Ginecologia deixa de ser assunto proibido no esporte e se torna diferencial para o sucesso das atletas brasileiras
Com acompanhamento ginecológico de profissional especializada na área esportiva, COB desenvolve trabalho voltado à saúde e à performance das atletas
“Ela deve estar naqueles dias”, “não quero ninguém menstruada no meu time” e “você está o tempo todo de TPM”. Há alguns anos, era comum ouvir estas frases sendo ditas a atletas de alto rendimento. Mas foi-se o tempo em que a ginecologia era um tabu no esporte. Atualmente, este campo da medicina começou a ser encarado de outra forma por treinadores e comissões técnicas, tornando-se um diferencial no trabalho desenvolvido por equipes multidisciplinares de atletas e seleções.
Alterações hormonais, nutricionais e até mesmo de humor, agora não são discutidas apenas entre os profissionais como também são monitoradas por ginecologistas do esporte. No Comitê Olímpico do Brasil (COB), este trabalho é conduzido pela doutora Tathiana Parmigiano, que explica a sua atuação junto às atletas:
“Não deixo de colher o preventivo e pedir os exames de rotina dela, mas vamos além disso. Vamos no que pode ser melhorado em relação ao esporte e à performance. E, às vezes, isso não é visto em uma consulta convencional”, diz Tathiana, que faz atendimentos presenciais e online a atletas de mais de vinte modalidades.
“Hoje elas têm alguém para falar de assuntos que muitas vezes não eram abordados, como cólicas e contraceptivos. Temos uma influência do ciclo menstrual em relação ao calendário de treinos e competições. A partir do que elas trazem de informações para mim, tento fazer com que as influências negativas sejam cada vez menores. Elaboramos um plano e isso pode ser transmitido ao treinador, que passa a ter uma resposta e a entender quando sua atleta não está performando da forma que ele esperava”, complementa.
Esta troca de informações entre atleta, treinador e ginecologista é uma das razões do sucesso da nadadora Gabrielle Roncatto, de 22 anos, que se consulta com Tathiana Parmigiano há 11 e treina desde o ano passado com Fernando Possenti, no Rio de Janeiro.
“O Fernando é uma ‘abelhinha’, acaba sabendo de tudo. E isso é extremamente necessário, porque ele está na linha de frente. É lógico que existem informações que ficam só comigo e com a Tathi, mas levamos ao Fernando tudo que achamos relevante”, conta Gabi, que destaca ainda a importância do acompanhamento ginecológico:
“Esse trabalho é fundamental, porque a mulher oscila muito. Você está de um jeito no período pré-menstrual, depois fica completamente de outro, principalmente na piscina. A Tathi me fez ver isso desde a primeira consulta e passamos a trabalhar em cima dessa questão”.
No caso de Duda Lisboa, do vôlei de praia, a estratégia adotada com a ginecologista para se sentir mais à vontade em quadra foi mudando ao longo dos anos. Num primeiro momento, ela preferia jogar no período pré-menstrual e, depois, decidiu seguir outro caminho.
“Como sou nova, meus hormônios vão se alterando, e vou me adaptando junto com eles. Fui entendendo o meu corpo, me conhecendo. Hoje não gosto de jogar ‘naqueles dias’. Comecei a ficar muito pesada quando ia jogar, e o anticoncepcional ajudou a regular os hormônios. Agora eu jogo mais leve, tranquila, sem estar preocupada com isso”, revela Duda.
Com a presença cada vez mais expressiva de atletas mulheres no Time Brasil, a tendência é que a ginecologia no esporte siga ganhando relevância nos próximos anos. Mas, apesar do alto rendimento exigir mudanças rápidas das jogadoras, é preciso respeitar o tempo delas.
“Quando falamos de ciclo menstrual, tem coisas que parecem verdades absolutas. Por mais que os trabalhos tenham uma única resposta, todo esse processo é individual. Às vezes, as meninas perguntam qual é a melhor fase do ciclo, e digo a elas que se observem, se conheçam mais, para podermos trabalhar melhor. Elas precisam de tempo para entender isso”, finaliza Tathiana.
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