nobre, que é o atletismo. Eu não tenho palavras para dizer o quanto isso enaltece minha vida e minha carreira”. 

Em 2018, Vanderlei também integrou o grupo dos primeiros atletas a fazer parte do Hall da Fama do COB, ao lado de grandes estrelas do esporte nacional. 

“A iniciativa é fantástica. Eu acho que isso só enaltece cada vez mais quem fez e quem faz parte da história do esporte. Mais ainda: ter o reconhecimento. Eu nunca poderia imaginar e não esperava um dia fazer parte do Hall da Fama do Comitê Olímpico. Nunca esperei por isso. É importante que o nosso esporte tenha memória e que outras pessoas possam conhecer cada vez mais aqueles que dedicaram uma vida em prol de defender o Brasil e de defender a nação. O esporte brasileiro tem que ter memória. Tem que ser visto e tem que ser lembrado”. 

Simplicidade mantida 

Pai de quatro filhas, Vanderlei Cordeiro de Lima integra o Programa Heróis do Atletismo, da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Além de participar de eventos da confederação, como visitas a escolas públicas para incentivar crianças a praticar esporte, ele é constantemente convidado a ministrar palestras motivacionais. 

“Depois que eu encerrei a carreira, resolvi ficar tranquilo, cuidar as minhas coisas, mais perto da família, dos amigos, e fazer umas coisas diferentes, né? Eu acho que, na verdade, eu quis parar um pouco. Hoje eu ainda vivo do esporte, mas uma vida bastante simples. Vivo perto da minha família, fazendo coisas simples da vida. É isso que me deixa mais feliz. É não perder a essência da vida, que é a dignidade e a humildade”, ensina. 

Assim, como se não bastassem os exemplos que deixou ao longo de sua excepcional vida e carreira esportiva, Vanderlei Cordeiro de Lima encerra com um conselho aos mais jovens. E ele fala com muito conhecimento de causa: 

“Lá no início, com a inspiração que eu tive do Joaquim Cruz, eu vivia em um mundo do sonho impossível. E hoje eu posso falar o seguinte: 'Acredite no seu sonho. Não desista dele. Persista e faça por onde que certamente você vai conseguir realiza-lo'. Então é isso: com muita dedicação, comprometimento, disciplina e vontade de vencer a gente chega lá. Essas são as palavras que eu deixo de incentivo para quem está começando e para quem está querendo seguir uma carreira, não só de atleta, mas em qualquer vida. Tem que ter muita persistência e vontade de vencer”. 
Vanderlei Cordeiro de Lima

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Medalhas em jogos olímpicos

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Vanderlei Cordeiro é homenageado no Hall da Fama do COB em 2018

A vida de Vanderlei Cordeiro de Lima mudou completamente após o bronze nos Jogos Olímpicos Atenas 2004, sobretudo pelo modo como a medalha foi conquistada. O ato heroico de continuar na prova, mesmo depois da agressão sofrida na etapa final, e a celebração do terceiro lugar e o espírito olímpico o levaram a ser homenageado pelo COI com a medalha Pierre de Coubertin. 
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HERÓIS OLÍMPICOS: Vanderlei Cordeiro

A série Heróis Olímpicos é dividida em oito temas: carreira, vila olímpica, família, lidando com dificuldades, cerimônia de abertura, ídolos, qualidades de um campeão e legado. Neste primeiro momento, nomes consagrados como Vanderlei Cordeiro, Gustavo Kuerten, Hortência, Sarah Menezes, Anderson Varejão, Hugo Hoyama, Yane Marques e Mayra Aguiar são os entrevistados.

Os depoimentos são ilustrados com imagens dos acervos do COB e do Comitê Olímpico Internacional, além de material dos acervos pessoais de cada atleta e/ou da TV Globo e do SporTV. De caráter institucional, a série será veiculada nos canais de comunicação do COB e do Time Brasil no periodo que antecede os jogos Olímpicos Rio 2016.
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Heróis Olímpicos: ídolos de Vanderlei Cordeiro

Conheça os ídolos do ex-maratonista medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro
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Heróis Olímpicos: Vanderlei Cordeiro fala sobre a importância da família

O ex-maratonista e medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro fala do apoio que recebeu da sua família para seguir a carreira de atleta.
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MOMENTS - Team Brazil (Brazilian Olympic Athletes)

Four stories, four characters, one ideal. Maurren Maggi (Athletics), Tiago Camilo (judo), Vanderlei Cordeiro (Athletics) and Daiane dos Santos (Artistic Gymnastics) find strenght to overcome after facing hard moments.
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RESULTADO EM DESTAQUE

ediçãoresultadoprova
Jogos Olímpicos Atenas 2004
3º LugarBronze
Maratona - Masculino
Jogos Pan-americanos Santo Domingo 2003
1º LugarOuro
Maratona - Masculino
Jogos Pan-americanos Winnipeg 1999
1º LugarOuro
Maratona - Masculino

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