Classificada para Tóquio 2020, Lais Nunes se inspira na amiga e mentora Kamila Barbosa: “É uma honra lutar ao lado dela”
Nascida no estado de Goiás, dupla se conhece desde 2006 e atualmente coleciona medalhas pela seleção brasileira
Qual é o segredo para
achar, lapidar e fazer com que uma criança chegue ao mais alto nível do esporte
num país? É certo que não existe fórmula, mas um bom professor é fundamental.
Um aluno que desafie o professor quando mostra talento também é importante. E
foi assim que o interior de Goiás colocou duas atletas na seleção brasileira de
wrestling: Lais Nunes, de Barro Alto, e Kamila Barbosa, de Goianésia. Mais do
que isso, Lais, nascida na cidade de menos de 20 mil habitantes na região do
Vale do São Patrício, está classificada para Tóquio 2020. Esta será sua segunda
participação em Jogos Olímpicos.
“Quando penso em Tóquio, vem uma alegria e uma gratidão a Deus muito grande. Sei
que estou muito mais preparada do que há quatro anos, no Rio. Estou cada vez
mais próxima de uma medalha olímpica, da realização de um sonho”, diz Lais, que
compete na categoria até 62kg.
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Quando pequena, a lutadora tinha uma típica vida de cidade do interior: comia
pamonha, seu prato predileto, e conversava com os amigos na praça. Vivia
tranquila, mas sem muitas perspectivas para o futuro. Até que aos 12 anos
resolveu entrar em um projeto social esportivo, voltado inicialmente ao judô,
mas que, devido aos gastos elevados, passou a oferecer aulas de luta olímpica. Começava
ali, em 2006, uma relação que levaria duas jovens à seleção brasileira: Lais e
Kamila.
“Queria gastar energia, e acreditava que o esporte poderia ser uma oportunidade
de uma vida melhor para mim e minha família”, explica Lais. “Durante um tempo,
tive que deixar o esporte para trabalhar. Morava com o meu pai e a minha irmã, precisava
ajudar em casa. Quando voltei a treinar, disputei um primeiro campeonato no Rio
de Janeiro e fui campeã, o que me fez acreditar que poderia ir muito mais
longe”, completa.
“A Lais, quando começou no projeto social, era uma menininha muito espevitada
(risos). Já se notava que era diferente, porque sempre foi muito forte, explosiva.
Mas, naquela época, com tão poucos recursos e em uma cidadezinha, era difícil imaginar
o que ela alcançaria. Não por sua capacidade, e sim pelas oportunidades”, conta
Kamila (até 50kg). “Quem conhece a realidade dela, o contexto familiar e também
o número de meninas que consegue deixar Barro Alto, sabe que ela é uma heroína”.
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Com muita luta, literalmente, a realidade da dupla foi mudando. Elas deixaram o
interior de Goiás e foram em busca de seus sonhos em São Paulo. No entanto,
bastou chegar à capital paulista para Lais enfrentar um dos momentos mais difíceis
da carreira.
“Saí de casa aos 15 anos e fui morar sozinha em São Paulo. Foram muitos
momentos de solidão e dificuldades financeiras. Era duro até para comer. Ainda
tinha o frio, era tudo duro demais.”
Com força de vontade, Lais deixou todos os problemas para trás e passou a
inspirar até quem a apresentou para a modalidade.
“Ela é um exemplo para mim. Trabalha duro, é determinada e tem um coração
gigantesco. O esporte ensinou muito a ela, que retribui nos ensinando como
fazer esporte”, ressalta a mentora Kamila.
“Ela é minha melhor amiga, estamos juntas há muitos anos. Para mim, é uma honra
vê-la brilhar, porque sei o quanto a Kamila se esforça”, retribui Lais.
Nessa relação de companheirismo e amizade, quem colhe bons resultados é o
esporte brasileiro. Em 2019, Kamila Barbosa foi campeã de beach wrestling na edição
inaugural dos Jogos Mundiais de Praia, em Doha (Qatar). Lais Nunes, por sua
vez, além de se classificar para Tóquio 2020, alcançou uma marca histórica no wrestling:
é a primeira brasileira a se sagrar campeã pan-americana nas categorias cadete,
juvenil e adulta. Ambas são expoentes da modalidade no país, que conta ainda
com outras mulheres inspiradoras.
“Gosto de observar as pessoas que estão ao meu redor, e cada uma das lutadoras
brasileiras, como a Aline Silva, a Joice Silva, a Camila Fama e a própria
Kamila, possui uma característica que admiro e levo comigo. São mulheres
guerreiras que ajudaram a construir a história do wrestling nacional”, conclui Lais.
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