Tiro com arco ‘engana’ vento para chegar à 10ª medalha em Assunção
Em dia de ventania e chuva, brasileiros conquistam três pódios na despedida dos Jogos
Um adversário traiçoeiro e invisível atormentou os atletas brasileiros nas finais do tiro com arco. Soprando forte, o vento exigiu sangue frio e ainda mais concentração dos arqueiros nas finais individuais dos Jogos Sul-americanos Assunção 2022.
Mesmo com as intempéries, no entanto, os brasileiros encerraram a participação na competição com quatro medalhas nesta quarta-feira, dia 5, (1 ouro, 2 pratas e 1 bronze).
O tiro com arco é a segunda modalidade que mais medalhas conquistou até agora para o Time Brasil, atrás apenas da natação: 10 pódios (3 ouros, 6 pratas e 1 bronze).
O dia amanheceu nublado em Assunção. A previsão de chuva forte e raios já havia deixado todos de sobreaviso na noite anterior.
Quando chegaram ao Centro Nacional de Tiro com arco, os atletas brasileiros se depararam com um céu repleto de nuvens carregadas e muito vento.
Ainda durante o aquecimento, a chuva começou a cair. Guarda-chuvas foram abertos. Quando não estavam atirando suas flechas, os atletas buscavam abrigo e tentavam não ficar encharcados.
A chuva apertou quando Ana Luiza Caetano entrou em ação para conquistar seu bronze no arco recurvo e atravessou a disputa do ouro, vencida por Ane Marcelle Gomes.
Cada uma delas usou estratégias diferentes para driblar a ventania que tomava conta do campo.
“Consegui me manter atenta o tempo todo, lendo o campo, tentando prever o que o vento ia fazer, tirando entre uma rajada e outra e me comunicando com meu técnico sobre isso. E se o vento batia mais uma um lado, eu atirada mais para o outro”, contou a atleta, que derrotou a colombiana Ana Maria Martinez por 6 a 0.
No tiro com arco, o alvo central, de cor amarela, tem o tamanho aproximado de um CD. Quem acerta aquela área soma 10 pontos.Quanto mais longe do centro, menos pontos são marcados. A flecha mede cerca de 78 cm e pode atingir até 220 km/h.
A distância entre o atirador e o alvo é de 70m (50m na prova do arco composto), e a flecha sofre influências do vento e da chuva neste caminho.
Para acertar o centro do alvo, o atleta precisa calcular essa interferência e mirar nas áreas que valem menos pontos para que o vento carregue a flecha até o centro.
Ane, medalhista de ouro, não precisou compensar tanto a mira. Ela utiliza um arco mais pesado (o peso é determinado pela tensão da corda e diz o tamanho da força que o atleta precisa fazer). O arco de Ane tem 50 libras, que significa que ela tem de puxar o equivalente a cerca de 23 kg com os dedos para mover a corda para atirar.
“Por ter mais libras, não preciso mirar tão fora. Aqui eu mirei no amarelo mesmo. Quando tinha menos libras, eu precisava mirar no azul (penúltimo anel do alvo) para acertar no amarelo”, afirmou a brasileira, que derrotou a colombiana Valentina Perez por 7 a 1.
Masculino
Na disputa masculina do arco recurvo, Matheus Quintanilha e Marcus Vinícius D’Almeida tiveram mais dificuldade e perderam suas disputas. Matheus terminou em quarto, e Marcus foi prata.
“Com o vento eu não encaixei. Tomei mais rajadas de vento. Às vezes é sorte, faz parte. Todo mundo sabe da minha qualidade, eu sei da minha qualidade”, afirmou o único medalhista brasileiro do tiro com arco em Mundiais.
“Mas fiquei chateado com a atuação da torcida, que torceu pelos meus erros. Pensei que fossemos um continente unido. A gente tem muito a lutar por espaço, e sou eu quem puxa esse continente”, completou Marcus, que celebrou o desempenho da equipe.
“O ponto positivo da nossa participação foi ter batido o recorde de medalhas com a equipe, que foi muito bem".
Roberval dos Santos completou o dia de conquistas com uma prata no arco composto.