Trocando o quimono pelo terno: os aprendizados do esporte no mundo corporativo
Artigo de Rogério Sampaio, diretor geral do Comitê Olímpico do Brasil
Certo dia li um artigo que falava sobre o motivo de ex-atletas mulheres se tornarem excelentes executivas. As razões listadas são diversas: confiança, paixão, foco, liderança, resiliência. Não me surpreendi com essa constatação na ocasião e agora, bem depois de ter deixado o quimono no armário, chego ao cargo de diretor geral do Comitê Olímpico do Brasil trazendo comigo todo o aprendizado da vida nos tatames. E que aprendizado!
Se o atleta se motiva com os desafios diários; se ele traça os objetivos estabelecendo metas claras a serem conquistadas; se há palavras como superação e humildade no dia a dia do esportista... tudo isso é perfeitamente aplicável no âmbito corporativo.
Sempre fui um atleta disposto a aprender com todos os meus adversários e parceiros de treino, sejam eles mais jovens e inexperientes do que eu ou não. Quando me vejo hoje no COB discutindo os temas mais variados diariamente, aprendendo com pessoas muito mais especializadas do que eu em determinadas áreas, me transporto para aquela época. Ao pisar no tatame, sempre estive pronto para observar e ouvir, para corrigir meus erros e seguir em busca da evolução constante.
Outro importante aprendizado que trago da vida esportiva é o equilíbrio mental, tão crucial na rotina de um executivo. É preciso de calma para enxergar a solução, para tomar decisões diante de algo imprevisto ou crítico - para traçar a melhor estratégia. Aquela tranquilidade e visão para dar o golpe perfeito numa final Olímpica que você só tem graças a confiança em si mesmo e na sua equipe.
Equipe, está aí outra palavra fundamental. Ninguém conquista nada sozinho. Como líder, é preciso também saber motivar e engajar todo o time, é importante entender como ser capaz de tirar o melhor de cada um.
Os desafios são diários. De quimono ou de terno, sempre desejei poder fazer algo significativo pelo Movimento Olímpico brasileiro. Se, em 1992, minha luta era em busca da medalha de ouro em Barcelona – que felizmente graças a muito trabalho conquistei – hoje busco contribuir para o esporte fazendo do COB uma entidade mais moderna administrativamente, que seja capaz de economizar na atividade meio para investir na atividade fim: os atletas. Sonho com uma entidade mais aberta, que interaja com a sociedade e orgulhe seus cidadãos.
Rogério Sampaio é campeão olímpico de judô em Barcelona 1992 e diretor geral do Comitê Olímpico do Brasil desde maio de 2018.