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Isaquias Queiroz é prata na canoagem velocidade e chega a cinco medalhas olímpicas

Canoísta brasileiro dá arrancada espetacular no fim e segue no pódio olímpico depois de medalhas na Rio 2016 e Tóquio 2020

Por Comitê Olímpico do Brasil

9 de ago, 2024 às 08:55 | 3 minutos de leitura

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Isaquias Queiroz é medalha de prata no C1 1000m em Paris 2024. Alexandre Loureiro/COB

Isaquias Queiroz é medalha de prata no C1 1000m em Paris 2024. Alexandre Loureiro/COB

Depois da disputa do C2 500m, Isaquias Queiroz prometeu levantar a cabeça e representar bem, em sua última prova nessa edição dos Jogos Olímpicos, todo o time de Lagoa Santa. E ele conseguiu. Com a cabeça em pé, o peito inflado e muita força nos braços, o maior atleta da história da canoagem velocidade do Brasil conquistou a sua quinta medalha olímpica, a prata no C1 1000m em Paris 2024. O brasileiro cruzou a linha de chegada com o tempo de 3:44:33, sendo superado apenas pelo tcheco Martin Fuksa, ouro, com 3:43:16. Serghei Tarnovschi, da Moldávia, fechou o pódio (3:44:68).

Isaquias se coloca assim ao lado de Robert Scheidt e Torben Grael na segunda colocação na lista de atletas brasileiros com mais medalhas olímpicas, com cinco. Eles estão atrás apenas de Rebeca Andrade que, com as quatro conquistadas nessa edição de Jogos Olímpicos, chegou a seis láureas. Além da prata em Paris, Isaquias tem ouro no C1 1000m em Tóquio 2020, prata no C1 1000m e no C2 500m na Rio 2016 e bronze no C1 200m também nos Jogos do Brasil. O sonho de ultrapassar os dois ídolos da Vela na lista ainda está de pé.

"No finalzinho da prova eu lembrei que meu filho pediu a medalha de ouro. A de ouro não deu, mas fico feliz de poder subir ao pódio e agora vou entregar essa medalha para ele. Esse é o meu presente para todo mundo do Brasil. Muito obrigado por acreditar em mim. Sou muito grato a todos pelo reconhecimento. Hoje o Brasil inteiro sabe o que é a canoagem de velocidade. Temos que mostrar o resultado para quem investe na gente. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem nos ajudado ao longo dos anos. Então tive que sair com a medalha para ajudar o Time Brasil", declarou Isaquias.

Isaquias em ação nos Jogos de ParisIsaquias Queiroz é medalha de prata no C1 1000m em Paris 2024. Alexandre Loureiro/COB

Nesta sexta, 09, ele começou disputando a semifinal. Com o tempo de 3:44:80, avançou para a final com a 3ª colocação geral e em segundo na forte primeira bateria, na qual Catalin Chirila, da Romênia, que quebrou o recorde olímpico nas eliminatórias, chegou em quinto e foi eliminado. Isaquias ficou atrás apenas do alemão Sebastian Brendel e do tcheco Martin Fuksa.

"A sensação é de alívio, felicidade... muita felicidade. Não foi um ano fácil para mim e para minha esposa. 2023 foi um ano diferente e especial, quando eu percebi o que não é ser campeão mundial e super atleta. E sim ser um humano com problemas físicos e psicológicos. Tive que me remontar. Tive que correr muito para ficar em forma. Não é fácil ficar fora de pódios", contou.

Na quinta, Isaquias havia disputado a final do C2 500m ao lado do jovem Jacky Godmann, mas acabou ficando na oitava colocação. A dupla foi quarta colocada em Tóquio e considerava estar ainda mais preparada para a disputa em Paris. A decepção por não ter chegado ao pódio no C2 foi uma motivação a mais para o baiano de Ubaitaba.

"Eu fiquei muito triste de não estar no pódio nas duplas. É um peso que eu tiro das minhas costas agora. Poder chegar em Paris, ser medalhista de prata e porta-bandeira. Lógico que a gente fica triste quando perde. Ver os adversários ganhando. Mas acima de tudo fica o respeito. Temos que aceitar quando perdemos. Não significa que somos ruins, e sim que eles foram melhores. Ganha quem tem a unha maior", concluiu.

Quem é Isaquias Queiroz: perfil, biografia e principais resultados

Isaquias nasceu na “cidade das canoas”, significado em tupi-guarani de Ubaitaba, na Bahia. O local de nascimento já predestinava o que o canoísta viria a conquistar remando em uma canoa, mas não sem antes superar alguns obstáculos.

O menino cresceu numa família humilde, ao lado de nove irmãos. O pai faleceu quando o campeão Olímpico ainda era criança e a mãe, Dona Dilma, sustentava a casa como servente na rodoviária da cidade. 

Com apenas três anos de idade, uma panela de água fervente virou sobre Isaquias, que ficou um mês internado, com queimaduras em diversas partes do corpo. Sem se recuperar a ponto de conseguir alta do hospital, Dona Dilma assinou um termo de responsabilidade, o levou para casa e cuidou dele até a recuperação.

Renato_do_Val_COB_Isaquias_10a3757eec (1).webpIsaquias Queiroz agora tem cinco medalhas olímpicas. Foto: Renato do Val/COB

Aos 10 anos, Isaquias subiu em uma mangueira para ver uma cobra morta, se desequilibrou e caiu de costas em cima de uma pedra. A pancada provocou uma lesão séria no rim, com hemorragia interna, que o levou a uma cirurgia para retirada do órgão. O incidente gerou o apelido de “Sem Rim” ao, agora, cinco vezes medalhista olímpico. Isaquias costuma brincar que "perdeu um rim, mas ganhou um terceiro pulmão".

Pouco tempo depois, a canoagem entrou na vida do garoto. Isaquias começou a participar do projeto Segundo Tempo, que oferecia prática esportiva para crianças e adolescentes de Ubaitaba. O goleiro Isaquias queria o futebol, mas a canoagem velocidade dominou o coração do menino, inspirado por outro filho ilustre da “cidade das canoas”, Jefferson Lacerda, pioneiro da modalidade no Brasil, que competiu em Barcelona 1992, na primeira vez que canoístas brasileiros estiveram nos Jogos.

Em 2011, aos 16 anos, o baiano se mudou ao Rio de Janeiro e passou a competir com as cores do Flamengo. Conquistou um ouro e uma prata no Campeonato Mundial Júnior 2011, realizado na Alemanha. Fora dos Jogos Pan-Americanos Guadalajara 2011 e dos Jogos Olímpicos Londres 2012, aproveitou para fazer história em 2013: um ouro e um bronze no Campeonato Mundial realizado em Duisburg, na Alemanha, as primeiras medalhas do Brasil num Mundial da canoagem velocidade.

Dois anos mais tarde, em 2013, outro passo que mudaria a vida do medalhista olímpico. O treinador espanhol Jesús Morlán passou a comandar a equipe brasileira e se tornou o grande mentor de Isaquias. Ao lado dele, vieram as três medalhas na Rio 2016, um recorde para um atleta brasileiro até então.

Morlán faleceu em 2018, vitimado por um câncer no cérebro, uma perda que abalou Isaquias profundamente por conta da relação construída. Ele pensou em parar, ainda mais depois que a pandemia alongou a preparação visando os Jogos Olímpicos.

Os objetivos mudaram quando Isaquias prometeu à viúva de Morlán que voltaria do Japão com nova medalha. Ao lado de Pinda, auxiliar de Morlán que assumiu a seleção depois do falecimento do espanhol, formou uma parceria campeão rumo ao ouro Olímpico em Tóquio 2020.

Para Paris 2024, o canoísta sentiu que precisava de uma pausa. Deu prioridade à família, sobretudo para acompanhar o nascimento do segundo filho, Luigi. Ao final de 2023, um ano em que não conquistou grandes resultados, a exceção da prata nos Jogos Pan-americanos, já começou a dar sinais de recuperação no ritmo.

Em maio deste ano, o canoísta participou da Copa do Mundo Szeged 2024. Conquistou dois ouros, no C1 500m e no C1 1000m. Em agosto, subiu ao pódio Olímpico novamente, mostrando que o filho da “cidade das canoas” estava predestinado ao sucesso na modalidade.

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