Família do Paraná supera acidente em viagem para os Jogos da Juventude para ver filho ser ouro no triatlo
Sem ferimentos, pai, mãe e irmã de Arthur Morer seguiram viagem para Ribeirão Preto para acompanhar o jovem se tornando o primeiro campeão da modalidade na competição

Um
verso de uma antiga música diz que “sonho que se sonha só é só um sonho que se
sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. E essa pode ser a definição
da família Morer. Fabiano e Ana Beatriz praticam corrida por hobbie, mas o
filho mais velho, Arthur, escolheu o triatlo como o esporte da família há 3 anos.
Desde então, estar nos eventos da modalidade é a rotina de todos os familiares, inclusive de Clara, de 10 anos, que também ingressou no esporte por causa do irmão. Na
primeira aparição do triatlo nos Jogos da Juventude, Arthur foi o representante
do Paraná e a família, claro, resolveu ir torcer por ele de perto. Mas antes do
sonho virar realidade, houve um imprevisto.
“Eu rodei com o carro na saída do Paraná para São Paulo e fomos parar no
barranco. Graças a Deus, ninguém se feriu, mas o carro ficou bastante
danificado. Liguei para o corretor que disse que enviaria um carro para nos
levar de volta para casa. Mas queríamos estar perto do Arthur nesse momento e
perguntei se o carro, ao invés de nos levar para casa, poderia nos trazer para
Ribeirão. Depois de uns minutos, ele disse que sim, mas queria que o Arthur
trouxesse a medalha de ouro”, contou Fabiano.
E não é que o pedido virou realidade? Arthur liderou a prova até os últimos
metros da corrida, quando foi pressionado por Rodrigo Coelho, do Espírito Santo,
mas resistiu à investida do adversário e completou a prova em primeiro, para se
tornar o primeiro campeão da modalidade que estreou nos Jogos das Juventude
nesta quinta-feira (07). Mesmo sem saber do que havia acontecido na véspera de
sua prova, Arthur dedicou o resultado histórico para quem sonha o sonho junto.
“Meus ídolos são minha família: meu pai que trabalha muito para poder que possa
estar nas provas, minha mãe que está sempre me apoiando e me levando pros
treinos e competições, e minha irmã, que começou o triatlo por causa de mim. Me
dá vontade de chorar só de pensar que eles saíram de Curitiba, de carro, só para
poder me ver”, disse o garoto ao final da prova individual. Nesta sexta (08),
ele ainda disputou a prova de revezamento.
Sobre a prova, o garoto disse que muitas coisas novas aconteceram. “Achei que
saí bem da água, mas nunca tinha feito uma prova sem vácuo (sem adversário na
frente para diminuir o vento contra). Segui bem na bike, mas tive que segurar
na corrida. Precisei ter uma cabeça boa para manter o primeiro lugar. A única
coisa que passou era que eu queria ganhar”, disse.
Rodrigo Coelho, que acabou com a medalha de prata ao tropeçar e cair quase na
linha de chegada, ressaltou a força mental de Arthur. “Ele já tinha aberto um
tempo na natação e manteve no ciclismo, mas na corrida eu estava só pensando em
todo mundo que me apoiou e tentei alcançar de toda a forma. No sprint final,
tentei passar e achei que, quando eu me aproximasse, ele ia desanimar e desistir.
Eu já estava no meu máximo, mas ele não desistiu. Aí as pernas começaram a
bambear, caí, mas pelo menos consegui ultrapassar a linha de chegada”, contou.
A treinadora de Arthur também destaca essa característica. “Ele é um piá muito
dedicado. Se tiver que acordar 4h da manhã no frio para treinar, ele vai
acordar. Disciplinado e dedicado”, Jéssica Rodrigues, que trabalha com Arthur
na Escolinha de Triathlon Formando Campeões.
O pai confirma. “Ele me acorda para treinar no final de semana. Antigamente eu
falava ‘vai perder pro velhinho na corrida?’ e agora eu que escuto uns
desaforos. Essas semanas para trás ele falou: eu vou correr, pai, você vai
comigo? Respondi que ia e ele emendou: ‘Mas tu vai de bicicleta, né!?’”, contou,
rindo, Fabiano.
Além de apoio o filho nos treinos, Ana Beatriz, a mãe, ressaltou a dedicação de Fabiano para apoiar o filho na modalidade. “O Fabiano é metalúrgico. Às vezes, faz
uns bicos para aumentar a renda e poder proporcionar alguma coisa a mais para o
Arthur, chega em casa meia-noite e quatro da manhã já está levantando de novo para
trabalhar. É uma dedicação constante”.
“A parte mais difícil é o patrocínio. Ele é dedicado e eu também tenho que ser.
trabalho dia e noite, sem problema. Então, eu penso que um pai de um atleta tem
que cobrar dedicação, não resultado. Hoje eu tenho um filho campeão e uma filha
que está começando, na recreação. Ela se cobra resultado, mas eu não. A hora que
acabar a diversão, não precisa mais fazer. Eu tenho um filho que ele é campeão na prova
de hoje, mas outros meninos também são bons. Ninguém vai ganhar sempre e é
importante entender isso”, disse, emocionado, Fabiano.
Para Arthur, o ouro nos Jogos da Juventude foi um sonho realizado. Os próximos não
são extravagantes, são construídos aos poucos, sempre junto com a família. “Por
enquanto, meu sonho é fazer minha primeira prova internacional, sair do Brasil
pela primeira vez. Depois, quem sabe, chegar aos Jogos Olímpicos”.
Quem pode duvidar da força de um sonho?
Triatlo nos Jogos da Juventude
A estreia do
triatlo nos Jogos da Juventude teve ainda o título de Maria Clara Cunha (GO) no individual feminino,
com Kawani Sofia, de Pernambuco, ultrapassando Maria Luiza Oliveira, de
São Paulo, nos últimos metros para ficar com a prata. O percurso teve 300m de natação, 6km de ciclismo e 1.7km de corrida. A
modalidade fechou a participação em Ribeirão Preto 2023 com as disputas da
equipe mista, no Magic Gardens.