Trabalha e confia: Filha de refugiados garante título do Espírito Santo por equipes no wrestling dos Jogos da Juventude
Victoria Arvelo nasceu em Caracas, passou pelo Amazonas, antes de chegar à cidade de Serra, onde é treinada pelo pai; lema da bandeira é inspiração para lutadora de 14 anos
As disputas por equipes no wrestling agitaram o Espaço Esmeralda,
no Centro de Convenções Taiwan. As duas finais, tanto no masculino, quanto no
feminino, foram decididas na última luta. Entre as mulheres, coube a Victoria Arvelo,
representando o Espírito Santo, vencer Vitoria Vieira, do Rio de Janeiro, e
decretar a vitória do estado que tem “Trabalha e Confia” inscrito na bandeira
azul, branca e rosa.
O lema pode muito bem sintetizar a vida da jovem lutadora de 14 anos, que nasceu
em Caracas, viveu por cinco em Atalaia do Norte, no Amazonas, antes de chegar à
cidade de Serra há cerca de quatro meses. Desde o começo na modalidade, aos 9
anos de idade, é treinada pelo pai Luis Alberto Arvelo.
“Eu comecei só para brincar porque eu morava no Amazonas. Mas aí comecei a
evoluir, evoluir, até chegar aqui (nos Jogos da Juventude) hoje. Tenho muito a
agradecer ao meu pai, que foi meu primeiro treinador, à luta e ao Brasil por
tudo que tem acontecido”, contou Victoria, que fugiu da capital Venezuela ao
lado dos pais. Agora trabalhando para modalidade, numa parceria com a Federação
do Espírito-Santense de Lutas Associadas para desenvolver a modalidade no
estado, deram entrada ao processo de naturalização.
Victoria ficou com a prata no individual, perdendo a luta no último minuto para
Juliana Silva, do Amazonas. A talentosa lutadora avaliou como positiva sua primeira
participação nos Jogos da Juventude.
“No individual considero que meu desempenho foi muito bom porque é meu primeiro
ano nos Jogos da Juventude. Fiquei muito orgulhosa de mim mesma, já que enfrentei
as meninas mais velhas e saí no lucro”, contou.
A delegação feminina do Espírito Santo teve um grande desempenho também com outras atletas, já que Joice Barbosa (até 43kg) foi campeã e Isabela Oliveira (até 65kg) ficou com o bronze.
A derrota no individual, deu mais inspiração para a jovem que, mesmo pressionada, conseguiu dominar a quarta e decisiva luta contra o Rio de Janeiro e garantir o ouro por equipes.
“Senti muita pressão (de ter que decidir a final por equipes) porque o time todo dependia de mim e um vacilo meu era a derrota. Mantive o foco até o último segundo, dei tudo de mim. Mas o individual é só a gente, cada um por si. Já por equipes você pode contar com suas colegas e elas contam com você, é maravilhoso”, analisou a jovem, que tem companheiras de outras cidades do Espírito Santo como Cariacica e Guarapari.
Trabalhando e confiando, Victoria vai conseguindo os resultados que almeja e, claro, contando com a união da família, para quem ofereceu a importante conquista desta segunda-feira. “Dedico essa medalha para o meu pai, meu professor desde o começo, para minha mãe e para Deus, porque sem ele eu não estaria aqui”.
Título no masculino fica com o Rio de Janeiro
Equipe do Rio ergue Lenny William Viana, o herói do dia
Já no masculino, a vitória ficou com o Rio de Janeiro, que superou São Paulo por 3 a 1 na decisão. O ponto decisivo foi marcado por Lenny William Viana (até 48kg), que conseguiu uma virada espetacular para fechar a luta com um touche (ato de dominar o adversário com as costas encostadas no solo, movimento que encerra a luta).“Foquei no treino, parei e pensei: não vou deixar entrarem na minha cabeça e vou dar o meu melhor. Depois de tomar uma pontuação, falei: agora que estou perdendo, vou ter que arriscar. Entrei para cima dele, arrisquei, derrubei e consegui ‘touchar’”, analisou.
O garoto conta que não sentiu o peso de ter que definir o confronto porque sentiu o apoio de todos da equipe.
“Foi muito bom ter a responsabilidade (de encerrar a luta). Senti que os meus colegas e meu professor confiavam em mim e fico muito feliz com isso. Na hora que eu ganhei, dei um grito em cima do menino e tomei um cartão amarelo. Antes de entrar, eles (de São Paulo) sempre entram fazendo umas brincadeiras, aí eu tive que dar esse grito pra extravasar”, contou Lenny, que pratica wrestling e jiu-jitsu no Projeto Rio Sparta, na comunidade Tabajaras, na zona sul do Rio de Janeiro, desde os quatro anos de idade.