Jogos Escolares da Juventude trazem cidadania e inclusão social para Blumenau
Deficientes participam de competições e trabalham no evento que reuniu cinco mil atletas no país
Maior competição de base do país, os
Jogos Escolares da Juventude não revelam apenas talentos do esporte escolar, promovendo também a cidadania e a inclusão social. O convívio entre atletas, voluntários e colaboradores foi um exemplo de que o esporte e a superação precisam caminhar sempre juntos. No judô e no wrestling, jovens ultrapassaram seus limites para realizar o sonho de representar seu estado na
etapa nacional, enquanto no Centro de Convivência, na Vila
Germânica, voluntários vestiram a camisa da igualdade e
interagiram com os mais diversos públicos.
Wilson Gabriel Santos Soares, 13
anos, tenta esquecer o som agudo do apito do juiz, o barulho que vem da torcida
e o ruído dos sapatos arrastando sobre o tatame toda vez que
inicia o combate de wrestling. “Penso que estou em mais um treino, com o meu técnicos e os colegas de equipe”, revela o atleta, diagnosticado com
autismo leve e deficiência intelectual.
A estratégia para acalmá-lo funcionou, e
Wilson recebeu três medalhas: uma prata no estilo greco-romano, um bronze no livre e outro bronze na competição por equipes. A deficiência não o
impediu de praticar a modalidade com outros garotos da mesma idade.
“Vi o projeto de esportes em
Barretos e disse 'vou ver se consigo me encaixar'. Tentei o boxe e o muay thai, mas
não foi. Aí tentei a luta olímpica e deu certo, tanto
que o professor me chamou para treinar de noite. A partir daí, comecei a
participar de competições”.
Outros dois adolescentes com
deficiência disputaram normalmente os Jogos Escolares da Juventude. Vinicius
Andrade Leão, 16, competiu na categoria até 66kg do judô. Natural de
Belém (PA), o rapaz que nasceu com má formação de um braço, conheceu o
esporte em um projeto social, aos sete anos. Em pouco tempo, já tinha pego o gosto
pelo esporte. Em sua segunda participação no evento, Vinícius foi eliminado na primeira
fase da disputa, mas não desistiu. Vai tentar brigar por uma medalha no ano que
vem, quer disputar outras competições nacionais e sonha um dia representar a
camisa verde-amarela.
“Em momento algum pensei que
conseguiria competir apenas em modalidades paralímpicas. Sempre pensei
positivamente, acho que a competição é aberta. Meu plano é treinar
cada vez mais para trazer uma medalha dourada para casa”.
O técnico da seleção paraense de judô,
José Augusto Barreto, explica que Vinícius usa a má formação que tem no braço
como uma estratégia contra os adversários. E ressalta que a condição
física do adolescente o motiva ainda mais nos treinos.
Rômulo Silva Crispim, 17, tem
deficiência auditiva e também competiu no judô (até 60 kg). O atleta
passou por dificuldades no início de prática esportiva, mas depois aprendeu algumas técnicas para melhorar o desempenho, como observar o juiz com
frequência para identificar o matê (momento em que a
disputa é pausada) e entender as instruções repassadas pelo
treinador. O atleta de Rondônia venceu a primeira luta,
mas acabou eliminado na segunda fase. Agora, pretende continuar treinando
para tentar uma vaga no Mundial de Judô, em 2020.
“O Rômulo se especializou no esporte e
atualmente consegue ser competitivo tanto nas disputas olímpicas quanto
paralímpicas, categoria pela qual disputará um campeonato na França. Ele tem
todos os demais sentidos muito mais aguçados por conta da deficiência auditiva.
A participação dele é muito importante e vão aparecer muitos mais atletas. Na
realidade, eles são pioneiros e tiveram coragem de fazer. Serão inspiração para
outras pessoas", explica o
treinador da delegação de Rondônia, Eugênio Coutinho.
Para que a entrevista com Rômulo fosse
realizada, a reportagem contou com o domínio em leitura labial e Libras de
Bruno Cardoso de Menezes, 33. Colaborador do COB há quase um ano, Bruno é surdo e trabalha como
assistente na área de Gestão de Esportes. Ele participa pela primeira vez dos Jogos
Escolares da Juventude, assessorando à equipe da Secretaria e, em momentos
como este, como tradutor de Libras do evento.
“A inclusão é papel de todos nós. Esses atletas
deram um grande exemplo nestes Jogos e estão aqui porque venceram as seletivas
estaduais e conquistaram o direito de representarem seus estados. Que as
confederações acolham os atletas com deficiência, independentemente de qual
seja.”, diz Kenji Saito, Gerente Executivo de Desenvolvimento Esportivo do
COB.
Além dos atletas, três voluntários com deficiência participaram do evento no Centro de Convivência. Dayane Paes Muniz, amputada após um acidente de moto; Maike Sommerfeld Tarnowski, paraplégica devido a um acidente de carro; e Alex Sandro Pereira, que teve cifoescoliose congênita quando nasceu e é atleta paralímpico de tênis de mesa. O trio cuidou das clínicas esportivas de basquete 3X3, tênis de mesa e surfe.