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Yane Márcia Campos da Fonseca Marques

Yane Márcia Campos da Fonseca Marques

modalidade

Pentatlo Moderno

data e local de nascimento

07/01/1984

Afogados da Ingazeira

BIOGRAFIA

Quando subiu ao degrau mais alto do pódio, em 23 de julho de 2007, para receber a medalha de ouro dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, a sertaneja Yane Márcia Campos da Fonseca Marques, então com 23 anos, alçou o próprio nome e o pentatlo moderno brasileiro do anonimato para as manchetes dos jornais e programas de televisão.  

“A imprensa e o público foram extremamente receptivos. Ficou todo mundo em cima, as provas foram transmitidas, e a minha conquista foi bastante divulgada”, lembra. “Para mim foi importantíssimo, foi um marco na minha carreira, que se divide em antes e depois de 2007. A partir do Pan do Rio, as pessoas começaram a conhecer mais o pentatlo moderno, a valorizar mais. Eu não tenho dúvida da minha contribuição para esse marco histórico”, avalia. 

 O Brasil já havia conquistado uma medalha de prata nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em 2003, com a Samantha Celeste Harvey, uma brasileira nascida em Nova Iorque. Samantha também foi a primeira mulher a representar o nosso país no pentatlo moderno em Jogos Olímpicos, ficando na 25ª colocação em Atenas 2004. 

O Pan Rio 2007 foi a primeira barreira, o pontapé no caminho que levou aos Jogos Olímpicos Londres 2012, quando Yane novamente transformou a história do pentatlo moderno brasileiro com a medalha de bronze. 



Que esporte é esse?  

De acordo com o filósofo grego Aristóteles, que viveu entre os anos 384 e 322 antes de Cristo, o pentatleta é o atleta mais completo porque em seu corpo, sua força e sua velocidade se unem em perfeita harmonia. Embora já tivesse ouvido falar de Aristóteles, até 2003 Yane Marques não sabia nada sobre o pentatlo moderno.  

Modalidade disputada nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, desde a primeira edição e considerada a mais nobre, o pentatlo passou a integrar o programa dos Jogos Olímpicos da Era Moderna em Estolcomo 1912, reunindo competições de esgrima (espada), natação (200m livre), hipismo (saltos) e um evento combinado de tiro (pistola tiro rápido) e corrida, agora com o nome de pentatlo moderno. A estreia entre as mulheres aconteceu nos Jogos Olímpicos Sydney 2000. 

Promessa da natação 

Campeã e recordista brasileira nos revezamentos 4x50m e 4x100m medley, as pretensões esportivas da atleta pernambucana tinham como foco as provas de natação. “Eu não escolhi o pentatlo, escolheram para mim”, brinca ela.    

Em 2003, quando a Federação Pernambucana de Pentatlo foi fundada, Yane foi convidada para competir o biatlo numa seleção de futuros pentatletas. “Eles convidaram os atletas da natação por entenderem que era mais fácil pegar um cara que já nadava e ensinar outras quatro coisas do que pegar, por exemplo, uma pessoa que corria e ensinar a nadar”, explica.  

A então recordista de natação venceu a prova e, depois de relutar bastante, aceitou o desafio de começar a treinar outras quatro novas modalidades.  

“Eu descobri que o pentatlo era uma modalidade pan-americana e, consequentemente, isso já era uma coisa interessante. Soube também que era uma modalidade olímpica e isso foi ainda mais encantador. A treinabilidade do pentatlo é muito gostosa, me apaixonei logo de cara. Quando tive a oportunidade de treinar e vi que levava jeito, descobri que eu seria uma atleta que migraria da natação para o pentatlo moderno”, conta. 

Do sertão para o mundo 

Caçula de uma família com poucas posses e cinco filhos, Yane Marques nasceu em 7 de janeiro de 1984, em Afogados da Ingazeira, pequena cidade do sertão de Pernambuco com menos de 50 mil habitantes. “Tive uma infância maravilhosa, com a tranquilidade de ter amigos na rua. É uma cidade que até hoje visito, tenho família lá, meu pai mora lá, tenho uma avó lá, primos, amigos e um irmão que está morando lá agora. É uma cidade muito gostosa, acolhedora e que vale a pena conhecer”, elogia. 

Sempre muito ativa, a menina gostava de brincar na rua. “Eu não praticava nenhum esporte organizado, brincava de correr, de subir em árvore, de pega-pega, de tudo”, lembra.  

O pai era gerente da CELPE (Companhia Energética de Pernambuco) e a mãe funcionária da prefeitura local. Em 1995, a família se mudou para Recife. A mãe passou a trabalhar fazendo doces, salgados e tortas para buffets e, pouco tempo depois, o pai saiu da CELPE. Yane começou a jogar vôlei. Mas a paixão pelas quadras durou pouco. 

Acompanhando o irmão, que era jogador de futebol do Clube Náutico, a menina conheceu a piscina e se encantou pela natação. Na família, ninguém ficava parado. O pai sempre foi apaixonado por futebol, chegando a se tornar locutor de esportes, as irmãs jogavam handebol e todos faziam sucesso nas competições escolares, mas ninguém seguiu carreira no esporte. Com Yane foi diferente. 



Atleta recordista 

Treinando na escolinha de natação do Náutico, ela não demorou muito até passar a integrar a pré-equipe do clube pernambucano. “Dois anos depois que comecei a nadar, fui convidada para competir na equipe principal do melhor clube de natação do Recife, que era o Nikita Natação, onde eu fiz longos oito anos de piscina até migrar para o pentatlo”, contabiliza. 

O esporte se tornou assunto sério na vida da menina franzina de Afogados da Ingazeira. “Eu fui evoluindo naturalmente e, quando dei conta, já estava competindo. A competição é inerente ao esporte. Eu fazia o maior esforço para viajar, competir e representar a minha cidade”, destaca. 

Como atleta do Nikita, a jovem nadadora, especialista em nado peito, sagrou-se bicampeã brasileira de revezamento 4x50m e 4x100m medley, conquistou recordes e vários títulos de campeã pernambucana e campeã norte-nordeste.  

Pernambucanas olímpicas 

Da metade para o final da sua carreira nas piscinas, Yane teve como companheira de treino a atleta olímpica e multimedalhista em Jogos Pan-americanos Joanna Maranhão. “Joanna já nadava muito forte, com bons resultados”, informa. 

“Eu conheci a galega quando fui para o Infantil 1. Ela era uma das melhores nadadoras de peito de Pernambuco, eram Mirella Galvão e ela. Eu subi para a categoria infantil e queria treinar junto delas e ganhar delas”, recorda Joanna. “Yane virou minha companheira de treino desde o início. Ela treinava de madrugada, era uma das poucas que sempre iam treinar de madrugada, e foi assim que a gente se conheceu. O que me chamava a atenção era que ela vinha de uma situação bem humilde, ela morava num bairro humilde, mas estava sempre lá, sempre fazendo sacrifícios, ela e a mãe dela, pela família”, revela a nadadora.  

De nadadora a pentatleta 

Quando começou a treinar pentatlo moderno, aos 19 anos, Yane Marques sabia muito pouco sobre a modalidade. “A dificuldade foi treinar um esporte que a gente não conhecia, que o Brasil não conhecia nem tinha um método de treinamento. A gente não tinha sequer uma sala de esgrima em Recife para treinar. Realmente foi bem complicado esse início”, lembra. A dificuldade financeira também pesou. “Talvez isso seja uma regra. Dificuldade financeira para se manter, para ter bons equipamentos, mas, no final das contas, tudo deu certo”, completa. 

A falta de um “método brasileiro” de treinamento fez com que a atleta começasse a viajar muito para o exterior. “A gente começou a ir atrás de outros países para saber como as pessoas treinavam e o que a gente podia trazer, guardando as proporções, do que se fazia lá”, explica. Estados Unidos, França e Itália faziam parte desse circuito de treinamento.  

Amor à primeira vista 

Apesar dos obstáculos iniciais, a atleta classifica a fase de adaptação como prazerosa. “Eu me identifiquei com essa história de praticar modalidades diferentes, fazer vários esportes por dia mais musculação, fisioterapia, psicologia, tudo”, afirma. “Eu me encantei, me apaixonei! Foi uma dedicação muito grande, mas eu tive bons resultados bem rápido. Com quatro anos de treino, eu fui campeã pan-americana, me classifiquei para a minha primeira edição de Jogos Olímpicos e aí fui me embora”. 

Com habilidades inquestionáveis na natação, Yane enfrentou o desafio de alcançar alta performance também na corrida, no tiro, na esgrima e no hipismo, modalidades até então desconhecidas para ela.  

Embora possa parecer a atividade mais natural, uma vez que não requer equipamentos nem local de treinamento específico, a corrida foi o maior obstáculo da pentatleta na adaptação à nova modalidade.  

“Na infância, eu costumava correr, óbvio, mas uma corrida orientada, com treinamento, não. Eu não gostava de correr, não sabia correr, e a corrida foi o meu calo durante a minha carreira inteira. Acho que, partindo do princípio de que quem anda corre, de que corrida é muito fácil, todo mundo corre muito bem, mas eu tive dificuldade de acompanhar o nível das minhas adversárias internacionais. Foi uma adaptação muito dura, muito difícil. Tive que começar correndo forte e precisava ter uma corrida interessante para poder ter um bom resultado. No final da minha carreira, eu já estava conseguindo defender a minha posição”.  



Aposentadoria para parar de correr 

Mesmo depois de conquistar importantes títulos internacionais, a pentatleta continuou tendo problemas para correr. “A minha história com a corrida foi difícil, do começo ao fim. Confesso que esse foi um dos fatores que me fez pensar na aposentadoria”, reconhece. “Sempre disse que ia me aposentar na hora que eu quisesse, não na hora que o meu corpo mandasse e isso aconteceu. Eu planejei me aposentar em 2016, porque já estava no meu limite na corrida. Nas outras provas, talvez, eu conseguisse tocar por mais um ciclo, mas a corrida eu não aguentaria”. 

Yane Marques afirma que esgrima, tiro e hipismo foram modalidades muito gostosas de treinar. Mas, além da corrida, qual delas é a mais difícil?  “Acho que, guardando as dificuldades e facilidades de cada prova, todas são bem equilibradas, eu não saberia dizer qual foi realmente a mais difícil de todas, porque as três são bem equilibradas no sentido de dificuldade”, responde. “A esgrima virou uma paixão. É uma modalidade muito difícil, muito estratégica. Eu tenho um minuto para resolver a minha vida”. Hoje, Yane é professora de esgrima.  

A adaptação ao tiro foi rápida. “Fiz minha carreira atirando bem, fiz bons resultados”, orgulha-se. “O fundamento do tiro é muito fácil, mas a aplicabilidade dele é difícil porque, na hora da prova, você já está cansada, com o braço cansado para atirar”.  

Apaixonada pelo hipismo 

Das cinco modalidades, a natação era o ponto forte da atleta pernambucana. “É o meu esporte de origem, e eu sempre fazia uma pontuação muito boa. Eu venho da natação, mas se você perguntar qual é a minha modalidade preferida no pentatlo eu digo que é o hipismo”, enfatiza. 

No pentatlo moderno, as provas de hipismo são disputadas com cavalos desconhecidos dos atletas, indicados pela organização. “O hipismo se torna muito difícil porque a gente não conhece o cavalo e conta um pouco com esse fator sorte. Não dá para saber o que está por vir”, argumenta. 

“O hipismo passou a ser a minha paixão, o meu ponto forte porque me adaptei rápido. Treinava até nas minhas férias. Eu amava assistir a vídeos de cavalo, eu vivia montada”, compartilha.  

Rotina puxada 

O técnico Alexandre França fazia um equilíbrio de cargas, uma periodização de treinamento, organizando as fases da temporada para que Yane participasse das competições, dos circuitos e dos treinamentos centralizados. 

“Eu treinava, normalmente, três provas por dia. Fora isso, ainda tinha musculação, fisioterapia e os exercícios da psicóloga. Tinha exercícios que a gente fazia no quarto, antes de dormir. Mas acontecia dias de treinar cinco provas e dias de treinar duas provas apenas”, detalha.  

O treinamento de cada modalidade era dividido por semana, numa carga equilibrada, de acordo com o que o técnico desenhava. “Uma coisa era certa: equitação era sempre duas vezes por semana, natação três vezes por semana, corrida todos os dias, tiro todos os dias”, enumera. 

Ela enfatiza que o pentatleta tem que ser oportunista, rápido, forte, estrategista. “Tem que aproveitar rapidamente cada oportunidade. São muitas valências físicas que o atleta do pentatlo precisa desenvolver e ter para ser um campeão. Dentro dessas cinco modalidades tão distintas, o atleta tem que ser um pouquinho de tudo para se dar bem”, ensina. 

“Yane é uma atleta muito persistente. A natação foi superimportante até para esse encontro dela com o pentatlo. Ela era uma nadadora bem ‘caxias’, tipo eu. A gente era bem ‘caxias’ de treino, de fazer tudo, de não enrolar, de fazer tudo do começo ao fim”, testemunha Joanna Maranhão. 



Campeã na primeira competição 

Yane Marques fez sua estreia em competições no Campeonato Nacional de Pentatlo, disputado em Porto Alegre, e saiu de lá campeã. “Eu sabia que no Brasil havia poucas mulheres fazendo, sabia que era uma oportunidade. Historicamente, o momento era bom para mim, eu sabia que a minha natação me ajudaria a fazer boas pontuações no pentatlo, e assim aconteceu”, comemora. 

Foi surpresa? “Não sei se a palavra seria essa, a surpresa foi ao saber que poucas pessoas fazem esse esporte no Brasil. Ser campeã na primeira competição talvez, sim, uma surpresa. A gente não vai para competição achando que vai ganhar, né? Mas como eu já entendia mais ou menos o cenário, sabia que era uma coisa que poderia acontecer”, analisa.  

No Campeonato Sul-americano de pentatlo moderno 2004, a brasileira estreou em competições internacionais e foi surpreendida com o título. “Esse eu realmente não esperava. Foi uma coisa que aconteceu fora do que eu estava imaginando, porque o Sul-americano é uma competição mais forte”, avalia. “Eu fui bem na equitação, consegui atirar bem, nadei muito bem e consegui sobreviver ali na corrida e na esgrima. No final das contas, deu tudo certo. Eu ganhei minha categoria, eu não ganhei no sênior, eu ganhei o júnior”, esclarece. 

Um Pan inesquecível 

Com apenas quatro anos de treinamento no pentatlo moderno, Yane Marques viveu um dos grandes momentos da sua carreira nos Jogos Pan-americanos 2007, no Rio de Janeiro, quando conquistou o título e garantiu vaga para os Jogos Olímpicos Pequim 2008.  

“Essa, sim, foi realmente surpreendente. Era uma competição extremamente forte, que dava vaga para os Jogos. Os países mandavam suas equipes principais, suas principais atletas. E eu consegui realizar uma prova exatamente do jeito que eu fazia treino, reproduzir tudo direitinho. Consegui nadar do jeito que eu treinava, montar do jeito que eu treinava, jogar esgrima de jeito que eu treinava, atirar do jeito que eu treinava e correr do jeito que eu estava preparada para correr. Consegui segurar essa prova, que para mim, para minha família inteira e para todo mundo foi uma grata surpresa”, festeja.  

“Eu tenho dificuldade de falar a palavra surpresa. Surpresa para mim é assim: você está lá, todo dia dormindo, tranquila, sem fazer nada. De repente, você acorda e fala: ‘Quero ser uma atleta no nível competitivo e ganhar’. Eu treinei bem para caramba!  Era uma possibilidade, no pentatlo tudo pode acontecer”, acrescenta.  

Sonho olímpico 

Depois de superar os obstáculos para conquistar a vaga olímpica, Yane embarcou para a China consciente da dificuldade que teria para competir bem nos Jogos Pequim 2008. “Tinha a emoção da estreia, a novidade, a expectativa de um sonho de estar nos Jogos. Mas eu estava muito preparada, tanto fisicamente como psicologicamente. Foi uma experiência realmente muito planejada e muito muito tranquila”, pontua. 

A chegada da brasileira em Pequim foi marcada por um imprevisto capaz de mexer com a estrutura emocional de qualquer atleta.  

“Eu tenho uma lembrança muito ruim. Quando pousei em Pequim, peguei meu saco d'armas, que é a mala com espadas, com máscara com tudo, e ele estava todo danificado. Foram longas e longas horas no aeroporto, tentando negociar para ver o que ia ser feito. Quebraram algumas espadas minhas, quebrou a máscara, quebraram os meus óculos de atirar... Foi bem assim”, relata. “Mas eu tinha uma equipe muito boa, meu técnico era um cara muito bravo e eu sabia que ele ia resolver. Foi um misto de surpresa ruim, por demorar muito no aeroporto sem saber o que ia acontecer e, ao mesmo tempo, tranquilidade porque eu sabia que ele ia resolver. A chegada em Pequim foi assim”.  

Avessa à Vila Olímpica 

Enquanto para a grande maioria dos atletas estreantes ficar na Vila Olímpica, compartilhando o mesmo espaço que os grandes nomes do esporte mundial, é um privilégio. Para Yane Marques as mudanças impostas pelo alojamento coletivo foi um ponto a ser superado.  

“Eu, particularmente, não sou uma atleta que ama ficar em Vila Olímpica. Acho que sai muito da rotina. Você tem que esperar o horário que o ônibus vai sair para poder ir treinar. Chegando lá, tem o horário do ônibus voltar e não é o horário que você quer. Tem essa adaptabilidade à condição que nos é oferecida ali, na hora. É aquilo que a gente tem, e a gente tem que achar legal e que vai dar tudo certo”, justifica.   

Entre as melhores do mundo 

A pentatleta brasileira foi aos Jogos de Pequim tendo como objetivo fazer o que havia feito no Pan do Rio. “Foram meus primeiros Jogos e fui para fazer o melhor que eu tinha para oferecer, para fazer o meu melhor resultado, a minha melhor corrida, minha melhor prova, tudo do jeito que eu estava treinando e assim eu consegui fazer”, festeja.  

“Eu estava tranquila, competi bem, fiz uma boa esgrima, uma boa natação. Cheguei a estar entre as 10 melhores na prova, mas não fui bem no cavalo”, lamenta. “Eu peguei um garanhão muito difícil e não consegui fazer uma boa prova. Apesar de ser umas das provas em que eu tinha tranquilidade, não fui bem”. Yane terminou a disputa em 17º lugar.  

Mesmo sem pódio, a brasileira traz excelentes lembranças da sua primeira participação. “Foi uma prova muito boa, uma experiência incrível, que me marcou por estar ali entre as 32 melhores do mundo, jogando uma esgrima competitiva, num nível realmente muito competitivo com tão pouco tempo de treino”, alegra-se. 

Outra marca positiva que a atleta traz de Pequim foi a presença da mãe, dona Maria Goretti Campos da Fonseca. “Foi especial ter a minha mãe comigo, numa competição tão longe, tão distante do Brasil. Ela foi para Pequim, ela foi para Londres, ela foi para o Rio, ela foi para Guadalajara e ela foi para Toronto. Ela foi para todos esses grandes eventos comigo”, diz emocionada. 



Sargento do Exército  

Em 2009, Yane Marques passou a fazer parte do Exército Brasileiro como terceiro sargento. “No pentatlo, no mundo inteiro, existe uma prática muito comum: as Forças Armadas pegam os atletas prontos, que ingressam para as Forças para representar o país nos Jogos Mundiais Militares, um evento gigante, que acontece a cada quatro anos. No Brasil ainda não existia essa prática”, informa.  

“A partir de 2010, começou o programa desses sargentos-atletas do Exército, no Brasil inteiro, com atletas de alto rendimento que podem permanecer nas Forças Armadas por até oito anos. O General Arquias, um comandante de Recife, é um entusiasta e se antecipou ao convidar alguns atletas para integrar o Exército, um ano antes do Programa Oficial de Sargentos-Atletas aqui no Brasil”. 

A pentatleta enfatiza que o salário de terceiro sargento a ajudou muito no meio do ciclo para os Jogos Londres 2012. “Eu estava sem patrocínio, vivendo com uma bolsa ou outra e essa minha entrada para o Exército veio no momento oportuno, me dando uma condição melhor de treino, de acesso a material, de alimentação. Foi uma experiência incrível porque todos os meus técnicos já eram militares. Eu me fardei junto com eles. Eu queria ter continuado, mas são só oito anos”, confessa.  

Jogos Militares 

Em 2011, o Brasil sediou os Jogos Mundiais Militares pela primeira vez e Yane conquistou três medalhas na competição: ouro por equipes, prata no individual e bronze no revezamento misto no pentatlo moderno.  

“No mundo militar, o pentatlo moderno é tão forte quanto no civil. Um percentual gigante dos atletas que competem a temporada civil são os mesmos que fazem os Mundiais Militares. Você não encontra, por exemplo, no Mundial Militar, um atleta que você nunca viu. São sempre atletas já conhecidos, os mesmos de sempre. É uma competição fortíssima! Ter três medalhas nessa prova, nesse campeonato, para mim, realmente, é muito especial. É um sentimento de acreditar em mim, tipo: ‘Eu estou aqui, representando Brasil enquanto militar e fazendo valer a pena esse investimento’”, orgulha-se.  

Fazendo história em Londres 2012 

Depois de conquistar a medalha de prata dos Jogos Pan-americanos Guadalajara 2011 e de se tornar a terceira melhor do ranking mundial, a pentatleta sertaneja embarcou confiante para a sua segunda edição olímpica, em Londres. 

“Eu estava tranquila. Meio ansiosa, mas estava muito preparada. Eu tinha feito o que precisava ser feito para chegar ali bem”, analisa. 



Yane Marques diz se lembrar de todos os detalhes do dia em que competiu na Inglaterra. “Eu me lembro exatamente de tudo: eu indo tomar café, comendo pão com queijo, com ovo. Consegui me alimentar bem no café...”, detalha. 

A brasileira enfrentou as 36 oponentes na esgrima e terminou a primeira prova do pentatlo moderno, em Londres, com 21 vitórias e 14 derrotas. “A minha esgrima foi boa. Eu tinha o scout de todas as minhas adversárias. Entrava em pista sabendo o que cada adversária ia fazer e sabendo também o que eu tinha planejado para cada uma delas, e executava. Estava dando certo”, relata.  

Depois da natação, ela assumiu a segunda posição na classificação final. “Nadei superbem e consegui manter o meu ritmo bom de prova”, avalia.  

Durante a prova de hipismo em Pequim, Yane teve problemas com o cavalo. Em Londres, a questão inesperada ficou por conta do uniforme.  “Foi engraçado! Eu sempre montava fardada porque era militar, e lá em Londres não podia montar fardada eu não sabia”, explica. “Eu levei a minha farda para montar e, quando chegou na hora da prova, meu técnico me disse: ‘Toma aqui! Essa é a roupa com que você vai montar’. Eu não questionei. Falei: tá bom, me dá aí! E peguei a roupa. Ele me explicou que eu não poderia estar fardado, e a gente não estava preparado para isso. Fomos avisados muito em cima da hora. Ele foi ao shopping e comprou uma roupa nova para mim. Eu montei com uma roupa lá, meio improvisada, e deu tudo certo”.  

Cavalo cansado 

A brasileira pegou um cavalo mais velho e diz ter recebido as seguintes instruções: “É um cavalo mais velho, ele está um pouquinho cansado, porque já fez um percurso. Tenta trabalhar bem as distâncias com ele”.  

Ao invés de travar diante dos obstáculos, como boa sertaneja, Yane não fugiu da luta e seguiu em frente. “Eu estava tão preparada, tinha treinado tanto, havia feito tudo o que precisava fazer. Então, tudo o que vinha como complicação, eu matava no peito e resolvia. Se é para fazer assim, vamos fazer. A prova inteira foi fluindo e, quando eu percebia que alguma coisa estava saindo do trilho, a gente encaixava e pronto, acabou!”, resume.  

A inédita medalha de Yane Marques e do pentatlo moderno do Brasil foi definida durante a prova final, o combinado corrida/tiro. “Eu sabia que ia ter que correr muito forte”, relata a pernambucana. Ela diz que sabia ter melhorado sua performance na corrida e que, naquele dia, estava bem.  

“Consegui dividir a prova com muita consciência. Passei a primeira volta fraca para poder aguentar o sprint de que precisei no final. Eu fiquei a dois segundos da medalha de prata, mas também fiquei a uns dois segundos do quarto lugar. Se tivesse mais 100 metros, não sei se completava. Foi no limite”, destaca.  

“Se eu não tivesse dividido bem a prova, não teria conseguido ter aquele sprint final. Fiz tudo exatamente dentro do que eu tinha treinado, do que eu tinha estudado, do que eu tinha planejado. Na última volta, eu sabia que ia ter que me matar senão eu não chegaria ao pódio. Faltando uns 400 metros, eu já sabia que ninguém mais ia me passar, só se eu caísse. Eu melhorei 32 segundos! Fiz a melhor corrida da minha vida”, orgulha-se.  

O ouro foi para a lituana Laura Asadauskaitê e a prata para a britânica Samantha Murray.  

Emoção 

A conquista de Yane Marques em Londres aconteceu em 12 de agosto de 2012. Era o Dia dos Pais, o último dia dos Jogos, a última medalha em disputa.  

“Foi incrível, foi inesquecível! Eu me lembro de tudo, absolutamente tudo. Foi um sonho realizado, um sonho meu, da minha família, da minha mãe, dos meus técnicos, de todo mundo que se envolveu, que meteu a mão, que me ajudou, que acreditou, que confiou, que brigou comigo, que me deu conselho, que me ajudou a pagar uma passagem para ir treinar”, agradece.  

A brasileira conta que um filme gigante passou pela sua cabeça. “É o sonho de todo atleta. Na Olimpíada, a prova é preparada diferente. Na verdade, não é a prova mais forte do ano para a gente, mas é a prova que todo mundo espera, um dia na vida, participar. Primeiro participar e, depois, a gente sonha em ganhar uma medalha. Eu sou uma felizarda porque eu participei três vezes e tenho a minha medalhinha guardadinha aqui para a eternidade”, festeja. 

No pódio, tudo o que a medalhista de bronze queria era compartilhar sua alegria com a mãe. Ela ficou o tempo todo tentando cruzar seu olhar com o sorriso de dona Goretti, mas não conseguiu.  

“Eu ficava procurando mainha. Eu não estava vendo mainha, não sabia onde ela estava e não pude dar um abraço nela depois da medalha. Olhei muito para trás para ver se a via na arquibancada, mas não consegui. Isso para mim foi bem triste. Eu não pude olhar para ela e dar um sinal dizendo: estamos juntas aqui no pódio. Eu tentei, mas não consegui. Só encontrei mainha no outro dia”, relembra. 



Referências 

Durante toda a carreira, Yane Marques se espelhava em dois grandes nomes do esporte: o vice-campeão olímpico de natação Gustavo Borges e o tenista Gustavo Kuerten. Gustavo acabou se tornando amigo.  

“Ela é uma excelente nadadora e excelente pentatleta. A importância dela para o esporte é enorme. Numa atividade que não era muito conhecida no Brasil, ela teve uma habilidade incrível para praticar e transformar isso numa medalha olímpica. Ela é uma referência grande em nível nacional. Sem dúvida nenhuma, essa medalha trouxe um impacto no esporte feminino nacional”, exalta Gustavo Borges. “Os ídolos precisam ajudar as gerações seguintes, tanto com inspiração, quanto com presença, quanto com palavras. Eu fico muito feliz por ter impactado a carreira da Yane”. 

Com o bronze olímpico, Yane Marques tornou-se a primeira pentatleta sul-americana a subir ao pódio olímpico. Mas o fato de ter várias conquistas inéditas para o país ou para o continente - como sua colocação entre as três primeiras no ranking mundial - não impressiona a menina pobre do sertão de Pernambuco, que conquistou destaque no mundo esportivo.  

“Essa história de melhor do mundo, primeira medalha olímpica na história das Américas acaba sendo meio que uma consequência. Eu acho que eu sou uma felizarda por ter, nesse momento histórico, conseguido um feito que ninguém tinha alcançado antes de mim. A classificação no ranking, por exemplo, eu fiquei um tempão entre as dez melhores do mundo e não visitava o site para saber em que lugar eu estava. Eu sabia que tinha que treinar, treinar, treinar igual louca e, como consequência, os bons resultados me levariam às medalhas e a uma boa classificação no ranking. Essa medalha veio como consequência da minha dedicação, da minha entrega, e tudo isso me alegra demais”, analisa.  

A segunda melhor do mundo 

Depois do bronze em Londres, Yane conquistou medalha de prata no Mundial Taiwan 2013. Outro feito inédito.  

“Foi muito dolorido. Eu me lembro de absolutamente tudo. Eu me lembro de chegar no último boxe de tiro junto com a Samantha Murray, eu atirei em 10 segundos e ela ficou lá 14/15 segundos. Eu consegui segurá-la dessa vez. E, na chegada, meu técnico gritava, urrava, berrava: ‘Pra mim! Pra mim! Não abre, vai até o final’ E eu já morta, faltando poucos metros, naquele sprint, ela tentando me jantar. E eu pensando: Ah, minha filha, para me jantar agora, você vai ter que rebolar!”, diverte-se. “Essa medalha foi incrível, inédita. Na minha vida, é uma medalha que eu guardo com muito carinho, porque eu sei o peso e a importância de ser a segunda melhor atleta no mundo. Isso tem um significado especial para gente que vive do esporte”.  

No ciclo dos Jogos Rio 2016, ela ficou com o título da Copa Kremlin, na Rússia; com o ouro no Campeonato Pan-americano, do México, e dos Jogos Sul-americanos, no Chile, e tornou-se bicampeã nos Jogos Pan-americanos Toronto 2015, ano em que também garantiu o bronze no Campeonato Mundial de Berlim, na Alemanha.  

De 2005 a 2011, Yane foi eleita a melhor atleta do pentatlo moderno no Prêmio Brasil Olímpico, promovido pelo COB.  

“Até hoje eu coloco no meu currículo, com muito orgulho: 12 vezes escolhida como a melhor pentatleta do Brasil. Isso é resultado de uma temporada bem feita, de uma temporada com bons resultados, de uma temporada com muitas conquistas, com ascensão, com a evolução técnica, física. Sem isso, você não repete um Prêmio Brasil Olímpico e para mim tem um significado gigante”, orgulha-se. 

O peso das cobranças 

Com medalhas inéditas na bagagem, a pentatleta pernambucana viu todos os olhares se voltarem para ela nos Jogos Olímpicos Rio de Janeiro 2016. A cobrança foi pesada.  

“Eu sofri muita pressão, pressão externa. Algumas formas até indelicadas de pressionar, mas, enfim, a pressão só vem para quem merece ser pressionado. Ninguém pressionou a menina que estava em último lugar para ela ganhar. Eu via sempre pelo lado bom”, filosofa. 

“Minha expectativa era tentar fazer na prova o que eu estava fazendo no treino”, explica Yane. “Eu estava muito bem fisicamente, estava fazendo bons treinamentos, correndo muito bem, nadando bem, estava no auge da minha forma física. Mas tem dia que não encaixa. Não encaixou, passou. Muita coisa eu consegui fazer, outras coisas não”. 


Apesar de as expectativas terem sido as melhores possíveis, a brasileira terminou na 22ª posição na disputa do pentatlo moderno na capital carioca, em sua terceira edição olímpica.  Longe do pódio, a pernambucana de Afogados da Ingazeira não se entristeceu nem se frustrou.  

“Sabia que ia ser uma prova muito difícil. Depois que eu fiz uma esgrima razoável para ruim, sabia que o resto do dia estava comprometido, mas que eu ia buscar o resultado. Tentei até o último segundo, mas frustração nenhuma”, relata. “Sai da prova com sentimento de que fiz na esgrima o melhor que eu podia, nadei o melhor que eu podia, montei o melhor que eu podia, fiz tudo o melhor que eu podia. De verdade, eu não tive um resultado bom porque não tinha que ser. Mas de esforço, foi tudo o que eu tinha para dar. Então, eu fiquei tranquila”, completa. 

Yane Marques ressalta que no pentatlo tudo é muito dinâmico e tudo pode acontecer. “No feminino especialmente, desde que o pentatlo existe, nunca se repetiu um pódio olímpico. No masculino, só tem um cara que foi medalhista olímpico duas vezes, que é um russo e ninguém mais. Desde de 1912, na primeira edição que teve o pentatlo, até Tóquio 2020, nunca se repetiu um pódio olímpico no pentatlo moderno”, informa. E confessa: “É muito difícil, mas eu acreditava e eu queria. Obvio que eu sonhava: vai que eu conquiste uma medalha em casa, aí eu morro do coração. Eu fiz por onde, mas não deu”.   

A porta-bandeira no Brasil 

As emoções dos Jogos Rio 2016 tiveram início, para Yane Marques, em 31 de maio, quando a pentatleta participou do revezamento da tocha olímpica, em Recife. “Essa lembrança vai ficar para sempre na minha memória, guardada”, declarou ela, na época, rodeada por familiares e muitos torcedores.  

A página mais marcante da última participação da medalhista de bronze em Londres 2012, no Rio de Janeiro, começou a ser escrita quando ela foi convidada pelo COB para se candidatar à função de porta-bandeira da Cerimônia de Abertura dos Jogos. A escolha foi feita entre o velejador Robert Scheidt, bicampeão e multimedalhista olímpico; o jogador de vôlei Serginho (Escadinha), medalha de prata em Londres-2012, e ela, por meio do voto pela internet. 

“Essa história é muito engraçada, porque, quando eu recebi o convite para me candidatar, achei difícil competir com o Scheidt e o Escadinha. Pensei: deixa pra lá, mas foi bom ser indicada”, revive. “Pouco tempo depois, eu disse: É o quê? Todo mundo votando em mim, mandando mensagem: ‘Ânimo, mulher! Você é nordestina, você vai ganhar...’ Aí eu comecei a fazer campanha. Quando saiu o resultado, foi muito emocionante”. 

A cara do Brasil 

A pernambucana confessa que nunca gostou de participar das Cerimônias de Abertura, preferindo ficar resguardada. “Dessa vez, acabei tendo que ir para a abertura. A espera foi longa, mas foi muito especial porque foi no Brasil, em casa, com a família perto. Foi demais, inesquecível!” 

Ao entrar no Estádio do Maracanã, vestindo saia, blusa e echarpe com tons de verde, amarelo e azul, blazer azul marinho, sapato na cor areia, chapéu de palha na cabeça e bandeira verde-amarela nas mãos, Yane era, como diria Caetano Veloso, “a mais completa tradução” do atleta olímpico brasileiro, que enfrenta as distâncias, a falta de recursos, as dificuldades para treinar e competir no exterior, mas não tem medo de desafios: segue em frente, abre a mente para o novo, se esforça para ser melhor a cada dia, chora, sofre, mas rompe em alegria ao ver que tudo valeu a pena, quando a bandeira nacional tremula em frente ao pódio.    

Hall da Fama 

“A história de Yane precisa ser contada para além de quem ela foi como atleta. Acho que essa é a importância dela no Hall da fama do COB”, frisa a nadadora olímpica Joanna Maranhão. “Dizem que atletas precisam de mais de década, parece que 13 anos de prática da modalidade para se tornar atleta olímpico. Yane se tornou medalhista com oito anos de pentatlo”, exalta. 

“Quando você é reconhecido no Hall da Fama significa que você teve um legado, uma história dentro do esporte, e a Yane, com certeza, tem essa referência no esporte nacional. É mais do que merecida a entrada dela no Hall da Fama do COB”, avalia o vice-campeão olímpico Gustavo Borges. “Ela tem uma representatividade gigantesca, um espelho para muitas mulheres, muitos homens, muitos atletas. Essa referência é importantíssima para a continuidade do esporte e no orgulho de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos e no esporte de maneira geral”.   

“Lutar com lealdade e vencer com justiça”. A frase, que faz parte da canção “Oração do Infante”, aprendida no Exército, é o lema da vida e da carreira de Yane Marques, uma sertaneja que se dispôs a aprender os segredos do pentatlo e não descansou até levar o nome do Brasil aos pódios do mundo inteiro.  
Yane Márcia Campos da Fonseca Marques

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Medalhas em jogos olímpicos

Vídeo

Iane Marques - Biografia para o Hall da Fama

Iane Marques alçou o pentatlo moderno do país ao topo da elite mundial. Campeã dos Jogos Pan-americanos Rio 2007, um feito até então inédito para brasileiros, ela pavimentou seu caminho para chegar ao bronze nos Jogos Olímpicos Londres 2012.
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RESULTADO EM DESTAQUE

ediçãoresultadoprova
Jogos Olímpicos Londres 2012
3º LugarBronze
Individual - Feminino
Jogos Pan-americanos Toronto 2015
1º LugarOuro
Individual - Feminino
Jogos Pan-americanos Rio 2007
1º LugarOuro
Individual - Feminino
Jogos Pan-americanos Guadalajara 2011
2º LugarPrata
Individual - Feminino
Campeonato Mundial - Kaohsiung 2013
2º LugarPrata
Individual - Feminino
Campeonato Mundial - Berlim 2015
3º LugarBronze
Individual - Feminino

ACERVO

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