Com ajuda da mãe, handebol descobre talento de Anna Clara na Noruega
Jogadora de 21 anos nascida no Maranhão integra nova geração da modalidade nos Jogos Sul-americanos
O esforço de uma mãe para realizar o sonho da filha rendeu um reforço para a nova geração do handebol brasileiro. Aldenora assistia orgulhosa ao desenvolvimento de Anna Clara Fjellheim nas quadras da Noruega. Jogadora de uma equipe profissional em um país apaixonado pelo handebol, a jovem, natural de Paraibano, no Maranhão, mostrava talento e se destacava.
Defender as cores da seleção brasileira, no entanto, parecia um sonho muito distante. A mãe, então, decidiu arregaçar as mangas.
“Eu entrei em contato com a confederação e falei que tinha uma filha brasileira que jogava handebol e morava na Noruega comigo. Depois de um tempo, chegou uma mensagem do treinador me pedindo para enviar uns vídeos de jogos dela. Tomei essa iniciativa porque seria difícil a seleção brasileira saber quem a Anna Clara era, já que ela usa o sobrenome norueguês do padrasto”, contou Aldenora.
Cristiano Rocha gostou do que viu nos vídeos e passou a acompanhar o desempenho de Anna Clara no Campeonato Norueguês.
“Ela pensou que era brincadeira minha quando eu falei que o treinador da seleção do Brasil pediu para mandar vídeos dela”, relembra a mãe.
No último Réveillon, a tão esperada mensagem chegou: Cristiano chamava Anna Clara para integrar a seleção.
“Fiquei chocada. Sempre sonhei em defender o Brasil, mas não imaginava que iria acontecer desse jeito”, contou a atleta de 21 anos.
Anna Clara participou de um período de treinos com o time nacional em Portugal no início deste ano. Aos poucos, foi vencendo a barreira da língua e se integrando mais ao grupo. Como sua família fala norueguês em casa, seu português estava enferrujado.
A maior dificuldade era entender os termos técnicos dos treinos, mas as companheiras e a equipe técnica estavam sempre de prontidão para ajudá-la com a tradução. Em poucos meses, chegou a convocação para integrar a seleção nos Jogos Sul-americanos como armadora direita.
“Ela é uma canhota muito talentosa, com uma técnica bem apurada. Estamos acompanhando seu desenvolvimento. Foi muito legal descobri-la desse jeito”, afirmou o treinador.Anna Clara se mudou para a Noruega em 2009, quando tinha apenas oito anos. A mãe conheceu o atual marido quando moravam em Paraibano, no Maranhão. Decidiram se casar e ir morar na Europa. O impacto foi grande.
A menina não entendia a língua, não estava acostumada com a comida local e sofria com o frio, com a neve e com a falta de sol. Mas, depois de um ano em uma escola de idiomas, voltou ao ensino regular e logo abraçou a cultura norueguesa.
O esporte chegou à vida de Anna Clara quando ela tinha cerca de 11 anos por incentivo do padrasto, Trond Johan Fjellheim, que percebia que a enteada precisava melhorar suas habilidades motoras.
“Eu comecei fazendo futebol e handebol. Mas depois de um tempo tive que escolher porque as aulas aconteciam ao mesmo tempo. Escolhi o handebol”, conta a jogadora.
A modalidade é muito popular na Noruega, e muitas escolas mantêm equipes fortes. Foi assim que a brasileira começou a se destacar. Aos 16 anos, já era contratada por uma equipe profissional da segunda divisão local. Hoje atua no Gjerpen HK Skien.
“Ela faz muitos gols e é a melhor na defesa. Ela é muito boa. Os jornais escrevem sobre ela direto aqui. E não falo isso porque sou mãe coruja, não. Estamos muito orgulhosos em vê-la vestindo a camisa do Brasil”, elogia Aldenora.
Fã de Ana Paula Rodrigues e Bruna de Paula, Ana Clara está tendo a chance de jogar e aprender com um de seus ídolos em Assunção. Ana Paula é a mais experiente do time que disputa os Jogos em Assunção.
“Tem sido uma experiência incrível. Espero que a primeira de muitas”, diz a jogadora.