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João Chumbinho: “Toda vontade que eu tinha de ser campeão mundial, transferi para o título olímpico”

Surfista brasileiro se recuperou de grave acidente a tempo de disputar os Jogos Olímpicos e vai em busca da medalha na sua onda preferida

Por Comitê Olímpico do Brasil

24 de jul, 2024 às 08:02 | 5 minutos de leitura

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João “Chumbinho” Chianca em treino no Taiti. Foto: William Lucas/COB

Em apenas dois anos no Circuito Mundial de surfe, o brasileiro João Chianca viveu todas as emoções possíveis. Em 2022, no mesmo ano em que estreou na elite, foi cortado e voltou para a divisão de acesso. No ano seguinte, retornou com tudo e chegou a liderar o circuito. Na etapa do Teahupo´o assegurou a vaga olímpica e se classificou para o Finals, terminando a temporada como quarto colocado do mundo. No fim do ano, quando treinava em Pipeline, no Havaí, um grave acidente interrompeu sua trajetória promissora e colocou em dúvidas o futuro do atleta. Disciplinado e persistente, Chumbinho recuperou-se a tempo de voltar às competições e, acima de tudo, em alta performance. Agora, após quase oito meses do acidente, retorna ao Taiti, seu lugar preferido no mundo, para buscar coroar essa recuperação com uma desejada medalha olímpica.

“Esses Jogos Olímpicos têm um significado muito grande para mim, porque parece que algo foi tirado de mim quando o acidente ocorreu. Eu estava com muita gana de fazer grandes performances como as de 2023. Então, agora é uma oportunidade de ouro, tem um sentimento especial. Eu estava com muita vontade de voltar ao Circuito Mundial e isso foi tirado de mim. Ainda não vou ter a resposta do porquê, mas agora toda vontade que eu tenho de ser campeão mundial eu transferi para o título olímpico”, afirmou.

Foram meses de muito foco, resiliência e fé na recuperação. Ao longo desse tempo, Chumbinho percebeu o despertar de um sentimento até então desconhecido.

“A cada dia que passava, a angústia e a ansiedade de querer voltar, não por causa do Circuito Mundial, mas por causa dos Jogos Olímpicos foi uma coisa muito espontânea que eu nem sabia que estava dentro de mim guardada. Eu consegui concluir cada tarefa, cada ato de disciplina e de determinação, cada treino físico, cada sessão terapêutica, focado nos Jogos Olímpicos. Esse é literalmente o foco principal do meu ano e eu relacionei muito a minha a saúde aos Jogos Olímpicos. Então, se eu estava bem, estava um passo mais perto da sonhada medalha. Eu nem sabia que eu podia me apaixonar por esse evento e me entregar em prol somente dos Jogos Olímpicos”.

A trajetória de superação torna ainda mais simbólica sua presença nos Jogos Olímpicos de 2024. Um outro componente traz ainda mais destaque a essa história de superação:  Sua conexão com o vilarejo de Teahupo´o e a desafiadora onda tubular do local.

 

Chumbinho é conectado com o vilarejo em Teahupo'o.Chumbinho é conectado com o vilarejo em Teahupo'o. FOTO: William Lucas/COB


“Esse lugar surgiu logo depois do meu primeiro corte do circuito mundial. Eu vim para cá me reconectar, me apaixonar pelo surfe de novo. Foi um momento que eu estava desmotivado e esse lugar mudou todas as minhas expectativas e continua fazendo coisas incríveis pra mim”, revelou o surfista brasileiro, que vive intensamente cada momento olímpico em Teahupo´o. 

“É o sonho de todo surfista surfar Teahupo´o. Os Jogos Olímpicos, com todo o seu peso, maior competição esportiva do mundo, representando a nação, uniformizado, tudo em prol da nossa performance, do nosso conforto. Isso é tudo muito especial. A energia de Teahupo´o é muito especial e ter os Jogos Olímpicos aqui é é um sonho. Eu amo essa onda, sou muito fã. Meu amor por esse lugar é o suficiente para eu me sentir em casa”, completou Chumbinho, que contou ainda que a pousada onde o Comitê Olímpico do Brasil (COB) montou a base de apoio do Time Brasil, a Tahurai Homestay, foi o mesmo local onde esteve em 2022 em um dos momentos mais difíceis de sua carreira.

Inteiramente conectado com o local e a experiência olímpica, João tira proveito também da convivência com dois campeões mundiais e ídolos pessoais, Gabriel Medina e Filipe Toledo. Apesar de competirem individualmente, o espírito de equipe está presente no grupo de atletas.  Mais novo entre os surfistas brasileiros nos Jogos Olímpicos, Chianca, de 23 anos, vai se inspirando nas referências.

“Estar ao lado do Gabriel e do Filipe é muito bom. Eles sempre me acolheram muito bem e passaram o melhor da experiência possível. A gente tem uma amizade legal e temos aproveitado bastante essa convivência como equipe aqui. É claro que são momentos tensos, porque a competição é de maneira individual e todo mundo tem a sua bolha, o seu momento de se afastar para não se distrair demais. Mas estou muito feliz de ter a oportunidade de aproveitar junto a eles para deixar as coisas mais leves”, comentou o surfista de Saquarema (RJ).

Integrantes do Time Brasil do surfe nos Jogos Olímpicos Paris 2024.Integrantes do Time Brasil do surfe nos Jogos Olímpicos Paris 2024. FOTO: William Lucas/COB


Não somente pela convivência com os ídolos, mas representar o país nos Jogos Olímpicos é algo valorizado por João. Ainda mais contando com uma estrutura de ponta oferecida pelo COB no Taiti.

“A delegação brasileira está tendo a melhor estrutura durante o evento. Realmente, não vejo nada aqui que eu necessite fora da casa. Tudo que eu preciso está dentro da casa. Meus momentos de descanso, de concentração, eu conto com o conforto e a estrutura. Isso é um sonho realizado. Ter a oportunidade de participar de um evento tão grande, ter essa valorização como atleta”, elogiou Chianca.

Por fim, o atleta refletiu sobre tudo que passou nos últimos meses, com um sentimento de agradecimento pelas oportunidades que vida lhe apresenta.

“Eu realmente tive uma segunda chance. Foi um acidente muito sério que me desabilitou para muitas coisas. Tive que ter muita determinação e fé para vencer isso tudo. Foram momentos também de muitas dúvidas. Eu sabia que ia sair dessa, que ia me recuperar e voltar a surfar. Mas a tempo dos Jogos Olímpicos? A tempo de estar apto à alta performance de novo e surfar uma onda tão séria como Teahupo´o? Então, são momentos que acabam se tornando divisores de águas e falando para você o atleta que você é. E eu tenho orgulho atleta que sou hoje, da pessoa que sou hoje fora d´água e da perspectiva que tenho de olhar as coisas. Se tem algum teste de disciplina e determinação, eu passei em todos. Fora isso, não acho que mereço mais que outros atletas. Todo mundo se dedicou por essa sonhada vaga olímpica e todos têm suas estratégias, o que deixa o leque super aberto de quem serão os medalhistas olímpicos. Acredito que eu tenho sim uma história bem bacana e eu passei por um momento muito delicado, em que testei todo meu comprometimento. Hoje em dia me sinto saudável, tenho uma vida maravilhosa, pessoas maravilhosas ao meu lado e uma equipe que me ajudou a trabalhar muito em alta performance para eu chegar nesse momento”, finalizou.

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