Nota de pesar - Zagallo
Tetracampeão do mundo de futebol faleceu nesta sexta-feira (5), aos 92 anos

É com a mais profunda tristeza que o Comitê Olímpico do Brasil externa seu pesar pelo falecimento de Mario Jorge Lobo Zagallo, aos 92 anos, nesta sexta-feira, dia 5 de janeiro de 2024, no Rio de Janeiro.
Lenda do esporte e orgulho nacional, a história de Zagallo se confunde com a da Seleção Brasileira de futebol, a mais vitoriosa do mundo. O Velho Lobo, como ficou conhecido, esteve presente na conquista de quatro dos cinco títulos do Brasil em Copas do Mundo: bicampeão como jogador (Suécia 1958 e Chile 1962), campeão como técnico (México 1970) e campeão como coordenador técnico (Estados Unidos 1994). Como treinador, também ficou em segundo lugar na França, em 1998. Seu brilhante currículo ainda tem a medalha olímpica de bronze nos Jogos de Atlanta 1996.
“O futebol brasileiro representa a minha vida. A torcida, o povo, fazia questão de gritar o meu nome. E a frase 'vocês vão ter que me engolir' é gostosa demais!”, disse Zagallo, em um de seus últimos depoimentos, ao COB, na ocasião de sua entrada no Hall da Fama da entidade, em maio de 2023.
Nascido em 9 de agosto de 1931 em Atalaia, Alagoas, logo aos oito meses mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Apesar da contrariedade do pai, o futebol entrou cedo em sua vida. As primeiras peladas foram disputadas no terreno onde o estádio do Maracanã seria construído. Logo se destacou nas categorias de base no América (RJ). Em 1950, transferiu-se para o Flamengo, onde conquistou o tricampeonato carioca (1953, 1954 e 1955). Em 1958 foi para o Botafogo e integrou um dos grandes times da história do futebol ao lado de Garrincha, Didi, Nilton Santos e do então jovem prodígio, Pelé. No clube da Estrela Solitária, foi campeão da Taça Brasil e bicampeão carioca, entre outros títulos, e permaneceu até o fim da carreira como atleta.
“Zagallo possui uma trajetória impressionante de devoção, entrega e amor incondicional ao futebol e à Seleção Brasileira. Sua vitoriosa carreira é motivo de orgulho imenso para todos os brasileiros e só podemos agradecer por toda contribuição que ele nos deixou em vida. E com muito orgulho o incluímos com todo o merecimento, em 2020, no Hall da Fama do COB. Todas as homenagens são poucas para essa lenda do esporte mundial”, declarou Paulo Wanderley, Presidente do COB.
Sempre à frente do seu tempo, atuando como ponta-esquerda, Zagallo inovou a forma de jogar na posição. Descrito como um jogador tático, Zagallo era franzino e tinha um preparo físico extraordinário. Num estilo que era só dele, atuava como um ponta recuado que ajudava bastante no meio-de-campo, o que lhe valeu o apelido de “Formiguinha”.
Disputando a posição com jogadores de talento indiscutível como Canhoteiro, do São Paulo, e Pepe, do Santos, Zagallo foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira pelo técnico Vicente Feola, como segundo reserva da ponta esquerda, aos 26 anos.
Já como titular, em 1958, na Suécia, foi fundamental na conquista da primeira na Copa do Mundo para o Brasil e ainda marcou um gol na final contra os donos da casa na vitória de 5 a 2.
Na Copa do México, em 1962, o técnico era Aymoré Moreira, e Zagallo, novamente, foi o titular. Mesmo desfalcada de Pelé, que sofreu um estiramento no músculo da coxa, a seleção sagrou-se bicampeã mundial ao vencer a Tchecoslováquia por 3 a 1, na decisão.
Meses depois de se aposentar como jogador em 1966, iniciou a carreira de treinador na categoria Juvenil do Botafogo. Era o início de mais uma jornada recheada de glórias, êxitos, títulos e troféus.
E quis o destino que seu caminho cruzasse com o da Seleção Brasileira mais uma vez, em 1970. A menos de 100 dias da Copa de 1970, o técnico João Saldanha, que havia classificado a equipe nacional com 100% de aproveitamento nas Eliminatórias, deixou o cargo. Zagallo foi o escolhido para assumir, em março, o comando da equipe que brigaria pelo tri no México.
Com ousadia, Zagallo montou um time estrelado com craques do calibre de Pelé, Gérson, Tostão, Rivellino e Jairzinho e considerado por muitos a melhor seleção de todos os tempos. O terceiro título do Brasil veio com uma goleada de 4 a 1 contra a Itália. Zagallo se tornaria ali o primeiro campeão do mundo de futebol como atleta e treinador.
Dirigiu o Brasil na Copa de 1974, na Alemanha, quando foi eliminado pela Holanda, a Laranja Mecânica, em quadrangular da segunda fase, por 2 a 1.
Dos anos 70 ao início dos anos 90, Zagallo treinou as seleções de Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes, conquistando resultados de destaque. Quando embarcou para o Kuwait, o Velho Lobo teve ao seu lado o amigo Carlos Alberto Parreira, com quem viveria uma longa e vitoriosa parceria.
A amizade entre os dois somada a todos os predicados do Velho Lobo levaram Carlos Alberto Parreira a escolher Zagallo como coordenador técnico na Copa de 1994.
Depois de amargar 24 longos anos sem título, o Brasil conquistou o tetra na Copa dos Estados Unidos, e Zagallo tornou-se um caso único de vencedor no futebol mundial, com quatro títulos.
Além da quase convocação para os Jogos Olímpicos Helsinque 1952 (ele não foi porque assinou contrato com o Flamengo e, na época, a equipe era formada somente por amadores), a trajetória olímpica de Zagallo também é marcada pela classificação da seleção da Arábia Saudita para Los Angeles 1984. Mas, o capítulo mais marcante, sem dúvida, foi protagonizado em Atlanta 1996, quando o técnico tinha o desafio de conquistar o título inédito de campeão olímpico para o futebol brasileiro, que já colecionava duas medalhas de prata (Los Angeles 1984 e Seul 1988).
Formada por grandes estrelas como Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos, Bebeto e Rivaldo, a seleção brasileira era considerada favorita. Mas acabou perdendo na semifinal para a Nigéria na prorrogação. Na disputa pela medalha de bronze, a seleção brasileira superou Portugal por 5 a 0, a maior goleada daqueles Jogos.
A Copa do Mundo de 1998 foi a última participação de Zagallo em Mundiais como técnico. O Brasil sagrou-se vice-campeão, e o Velho Lobo encantou o mundo ao motivar os jogadores, um por um, antes da cobrança de pênaltis no jogo contra a Holanda, na semifinal.
A última participação de Zagallo em Copas do Mundo foi como coordenador técnico na Alemanha, em 2006, quando o Brasil ficou em quinto lugar.
Seu amor incondicional pela camisa da Seleção, a famosa “amarelinha”, acompanhou sua trajetória. Ficou famoso pela célebre frase “Vocês vão ter que me engolir” após o título da Copa América de 1997.
Outro momento marcante veio na Copa das Confederações de 1996, quando o Brasil venceu a África do Sul de virada. Zagallo celebrou o gol da vitória, de Bebeto, com um inesquecível aviãozinho na beira do gramado.
O último clube que comandou foi o Flamengo e a estrela de Zagallo parece ter iluminado o sérvio Petkovic na cobrança de falta aos 43 minutos do segundo tempo, que rendeu o tricampeonato carioca de 2001 ao clube da Gávea.
Em sua carreira vitoriosa, o Velho Lobo contabiliza 135 jogos como treinador da seleção principal (99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas) e 96 como coordenador técnico (53 vitórias, 32 empates e 11 derrotas). Na seleção olímpica, foram 19 partidas (14 vitórias, três empates e duas derrotas). Ele também jogou 36 vezes com a amarelinha (29 vitórias, quatro empates e três derrotas) e é o técnico que mais comandou a seleção. Foram 17 títulos conquistados entre as funções de jogador, treinador e coordenador técnico.
Zagallo foi casado com Alcina durante 57 anos, até o falecimento dela em 2012, aos 80 anos. Com ela teve cinco filhos – Maria Emília, Paulo Jorge e seu irmão gêmeo, que faleceu nos primeiros dias de vida; Maria Cristina e Mário César.
Motivada pela devoção da esposa a Santo Antônio, celebrado em 13 de junho, a superstição em relação ao 13, seu número da sorte, sempre foi uma das marcas registradas de Zagallo desde o início da sua carreira.
“Zagallo eterno” tem 13 letras!
Muito obrigado por tudo, Velho Lobo!