Dia Internacional da Mulher: COB prioriza inclusão e atinge marca de 55% de funcionárias mulheres
Com gerentes, diretoras e executivas, o Comitê Olímpico do Brasil se destaca pelo protagonismo feminino em um ambiente historicamente machista
A 137 dias dos Jogos Olímpicos de Tóquio e no Dia Internacional da Mulher, o esporte olímpico brasileiro apresenta números que demonstram o crescimento da influência feminina dentro e fora dos ginásios e arenas. No âmbito esportivo, elas romperam barreiras e conquistaram espaço em diversas modalidades, atingindo um aumento gradual no número de atletas nas delegações em Jogos Olímpicos. Nos cargos administrativos, as dificuldades foram ainda maiores, tendo em vista que o COI (Comitê Olímpico Internacional) só admitiu-as nos cargos de gerência do Movimento Olímpico no ano de 1981.
A evolução é aparente. Em 1998, o COI estabeleceu a meta de 20% de mulheres em postos de comando para o ano de 2005. Em território brasileiro, atualmente, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) possui uma equipe de colaboradores majoritariamente feminina, representando 55% no quadro geral de funcionários.
Foram muitas adversidades enfrentadas na história do esporte, e o fato do COB ter mais mulheres do que homens é um marco no combate à desigualdade. Dos 12 gerentes e executivos do COB, sete são mulheres. Nas lideranças, o cargo de Diretora Financeira e Diretora de Comunicação e Marketing são ocupados por Isabele Duran e Manoela Penna, respectivamente.
Sobre o atual cenário olímpico, Manoela citou a importância da busca por igualdade nas decisões da instituição. “É muito importante termos a presença feminina nas mais diversas áreas e escalões da nossa instituição, é uma diretriz prioritária dentro do COB e a tendência é torná-lo, progressivamente, um comitê mais justo e igualitário. Além da questão administrativa, o desempenho esportivo das atletas Brasileiras tem sido excelente. A cada competição disputada isso se torna mais evidente” contou, lembrando que nos Jogos Olímpicos de 2016, 209 atletas mulheres estiveram presentes, batendo o recorde de presença de brasileiras no maior evento esportivo mundial.
Ações inclusivas, com o objetivo de aumentar a representatividade feminina no esporte olímpico brasileiro, têm sido feitas com frequência pelo COB. O comitê foi finalista no prêmio “Mulheres e o Esporte (Women and Sport)” na edição de 2020, em homenagem realizada pelo COI. O evento tem a finalidade de condecorar organizações e indivíduos que realizaram contribuições, por meio de ações de empoderamente feminino, para o desenvolvimento, incentivo e apoio da participação de mulheres e meninas no esporte.
No ano passado, a entidade disponibilizou, por meio do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), um curso gratuito com o tema Prevenção e Enfrentamento do Assédio e Abuso no Esporte. O projeto foi oferecido em duas versões, adulto, voltado para atletas, treinadores, membros de uma organização esportiva e todos os agentes envolvidos no esporte olímpico; e para jovens, atletas de 12 a 17 anos.
História dos Jogos Olímpicos e as conquistas femininas
Os Jogos Olímpicos da Era Moderna se iniciaram em 1896, em Atenas, na Grécia, com 245 atletas de 14 países, todos homens. Os registros apresentam a participação feminina apenas a partir de 1900, todavia, apenas em 1936 elas foram incluídas oficialmente como atletas olímpicas e passaram a receber medalhas. Nos Jogos de Atenas, em 2004, pela primeira vez foi visto um número próximo à igualdade entre os atletas olímpicos: 40,7% dos participantes do gênero feminino. Na delegação brasileira, o número chegou a quase 50%, comprovando a evolução e o crescimento da presença feminina no esporte.
A primeira atleta brasileira a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos foi Maria Lenk, que competiu nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, se tornando a primeira sul-americana a participar de uma edição. Aos 17 anos, ela competiu pela natação e disputou três provas: 100m livre, 100m costas e 200m peito.
Analisando o contexto político nacional, as atletas enfrentaram obstáculos que tornam o prestígio feminino nos Jogos Olímpicos digno de comemoração. Após os Jogos de 1936, em que a equipe nacional contou com quatro mulheres na delegação, o país enfrentou um momento político delicado, de proibições e movimentos segregatórios no esporte feminino brasileiro.
Dessa maneira, nos Jogos de Tóquio, em 1964, houve um retrocesso na delegação nacional, e só uma mulher representou o Brasil: Aida dos Santos. A atleta viajou sem técnico, tênis e uniforme, mas, mesmo assim, conseguiu o 4º lugar no salto em altura, atingindo o melhor resultado no esporte olímpico feminino brasileiro. Tal marca só foi superada anos depois, quando Jacqueline e Sandra conquistaram medalhas de ouro, e Mônica Rodrigues e Adriana Samuel ficaram com a prata no vôlei de praia, em 1996, em Atlanta. Dois ciclos olímpicos depois, em 2008, na cidade de Pequim, a judoca Ketleyn Quadros conquistou a primeira medalha individual feminina para o país, ficando com o bronze. Poucos dias depois, Maurren Maggi, no salto em distância, levou a primeira medalha de ouro olímpica individual das mulheres.
A reivindicação por igualdade e conscientização acerca do papel de protagonista desempenhado por mulheres na sociedade industrializada do final do século XIX e ao decorrer do século XX era também refletida no esporte.
Nos Jogos de 1996, 68 atletas mulheres representaram o Brasil. Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, 20 anos depois, houve um crescimento de 307%, com a classificação recorde de 209 brasileiras. Neste mesmo período de duas décadas, foram conquistadas sete medalhas de ouro, sete de prata e 14 medalhas de bronze por elas. Dos 13 bicampeões olímpicos pelo Brasil, seis são mulheres: Paula Pequeno, Jaqueline, Fabi, Thaisa, Sheilla e Fabiana, todas do vôlei.
Para Tóquio 2020, adiada em um ano pela Pandemia do Covid-19 e confirmada para o dia 23 de julho de 2021, a delegação brasileira já possui 181 atletas classificados. A lista qualificatória segue aberta e as vagas serão preenchidas nos próximos meses. A tendência é que, assim como nas edições anteriores, a quantidade de atletas do masculino e do feminino seja equivalente.