Do bambu para o dardo: atletas da aldeia Guarani-Kaiowá conquistam três medalhas nos Jogos Escolares da Juventude
Jovens não treinavam com materiais específicos até pouco tempo atrás, usando bambus e pedras para as provas de arremesso e lançamento
A aldeia de 12 mil pessoas do povo indígena Guarani-Kaiowá está em festa. Localizada a 5km de Amambaí (MS), fronteira com o Paraguai, a tribo teve 14 representantes nos Jogos Escolares da Juventude, todos da Escola Municipal Polo Indígena Mbo’Eroy (em guarani, Oca Grande), e conquistou três medalhas na maior competição estudantil do país: duas de ouro e uma de bronze.
Yuri Moreira Benítez, de 14 anos, venceu o lançamento do dardo e ficou a apenas seis centímetros do recorde da competição: 55,75m. Ao lado de Marlon Mendes e outros dois atletas do Mato Grosso do Sul, ele ainda ganhou o revezamento 4x75m.
“Na próxima semana, vou disputar o Campeonato Sul-americano em Assunção (Paraguai) e espero trazer mais medalhas para o meu estado e para o Brasil”, conta Yuri.
Segundo colocado no ranking brasileiro sub-16 do lançamento do dardo e favorito ao pódio em Assunção, Yuri já alcançou a marca de 59,15m, em Fortaleza (CE). O detalhe é que ele começou no esporte lançando bambus. Além de Yuri e Marlon, a outra medalha da Escola Mbo’Eroy foi conquistada por Juliano Lima, bronze, também no dardo – os outros atletas da aldeia que disputaram provas do atletismo foram Igor Ricarte e Poliane Velasques.
“Treinamos pesado e aprendemos a lançar com bambus. Temos dardo há pouco tempo e, na verdade, quase não temos material esportivo”, diz Juliano, primo de Yuri, lembrando ainda que os arremessadores do peso da categorias sub-14 ainda treinam com pedras que eles próprios esculpem.
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Equipe feminina de futsal só treina há um mês com chuteiras
Técnico da equipe feminina de futsal do Guarani-Kaiowá, Irídio Carmona tem em seu elenco quatro atletas que disputaram as provas de atletismo nos Jogos Escolares do ano passado e que agora retornaram ao evento para o torneio de futsal. São elas: Sandy Gonçalves, Tancieli Rodrigues, Jessica Vilhalva e Poliane Lima.
“Essas quatro atletas também conquistaram vaga no atletismo, mas preferiram competir no futsal. Normalmente elas jogam descalças, mas como aqui elas são obrigadas a usar chuteiras, estamos treinando com elas há um mês. É muito difícil conseguir material esportivo lá em Amambaí. Às vezes, falta até bola e tenho que comprar para não interromper os treinos. É a mesma coisa no atletismo”, fala Irídio.
As aulas na Escola Guarani contemplam algumas disciplinas diferentes de escolas convencionais, como cultura indígena. “Os alunos têm aulas em Guarani, língua que usamos para nos comunicar, além de espanhol e português. Temos ainda aulas de danças tradicionais, como o Guachiré, uma espécie de desfile indígena, e o Kotyhu Guahu, usado em momentos específicos, como rituais para colheita de plantas e despedida para os mortos”.
As atletas do futsal competiram com os braços pintados, porque o Pirá Pirê, que significa grafismo indígena em português, dá sorte aos guerreiros em batalha. Apesar de terem perdido seus jogos para o Distrito Federal e para o Rio de Janeiro, campeão de 2018, as meninas venceram o Colégio Água Branca, da cidade de mesmo nome, de Alagoas. A cidade histórica fica às margens do Rio São Francisco, na divisa com Sergipe, Pernambuco e Bahia.
Os Jogos Escolares da Juventude são uma realização do Comitê Olímpico do Brasil (COB), com o apoio da Prefeitura de Blumenau e do Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte).
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