Treinos virtuais encurtam distância, e dupla brasileira brilha no Pan de Ginástica de Trampolim
Parceiras mesmo morando em países diferentes, Camilla Lopes e Alice Gomes levam o ouro no sincronizado e fazem dobradinha no individual
Uma mora em Belo Horizonte. A outra, nos Estados Unidos. Distância suficiente para atrapalhar que duas atletas formem parceria em um esporte com movimentos sincronizados. Não para a Alice Gomes e Camilla Lopes, que driblaram esse obstáculo para se tornar a principal dupla da ginástica de trampolim do Brasil.
Nesta terça-feira, 28, mais uma vez elas se destacaram e foram os grandes nomes do Pan-americano da modalidade, no Rio de Janeiro, conquistando a medalha de ouro na categoria sincronizado. Já no trampolim individual, Camilla foi a campeã, enquanto Alice ficou em segundo lugar.
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Mas como é possível vencer em dupla sem realizar os treinamentos juntas? As duas encontraram na tecnologia a solução para seguirem brilhando com a parceria, que vem desde 2018 e já rendeu muitas conquistas ao Brasil.
"Se estivéssemos treinando juntas, teríamos mais resultados do que estamos trazendo. Desde 2018, quando fomos para a final do Mundial, todo mundo viu que temos potencial para estar entre as melhores. Eu fico no Estados Unidos, ela fica em Minas. A gente conversa pelo WhatsApp, eu faço a série e mando pra ela, ela faz a dela e manda pra mim, a gente marca o tempo, pra ver se conseguimos fazer no mesmo tempo. Mas não se compara a treinar junto, isso acontece quando chegamos nas competições. Somos muito parecidas saltando, o ajuste fica mais fácil", explicou Camilla.
"A gente vai tirando o tempo do jeito que dá, desde 2018 está dando certo, estamos evoluindo cada vez mais. Sempre que conseguimos competir e treinar juntas, a gente tenta fazer com dificuldade para melhorar", falou Camilla.
Os ótimos resultados no Pan-americano do Rio de Janeiro tiveram significados especiais para cada uma delas, mas com algo em comum: o sentimento de superação, já que Alice passou por cirurgia no joelho em janeiro, e Camilla teve dificuldades para aceitar a perda da vaga olímpica para Tóquio.
"Até me emociono de falar, só quem é atleta sabe o processo e o quanto é difícil parar e ter que fazer cirurgia. Tentei manter sempre a minha mente muito forte para conseguir chegar aqui e conquistar de novo esse título. É muito importante pra mim, adoro competir em casa, a energia do Brasil é surreal, sabemos o quanto o brasileiro é caloroso. Estou muito feliz", contou Alice.
"Ano passado eu estava dentro dos Jogos Olímpicos até o fim, caí no último salto, fui pra 17º lugar e são 16 que se classificam. Foi muito difícil para mim, fiquei com a cabeça bem ruim por ter pedido a vaga, seria a primeira mulher brasileira a competir no trampolim, fiquei mal por isso. Sei que tenho potencial pra estar entre as oito do mundo. Está sendo muito importante voltar a confiar em mim e saber que estou pronta. Paris está aí, com certeza dá pra brigar pela vaga olímpica", disse Camilla.
Como ambas competem no sincronizado e no trampolim individual, é comum as duas se apresentarem juntas em uma modalidade e depois serem adversárias na outra. E isso é um fator que elas tentam levar como positivo dentro dos torneios.
"A gente começou em 2018 no Mundial, mesmo sem treinar juntas já pegamos uma final, e fomos nos unindo cada vez mais. Tem que ter relação boa de amizade. Tem a competitividade, mas queremos ir bem para nós, nunca é contra a outra. A competição é comigo mesma. Uma torce pela outra e estamos representando o Brasil, estamos competindo pelo país", falou Camilla.
"Sempre fomos tranquilas uma com a outra, isso é algo sadio, eu quero ganhar dela e ela de mim. Fazemos isso ser uma coisa positiva, não é algo que vai nos atrapalhar. Competição é isso, um dia ela ganha, no outro ganho eu, o que queremos mesmo é seguir ganhando (risos). A Camilla sempre foi uma referência e continua sendo, ela é um exemplo de atleta e pessoa", completou Alice.