Vibrante, pivô do Acre encontra no basquete o seu rumo
No espectro autista, Márcio Dávila se dedica nos treinos para ajudar seu time em meio a gritos que incendeiam a quadra

Washington Alves/COB
Todo jogo do Acre, o técnico Maycon Lima tem o mesmo cuidado antes de a bola subir. “Eu converso com os árbitros e falo sobre o Márcio, nosso pivô. Porque ele é muito vibrante, explosivo e, para alguns, os seus gritos podem parecer provocação. Mas não é o caso”, explica. Aconteceu de novo na estreia dos Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025.
O motivo do zelo é porque o jogador de 16 anos está no espectro autista. De fato, seus gritos, ao mesmo tempo em que ajudam a incentivar seu time a tirar diferenças de 9 pontos, pode parecer um pouco exagerados para o adversário. Tranquilo fora de quadra, Márcio Dávila, 16 anos, conta de onde vem o comportamento. “Eu sou muito raçudo. Grito para me concentrar. Quando eu jogo basquete, eu esqueço das coisas de fora. Eu grito porque eu quero muito aquilo ali”, explica.
O amor pela modalidade começou aos 11 anos, quando ele se interessou pelo basquete no colégio – que desde a época já tinha Maycon Lima como professor e treinador. “No começo, todo mundo ria de mim. Eu não conseguia fazer arremessos, errava bandejas. ‘Marcio, não desiste, treina que você vai conseguir’, foi o que o Maycon sempre me disse”, relembra.
A derrota de 55 a 22 para o Piauí entristeceu, mas Marcio só olha para frente. “Eu só quero ajudar meu time e tentar ganhar o próximo jogo. É o último ano em que posso disputar os Jogos da Juventude e estou adorando, conhecendo novos amigos”, diz.
Orgulhoso, o treinador observava atento ao bate-papo. “Acho que é a primeira vez que ele dá uma entrevista. Tive até receio, queria ver como ele ia fazer isso. E realmente, o Márcio é uma pessoa muito especial, muito alegre, se entrega demais no jogo, dedicado”, elogia o comandante.
Morador do bairro Cadeia Velha, em Rio Branco, Márcio diz que encontrou no esporte um rumo, um norte. “Minha família é carente, mas o basquete me deu uma vida nova. Então eu quero treinar e dar o meu melhor. Eu quero vencer na vida. Porque eu não posso desacreditar do meu potencial”, reflete. Se não desistiu quando não conseguia arremessar, não há de ser agora.